Futebol internacional

Cristiano Ronaldo, o funcionário público: fundo soberano da Arábia Saudita vai passar a controlar os quatro principais clubes do país

Cristiano Ronaldo, o funcionário público: fundo soberano da Arábia Saudita vai passar a controlar os quatro principais clubes do país
FAYEZ NURELDINE/Getty

O Al Ahli, Al Ittihad, Al Hilal e o Al Nassr, clubes fundadores da Saudi Pro League, serão detidos em 75% pelo PIF, um dos fundos estatais mais poderosos do mundo, que também é dono do Newcastle. A Arábia Saudita quer ter uma das 10 melhores ligas do mundo no futuro e namora Messi, Benzema ou Sergio Ramos, acenando com salários milionários

A chegada de Cristiano Ronaldo à Arábia Saudita nos derradeiros dias de dezembro de 2022 foi apenas o primeiro passo. As declarações do português nos últimos dias, apontando a liga saudita como uma das cinco melhores do mundo nos próximos anos, um marketing que se paga a si próprio. E esta segunda-feira, a oficialização da entrada do estado do Médio Oriente no futebol do seu país, em força e sem rodriguinhos, confirma os planos futuros da Arábia Saudita: não haverá limites para colocar o futebol saudita no centro do mundo.

O Fundo Público de Investimento (PIF), fundo soberano da Arábia Saudita, um dos maiores fundos estatais do mundo, anunciou que vai passar a controlar os quatro principais clubes da Arábia Saudita, Al Ahli, Al Ittihad (de Nuno Espírito Santo), Al Hilal e o Al Nassr de Cristiano Ronaldo, emblemas fundadores da Saudi Pro League. O PIF, que em 2021 comprou 80% do Newcastle, vai deter 75% de cada um dos clubes, com os restantes 25% a irem para as mãos daquilo que o fundo chama de “fundações sem fins lucrativos”.

A entrada oficial do PIF nas entranhas do futebol saudita surge enquadrada no projeto Vision 2030. O nome não engana: além do desenvolvimento do setor do desporto da Arábia Saudita, um dos objetivos do programa é a organização do Mundial de 2030, corrida em que Portugal, com Espanha, Ucrânia e Marrocos, também está. A agência noticiosa da Arábia Saudita diz que na última temporada, a primeira com Cristiano Ronaldo no país, as “assistências aumentaram quase 150%” e que o desejo dos responsáveis árabes é que a sua liga esteja “dentro das dez melhores do mundo”.

Numa declaração oficial, o PIF sublinha que o objetivo do seu investimento nos principais clubes, na prática, uma privatização do futebol saudita, tem paradoxalmente o objetivo de “aumentar a participação do setor privado na contribuição para o desporto saudita”, além de “atrair mais patrocinadores” e criar novas “oportunidades de trabalho” no desporto.

O influxo de dinheiro tornará mais fácil a chegada de grandes nomes ao futebol saudita. Cristiano Ronaldo já lá está, com um salário alegadamente na ordem dos 200 milhões de euros anuais. Lionel Messi terá uma proposta do Al Hilal que dobra os números do internacional português. Karim Benzema está próximo do Al Ittihad, campeão saudita em título. Sergio Busquets, de saída do Barcelona, ou Sergio Ramos, que abandonou o Paris Saint-Germain, poderão seguir também para o próximo Eldorado do futebol mundial.

Acusada de não respeitar os mais básicos direitos humanos, a Arábia Saudita tem usado o desporto para se posicionar a nível mundial, num processo de sportswashing. Além do desejo de organizar o Mundial de futebol em 2030, da compra do Newcastle e de acenar com salários milionários para trazer alguns maiores nomes do futebol para o país, a Arábia Saudita já organiza uma das paragens do Mundial de Fórmula 1 (a Aramco, petrolífera do país, é o principal patrocinador do Mundial e da equipa Aston Martin) e injetou também dinheiro na LIV, nova liga de golfe que já conseguiu contratar algum dos maiores golfistas da atualidade.

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