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Na CAN mais lusófona de sempre, Angola, Moçambique, Cabo Verde e Guiné-Bissau sonham junto das ambições de Rui Vitória e José Peseiro

Na CAN mais lusófona de sempre, Angola, Moçambique, Cabo Verde e Guiné-Bissau sonham junto das ambições de Rui Vitória e José Peseiro
ISSOUF SANOGO/Getty

A 34.ª edição do mais importante torneio do futebol de África, cujo processo de criação passou por Lisboa, realiza-se na Costa do Marfim com o maior número de seleções lusófonas e de técnicos portugueses da história. Marrocos tentará dar sequência à histórica campanha do Mundial 2022, mas o Egito de Vitória e a Nigéria de Peseiro são assumidos candidatos

Na CAN mais lusófona de sempre, Angola, Moçambique, Cabo Verde e Guiné-Bissau sonham junto das ambições de Rui Vitória e José Peseiro

Pedro Barata

Jornalista

Em junho de 1956, as atenções do Portugal desportivo estavam viradas para o estádio José Alvalade. No dia 10 do sexto mês do calendário, a nova casa do Sporting Clube de Portugal foi inaugurada mas, por aqueles dias, outro acontecimento de importância sucedeu em Lisboa.

O terceiro congresso da FIFA reuniu a cúpula do futebol internacional na cidade. Num momento em que o colonialismo ainda marcava, formalmente, a realidade política do continente, só quatro países africanos (Egito, Sudão, Etiópia e África do Sul) eram membros da entidade máxima do jogo.

Foi no Hotel Avenida que este quarteto de nações propôs a criação de uma confederação de futebol africana, a futura CAF, e traçou os planos para uma competição continental de seleções. Ainda antes do Europeu, cuja primeira edição data de 1960, o grande torneio de África foi inaugurado em 1957, com um nome altamente simbólico: Taça das Nações Africanas (CAN), com o “Nações” a ser uma referência óbvia à luta pela descolonização e às ideias de auto-determinação dos povos e de primado do Estado-nação.

A esmagadora maioria dos países do continente vivia ainda sob domínio europeu quando a bola começou a rolar na primeira CAN, que se disputou no Sudão. A insistência da África do Sul, que em 1957 estava em pleno apartheid, em utilizar apenas jogadores brancos levou a que o país fosse excluído da competição. Como consequência, apenas houve três participantes, com o Egito a impor-se ao Sudão e à Etiópia.

Ali, em plena efervescência dos movimentos de independência — entre 1956 e 1966, Tunísia, Marrocos, Gana, Camarões, Benin, Burquina Faso, Costa do Marfim, Gabão, Nigéria, Ruanda, Quénia, Zâmbia, Gâmbia ou Botswana conquistaram autonomia —, os faraós iniciaram o caminho que os levou a recordistas de títulos na CAN, com sete conquistas.

O número de participantes foi aumentando, indo dos três de 1957 até aos atuais 24. No sábado (20h00, Sport TV5), a Costa do Marfim, anfitriã da 34.ª edição, recebe a Guiné-Bissau para abrir nova página numa história com raízes em Lisboa e que, 67 anos depois das reuniões no Hotel Avenida, tem o seu capítulo mais lusófono de sempre.

Angola, Moçambique, Cabo Verde e Guiné-Bissau juntas pela primeira vez

Pela independência tardia relativamente a boa parte dos Estados do continente, as seleções lusófonas entraram posteriormente nas contas da bola africana. Com caminhos díspares, 2024 une Angola, Moçambique, Cabo Verde e Guiné-Bissau na presença na CAN, algo inédito. Das cinco equipas lusófonas da confederação, só São Tomé e Príncipe, com um panorama futebolístico muito mais modesto que as demais, está ausente.

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