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A extinção dos cavalheiros está mais próxima: no primeiro adeus a Dortmund, Marco Reus foi numa hora o mesmo que em 12 anos

A extinção dos cavalheiros está mais próxima: no primeiro adeus a Dortmund, Marco Reus foi numa hora o mesmo que em 12 anos
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Marco Reus não vai renovar contrato com o Dortmund e, ao fim de 12 temporadas, prepara-se para deixar de vestir de amarelo e preto, as cores com as quais somou mais insucessos do que alegrias. A longevidade no clube deu-lhe um estatuto que nenhum portefólio de títulos pode conquistar. Na receção ao Augsburg (5-1), a Muralha Amarela gritou-lhe um agradecimento e o internacional alemão retribuiu com um golo ao seu jeito e duas assistências

Há sonhos que acabam com palavras e decisões de outrem. Quando foi dito ao Marco Reus de 17 anos que o Dortmund não tinha espaço para si, o sentimento de injustiça apresentou-se pela primeira vez a um jogador que o carregou ao longo da carreira. Alguém que não precisava de mais do que ter vestida uma camisola de padrão apícola para se sentir feliz, teve que se habituar a combinar o louro do cabelo com outras cores.

Apesar de tudo, Dortmund foi o lugar mais justo para Marco Reus. A correção de um erro histórico chegou em 2012, quando o alemão regressou ao clube após escalas no RW Ahlen e no Borussia M´gladbach. A partir daí, foi mesmo na saúde e na doença ou não tivessem os problemas físicos tantas vezes atrapalhado o romance.

Durante o período em que ainda precisava de cortejar a Muralha Amarela do Signal Iduna Park, estádio que rapidamente conquistou, teve logo o bonito gesto de ajudar a levar o clube à final da Liga dos Campeões (2012/13) sob a supervisão de Jürgen Klopp. O jogador-adepto tornou-se num ídolo de massas e reforçou o estatuto de ano para ano, tornando-se numa figura inabalável em comparação a outras referências, como Robert Lewandowski ou Mario Götze, que mais tarde se viriam a exibir com a camisola dos rivais.

Reus, o último dos moicanos, perdeu essa final. Perdeu a Bundesliga para o Bayern Munique durante anos a fio. Perdeu a ida ao Mundial 2014 e ao Euro 2016 pela Alemanha por ser tão propenso a lesões como à tal injustiça. Só não perdeu a paixão pelo Dortmund - bem maior que o par de Taças e Supertaças da Alemanha que conquistou - e pelo colo que a Muralha sempre lhe deu.

O fim do contrato com o Dormund deixa o internacional alemão livre no mercado, mas com a carreira para sempre ligada às doze temporadas de amarelo e preto numa era em que ser nómada é o modo de vida dos profissionais dos chutos. “Estou incrivelmente grato por ter representado este clube durante tantos anos”, disse Reus na mensagem de despedida.

Nada podia então ter sido diferente a receção ao Augsburg (5-1) depois do jogador e o clube terem anunciado que não vão renovar os votos. Um dos quatro golos que a equipa treinada por Edin Terzić marcou na primeira parte foi do camisola 11. Chegou-se o mais que conseguiu ao guarda-redes, picou a bola por cima dele e foi festejar a bater no peito enquanto sorria para as bancadas repletas como se conhecesse e fosse amigo íntimo de cada um dos aplauso que recebeu. A esse momento, juntou duas assistências, uma para Moukoko e outra para Nmecha, que coroaram pouco mais de uma hora de consagração dentro das quatro linhas.

Arredado da luta pela Bundesliga (já entregue ao Bayer Leverkusen), o Dortmund está na frente da meia-final da Liga dos Campeões, contra o Paris Saint-Germain, e sonha em chegar a Wembley e levantar o troféu. A previsão poética versa sobre uma opinião relativa ao que gostava que se sucedesse. Só a realidade pode triturar um desfecho tão romântico como o adeus numa final europeia.

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