Indiferente às críticas, chefe da organização do Mundial do Catar garante que o país é “tolerante, acolhedor e hospitaleiro”
KARIM JAAFAR
Seja por causa das leis do país ou pelas histórias que têm vindo a público sobre as condições a que os trabalhadores estão sujeitos, várias vozes se levantam para criticar o Catar e a realização do Mundial no país. O chefe da organização mostra-se despreocupado, mas sai em defesa da região
A menos de um ano do Mundial de 2022, os temas na ordem do dia não são a competição, as seleções ou a presença ou não de alguns jogadores em específico. O que está a atrair a atenção de todos são as dúvidas em relação à forma como algumas questões humanitárias são vistas no Catar, sendo a mais recente o facto de a homossexualidade ser proibida por lei no país.
Os últimos dias ficaram marcados por diversas críticas e manifestações de descontentamento por parte de alguns atletas, no futebol e não só. Durante o Grande Prémio do Catar, de Fórmula 1, Lewis Hamilton usou um capacete com as cores do arco-íris, representativo da comunidade LGBTQ+, e com a frase ‘We stand together’ (estamos juntos).
Confrontado com todas estas manifestações contra as políticas do país, Nasser Al Khater, chefe executivo do comité organizador do torneio, considerou, em declarações à ‘CNN Sports’, que o Catar está a ser tratado de uma forma “injusta” desde o momento que foi anunciado como organizador do torneio, altura em que as primeiras críticas surgiram.
“Sabemos que o Campeonato do Mundo traz consigo uma certa dose de escrutínio, já o vimos no passado. Mas se é algo que vai ser catalisador de mudança, estamos todos a seu favor”, garantiu.
Al Khater aproveitou ainda para responder diretamente ao jogador Joshua Cavallo, que, como homossexual, já admitiu que teria medo de jogar a competição no Catar.
“Acolhemo-lo aqui no estado do Catar, acolhemo-lo para vir e ver mesmo antes do Mundial. Ninguém se sente ameaçado aqui, ninguém se sente inseguro. A noção de que as pessoas não se sentem seguras é falsa. Já disse isto antes e volto a dizer, todos são bem-vindos aqui. O Catar é um país tolerante, acolhedor e hospitaleiro”, disse.
Sarah Reed/Getty
Mas o responsável pela organização da competição vai ainda mais longe. Quando confrontado com as leis no Catar, Al Khater não disse que a homossexualidade é ilegal, mas sim que o casamento entre pessoas do mesmo género é. E realçou: “como em vários países”.
“Em diferentes países, há mais condescendência para as demonstrações públicas de afeto. O Catar e a região são muito mais modestos, muito mais conservadores. E é isto que pedimos que os adeptos respeitem. Temos a certeza de que respeitarão, nós respeitamos culturas diferentes e esperamos que as outras culturas respeitem a nossa", afirmou.
Este não é o único problema relacionado com o Mundial do próximo ano. Durante os últimos meses têm surgido histórias de operários contratados para trabalhar na construção dos estádios e hotéis necessários para a competição, que relatam as condições precárias que os trabalhadores - muitos deles migrantes - encontraram.
Num relatório publicado pela International Labour Organization (ILO), contabilizaram-se pelo menos 50 mortes entre os trabalhadores em 2020, ainda assim a organização realça que as lacunas na recolha de dados pelas instituições do país impediram a apresentação de um número final.
Al Khater nega também esta informação, garantindo que “se houvesse uma fatalidade, todos saberiam, não é algo que se possa esconder". Além disso realça a implementação de novas medidas relativas ao trabalho, como a introdução de um salário mínimo de cerca de 243 euros para trabalhadores migrantes e domésticos.
Numa notícia avançada pelo jornal 'The Guardian', diversos trabalhadores afirmaram estar a receber menos de 1,50 euros por hora.
A previsão é de que as críticas continuem a surgir, seja por parte das seleções ou atletas em particular. Mas quanto a isso a organização não está preocupada.
“Estamos preocupados com isso? Não, não diria que estamos”, garantiu Al Khater. “Mas penso que há uma responsabilidade sobre estes jogadores e federações para garantir que quando estão a tomar posições, são precisas e refletem a realidade. Independentemente do que as pessoas sentem como factos, também precisam de reconhecer o progresso, a responsabilidade que o estado do Catar assumiu para progredir, promulgar leis, proteger os direitos dos trabalhadores e o seu bem-estar”.