O Girona marcou quatro golos no campo do Barça, ouviu das suas gentes “olés” e recuperou a liderança isolada da La Liga
David Ramos
Num jogo emocionante, o Barcelona, com João Félix e João Cancelo de início, tropeçou valentemente contra o fabuloso Girona, que conseguiu a 13.ª vitória em 16 jornadas, o que lhe permite estar no primeiro lugar do campeonato, com mais dois e sete pontos do que Real Madrid e Barcelona, respetivamente. Stuani, o melhor marcador da história do Girona e que até já havia celebrado três golos no Camp Nou, fez o quarto golo da equipa que faz lembrar o conto de fadas do Leicester
Era uma possibilidade, mas a grandeza do gigante torna sempre turva essa possibilidade. Mas foi mesmo o que aconteceu: o Girona foi ao campo do Barcelona vencer, por 4-2, e recuperou a liderança isolada da La Liga, com mais dois pontos do que o Real Madrid, que empatou no sábado com o Bétis. Esta é porventura a grande surpresa do futebol europeu, uma espécie de conto de fadas à Leicester.
O Barça, com João Cancelo e João Félix de início, que segundo Joan Laporta o clube vai começar a tentar garantir de forma permanente, começou a perder logo aos 12’, com um golo de Artem Dovbyk. Sete minutos depois, a seguir a um passe de Raphinha, Robert Lewandowski, um homem que anda irreconhecível e cujo futebol parece ter envelhecido demasiado em tão curto espaço de tempo, deixou tudo empatado.
Mas o Girona, maravilhoso esta temporada sob o comando de Míchel (que não é Michel do Real Madrid), um histórico futebolista do Rayo Vallecano, voltou a marcar ainda antes do intervalo. Foi Miguel Gutiérrez que se estreou a faturar na Liga Espanhola.
No segundo tempo, quando o Barcelona melhorou, assente sobretudo no futebol de Ilkay Gundogan e Frenkie de Jong, e meteu mais peso na gaveta do desespero, Paulo Gazzaniga, o guarda-redes visitante, começou a tapar o caminho da glória blaugrana.
O Girona ia perdendo a timidez que ganhara e melhorou com as mexidas do treinador – o histórico Stuani entrou – e com o passar do tempo. A 10 minutos do fim, Valery encarou Koundé, enganou o francês, e, perante o jovem Iñaki Peña, tratou de fazer o 3-1, aos 80’, com um remate colocado e forte. É a convicção de quem está bem, que sabe o que quer e para onde vai. É irresistível. Pouco depois, Savinho, o menino brasileiro que dá samba a este grupo, esteve perto do 4-1, mas Peña fechou a porta ao escândalo com a cabeça.
Pedro Salado
Os rapazes que jogam com a camisola listada grená iam tentando reagir, servindo com bolas redondinhas a pérola Lamine Yamal, a tal vedeta precoce que joga do lado direito e é canhoto e que se estreou no clube e seleção com apenas 16 anos. Em cima do minuto 90, um sussurro ruidoso escutou-se na casa emprestada do Barcelona: “olé, olé, olé”. Os adeptos do Girona iam salivando ao ver os seus rapazes a fazer rabias com os geniais futebolistas do Barça no meio. Nessa jogada salpicada por “olés”, os visitantes voltaram a estar muito, muito perto do 4-1.
Mas os olés, talvez espicaçando o orgulho dos culés, resultou no 3-2 nos descontos, o que mantinha os campeões espanhóis vivos. Depois de um movimento e toque graciosos de Ferrán Torres, a bola pingou na bota de Gundogan, que, depois de algumas oportunidades, finalmente molhou a sopa. Lewandowski teve o 3-3 na cabeça, mas o tosco gesto fez a bola bater no ombro. O polaco parece outro…
Em sentido contrário, Stuani, o histórico Stuani, não hesitou, pouco depois, e fez o 4-2, ao segundo poste, depois de um cruzamento de Savinho. O melhor marcador da história do Girona, que já marcara três golos no Camp Nou, voltou a ser feliz contra os blaugrana. O sorriso de Míchel, perto do banco e ainda mais perto da linha lateral, era do mais aberto e sincero que se viu na história.
O apito final no Estádio Olímpico Lluís Companys, em Montjuic, trouxe uma realidade tremenda para o bom do Girona, que gosta da bola e que esta noite contou com gente como Yan Couto (jogou no SC Braga em 2021/22), Daley Blind e Eric García: 16 jogos no campeonato, 13 vitórias. Foi a primeira vez que o Girona, fundado em 1930, venceu o Barcelona, o vizinho gigante e popular da região.
Já o Barcelona de Xavi, que soma a segunda derrota na liga, fica agora a sete pontos do líder, o Girona, uma equipa que detém o melhor ataque doméstico e que pertence ao grupo que detém o Bahia e o Manchester City, por exemplo. Recentemente, Quique Cárcel, diretor desportivo do fabuloso Girona, disse que Míchel tem nível para pegar nos cityzens. Aparentemente, o céu é o limite.