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O TikTok do Nápoles fez pouco de Victor Osimhen e o caldo entornou. O vídeo foi apagado, mas empresário do jogador admite ação judicial

O TikTok do Nápoles fez pouco de Victor Osimhen e o caldo entornou. O vídeo foi apagado, mas empresário do jogador admite ação judicial
Nicolò Campo

Uma publicação naquela rede social, onde os campeões nacionais italianos têm qualquer coisa como 4.5 milhões de seguidores, colou uma voz acelerada de desenhado animado à imagem do avançado nigeriano a pedir um penálti, que depois falhou contra o Bologna. Circula também um outro vídeo em que o africano, que já apagou as fotografias com a farda do Nápoles, é chamado de “coconut”, ou coco, um termo que pode ser considerado um insulto racista

As gentes de Nápoles já quase não sabiam como era. Celebrar um título nacional pertencia ao passado distante e ao que é místico, assente numa lenda maradoniana. Diego conquistou dois scudetti em 1987 e 1990, os primeiros da história do clube do sul de Itália. No entanto, passado tanto tempo, uma maquinaria afinada por Spalletti, regada a mel Kvaratskhelia e concretizada pelo killer instinct de Victor Osimhen, que fez 26 golos no triunfo da Serie A em 2022/23.

Ora, é exatamente o matador que nos traz aqui. A história é inusitada. Depois do avançado nigeriano falhar um penálti contra o Bologna, na última jornada do campeonato, no domingo, o funcionário responsável pela conta de TikTok do clube napolitano publicou um vídeo aparentemente a gozar com o futebolista.

Na publicação, surge uma voz de desenho animado, acelerada, talvez com o intuito de ridicularizar ou brincar com os pedidos de penálti de Osimhen. O africano acabou por falhar o penálti, contribuindo para o empate no Stadio Renato Dall’Ara, o que torna o vídeo ainda mais insultuoso ou pelo menos bizarro, ainda que tenha sido apagado de seguida.

As consequências não se fizeram esperar. Primeiro, o avançado apagou no seu Instagram muitíssimas fotografias em que está fardado com as roupas do Nápoles. Depois, já se sabe que o jogador e a sua entourage admitem “o direito de avançar para uma ação judicial”.

O agente do atleta também reagiu prontamente. “O que aconteceu hoje, na conta oficial do Nápoles na plataforma TikTok, não é aceitável”, escreveu no X, o antigo Twitter, Roberto Calenda. “Um vídeo a fazer pouco do Victor foi publicado e depois, tardiamente, apagado. “Um facto grave que causa danos muito sérios ao jogador e que se junta ao tratamento que o rapaz está a sofrer no último período entre julgamentos mediáticos e notícias falsas.”

Calenda mencionou ainda o tal direito a avançar judicialmente e executar qualquer iniciativa útil para proteger Victor”.

O vídeo que ridiculariza o jogador surgiu depois do penálti falhado contra o Bologna e também no seguimento de ser substituído por Rudi Garcia, num momento que demonstrou a insatisfação e a tensão que eventualmente existe entre o jogador nigeriano, de 24 anos, e o treinador.

Há um outro vídeo a circular, alegadamente também publicado e apagado de seguida pelas redes sociais do Nápoles e que chama “coco” (coconut) a Osimhen. A conta do clube no TikTok tem qualquer coisa como 4,5 milhões de seguidores.

Um mergulho no Google permite compreender que esta última partilha, com a referência ao fruto, talvez não seja totalmente inocente. O tema já foi abordado no passado por “BBC”, “The Guardian” e “Times Colonist”, do Canadá, com os seguintes títulos: “É o termo ‘coconut’ racista?”, “Chamaram-me ‘coconut’ mais vezes do que posso contar, mas eu entendo”, “Vereadora considerada culpada de assédio racial por causa de uma piada sobre cocos”, “Maçã, coco, banana – de inocente fruta ao insulto racista”.

O termo sugere traição à sua raça ou aparentemente é uma referência à cor negra por fora e branca por dentro, ou seja, como se esse negro visado não fosse mesmo negro ou respeitador das suas raízes e cultura, almejando ser mais branco.

Na história da “BBC” e num dos textos referidos do “The Guardian”, que remonta a 2010, conta-se o episódio de Shirley Brown, uma vereadora negra de Bristol, que depois de um debate caloroso chamou a oponente, com origem asiática, de “coco” ou “coconut”. O artigo refere ainda outros exemplos da mesma natureza de insulto, sugerindo os chocolates “Bounty” ou “Oreo”.

A história de Victor Osimhen ainda vai fazer correr muita tinta e, para já, o clube, os atuais campeões de Itália, um país governado pela extrema-direita e onde se repetem os episódios de racismo nos estádios, ainda não reagiu.

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