Futebol internacional

O gelo fino debaixo dos pés de Flick: humilhação com Japão, quatro desaires nos últimos cinco jogos e um Europeu caseiro em menos de um ano

O gelo fino debaixo dos pés de Flick: humilhação com Japão, quatro desaires nos últimos cinco jogos e um Europeu caseiro em menos de um ano
Alex Grimm
A menos de um ano para o Campeonato da Europa, que será organizado pela Alemanha, die mannschaft está no divã a questionar-se. “Consegues sentir que muitos dos nossos jogadores estão numa luta mental com eles próprios”, confessou Gundogan, o capitão


É uma daquelas coisas como os cometas que aparecem de muitos em muitos anos, tantos que o mundo inteiro se esquece que é possível tal acontecer. A seleção alemã está em crise e Hans-Dieter Flick, eleito selecionador depois de ganhar tudo com o Bayern Munique, vai-se agarrando ao lugar perante a pressão do país e do mundo futeboleiro ainda perplexo.

No sábado, em Wolfsburg, die mannschaft foi atropelada por Morita, Mitoma e companhia, num jogo de preparação que terminou 4-1 para os japoneses. A Alemanha é a próxima organizadora do Campeonato da Europa, em 2024, por isso está dispensada de fazer a qualificação. Talvez seja a melhor notícia por estes dias turbulentos e cinzentos.

“Estamos a tentar tudo para preparar a equipa”, declarou Flick, de 58 anos, no final da partida. “Os treinadores adjuntos estão a trabalhar bem e eu penso que sou o treinador certo.”

Ilkay Gundogan, reforço do Barcelona e capitão germânico, revelou desconforto. “É muito difícil de aceitar. Temos de admitir que esta equipa japonesa foi melhor do que nós, ofensiva e defensivamente, e ganharam o jogo merecidamente. Houve demasiados erros individuais.”

De seguida, Gundo fez a reflexão mais inquietante. “Consegues sentir que muitos dos nossos jogadores estão numa luta mental com eles próprios”, explicou o centrocampista. “Não há confiança ou entendimento para tomar as decisões certas no campo. Este tipo de jogos e resultados não ajudam, de todo. Torna tudo mais difícil para criar uma ligação e boa atmosfera. Não somos o suficientemente bons neste momento, é um dia amargo. Todos temos de nos questionar."

Marvin Ibo Guengoer - GES Sportf

Já Joshua Kimmich, o talentoso defesa-médio do Bayern, declarou que a equipa não faz um jogo decente desde o Mundial, disputado em novembro e dezembro. “Isto tem de nos fazer parar e fazer questionar a nossa qualidade”, desabafou.

São já quatro derrotas nos últimos cinco jogos – Bélgica, Polónia, Colômbia e agora Japão; empate com Ucrânia –, um histórico que atenta contra a história daquela equipa a que se junta ainda a eliminação no Campeonato do Mundo na fase de grupos, onde também perdeu com o Japão, no tal jogo em que os jogadores taparam a boca.

“Temos de nos recompor primeiro”, disse Rudi Voller, o ex-bomber que é agora o diretor desportivo interino da federação, antes de dar pistas sobre o futuro da seleção. “Haverá treino amanhã [domingo]. Depois, jogamos com a França. A seguir, devemos primeiro refletir e pensar sobre o que acontecerá depois. Vamos ver.”

De acordo com o “El País”, Flick, que cobra seis milhões de euros brutos por ano e assim é o mais bem pago na sua função, poderia ser substituído por nomes como Jurgen Klopp, Julian Nagelsmann e Oliver Glasner. Ou pelo menos seriam esses alguns dos desejos da federação alemã.

Lothar Matthaus, um dos mais lendários futebolistas da história daquele país, criticou a decisão da federação de lançar um daqueles documentários nos bastidores na véspera do jogo, conta o “The Athletic”, que fez um levantamento do que foi dito na comunicação social alemã. “Debacle” e “desastre” são algumas das palavras pescadas.

O “brutalmente desapontado” Flick, como se classificou, tem visto derreter todo o crédito que construiu depois de levantar um Bayern que duvidava, devolvendo-lhe aquela verticalidade e potência tão germânicas, salpicadas com o futebol de toque que pertence aos grandíssimos futebolistas. O selecionador, que substituiu Joachim Low em agosto de 2021, regista apenas 12 vitórias em 25 jogos no comando da seleção alemã, que tem no currículo quatro vitórias em Campeonatos do Mundo e outros três triunfos em Campeonatos da Europa.

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