Futebol internacional

Chamem Kvaradona à estrela do Nápoles, é mais fácil, apesar de ele ser como os brasileiros: “Crescemos a jogar na rua. Temos o mesmo estilo”

Chamem Kvaradona à estrela do Nápoles, é mais fácil, apesar de ele ser como os brasileiros: “Crescemos a jogar na rua. Temos o mesmo estilo”
CIRO DE LUCA/Reuters
O dificilmente pronunciável Khvicha Kvaratskhelia é o craque das fintas do Nápoles que recebe, esta terça-feira, o Real Madrid no estádio Diego Armando Maradona para o regresso das grandes noites europeias à casa do clube. O georgiano admite que cresceu a ver os merengues pela televisão e admirava Guti pela “forma como tratava a bola”

É ingrato, quase injusto, um homem tão talentosamente capaz ter um nome cujo pronunciamento é difícil. Dizer ou escrever Khvicha Kvaratskhelia exige destreza semelhante à que o georgiano de cabelo desgrenhado e barba por aparar evidencia desde a época passada pela ala esquerda do Nápoles. Com a bola colada ao pé direito, encara adversários para lhes dobrar a espinha com fintas rápidas ou simulações repetidas para desencantar espaço que lhe permita visar a baliza, tudo num estilo desconcertante que deu um novo driblador espetacular à ribalta do futebol europeu.

Fazendo o copy + paste, Kvaratskhelia deixou 14 golos e 14 assistências na última temporada que devolveu à Nápoles, cidade, o título de campeã italiana. É condizente atribuir primeiro o scudetto às ruas. É lá onde há gravuras pintadas, cartazes pendurados e bandeiras hasteadas do Nápoles, clube, e também foi entre alcatrão e pedras que o georgiano mais adorado do futebol aprendeu o que sabe. “Nós, os futebolistas georgianos, crescemos a jogar na rua. Temos o mesmo estilo que os brasileiros, forjado entre edifícios”, defendeu, com algum descaramento, em entrevista ao “AS”, na qual desvendou que já profissional ainda jogava com os amigos na rua quando regressava dos treinos: “É onde desfrutava de verdade.”

Com as meias em baixo e uma cadência para ir para cima de adversários, Kvaratskhelia apressou-se a vincar a sua pegada em Itália, jogando para ser um dos alicerces da equipa que cedo se cimentou na liderança do campeonato. “As pessoas celebraram durante meses, mas dei-me conta do quão grande era o que lográmos depois da vitória em abril, contra a Juventus. Regressámos a Nápoles e a autoestrada estava bloqueada pelos tiffosi, não podia acreditar”, recordou na conversa publicada pelo jornal espanhol esta terça-feira, dia para o Diego Armando Maradona receber a equipa que fará o Nápoles embater de frente com a realidade para onde foi reabitar.

É com o estádio rebatizado com o nome do mais excêntrico dos futebolistas que rima a alcunha cedo posta ao georgiano, por estes dias os napolitanos simplificam o carinho nutrido por ele, chamam-lhe ‘Kvaradona’ e o jogador, esta época, já lhes respondeu com uma carência que tinha desde março: marcou um golo entre as três assistências que já leva esta época. “Enquanto jogador, sabes que não podes estar sempre à altura do que te pedem. Deves ser consciente de que vão chegar momentos como esse e tens de trabalhar para melhorar o teu jogo. As críticas não me importam, só me interessa ajudar a equipa, seja com um golo ou uma assistência”, explicou ao “AS”. A próxima oportunidade é contra o Real Madrid.

Kvaratskhelia cresceu “a ver o clube na televisão”, fã de Cristiano Ronaldo e, sobretudo, de José María Gutiérrez, outro craque abreviado numa alcunha. “Adorava a maneira com que tratava a bola, vi as suas jogadas durante toda a minha infância. Até já trocámos mensagens e fiquei feliz”, resumiu acerca de ‘Guti’, o antigo jogador do Real que era pródigo em desencantar passes para golo. Agora tocar-lhe-á defrontar outros craques como Vinícius Jr., que “é um enorme talento” e “o melhor nesse papel” de desmontar adversários pelo drible.

Será a terceira vez que o Real Madrid visita o caldeirão de emoções fortes que é o anfiteatro de futebol do Nápoles: na primeira, em 1987, Maradona apelou a que “os comessem vivos” após uma primeira mão de eliminatória da Taça dos Clubes Campeões Europeus feita de faltas violentas e agressões em Madrid; em 2017, teve os italianos a serem facilmente ultrapassados por uns espanhóis a caminho da segunda das três Champions que conquistaram em série. “O tempo vai dizer-nos até onde poderemos chegar na Europa”, disse Kvaratskhelia, sonhador com a hipótese de conquistar a prova, a meias com os outros sonhos que confidenciou: ganhar a Bola de Ouro (para a qual está nomeado) e jogar um Europeu ou Mundial com a Geórgia.

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