Futebol internacional

A FIFA já terá os resultados da investigação aos abusos no Mundial do Catar. E a Amnistia Internacional diz que não os quer divulgar

“Direitos humanos”, lê-se nas ‘t-shirts’ da seleção da Alemanha, num jogo de qualificação para o Mundial do Catar
“Direitos humanos”, lê-se nas ‘t-shirts’ da seleção da Alemanha, num jogo de qualificação para o Mundial do Catar
TOBIAS SCHWARZ / GETTY IMAGES

Muito se questionou, antes, durante e depois do Mundial de 2022, dos abusos aos direitos humanos dos trabalhadores e do papel da FIFA na sua supervisão. Só até ao início do torneio, uma investigação do “The Guardian” estimou em 6.500 as mortes de trabalhadores envolvidos na preparação da prova. A Amnistia Internacional diz que a entidade liderada por Gianni Infantino está a atrasar a divulgação das conclusões de um estudo que atribui responsabilidades à própria FIFA

A Amnistia Internacional (AI) instou a FIFA a publicar os resultados de uma investigação independente que revela os abusos sofridos pelos trabalhadores envolvidos no Campeonato do Mundo de futebol de 2022, no Catar.

De acordo com a entidade, uma investigação independente anunciada no congresso da FIFA, o ano passado, reconhece as responsabilidades da organização numa “gama significativa de abusos sofridos por centenas de milhares de trabalhadores migrantes” durante o Mundial organizado pelo país, o primeiro a acontecer no Médio Oriente.

“A FIFA deveria publicar imediatamente e agir de acordo com a investigação que recebeu há cinco meses, admitindo as suas responsabilidades para com os trabalhadores que sofreram abusos no Campeonato do Mundo de 2022, no Catar”, afirma o organismo em comunicado.

Uma investigação do jornal britânico “The Guardian”, em 2021, revelou que mais de 6.500 trabalhadores morreram durante a construção dos estádios, número que não foi reconhecido pela organização do torneio, que admitiu 37 mortes não relacionadas ao trabalho e três classificadas como mortes ocupacionais.

“Antes do congresso anual na próxima semana, a FIFA deve tornar pública a investigação sobre as responsabilidades de compensação por abusos dos direitos humanos relacionados com o Mundial 2022 e responder positiva e rapidamente às recomendações que faz.

De acordo com o responsável do departamento de Direitos dos Trabalhadores e Desporto da Amnistia Internacional, Steve Cockburn, “a FIFA recebeu os resultados da investigação há três meses, mas ainda não os revelou nem agiu”.

“Este atraso apenas prolonga o sofrimento das famílias que perderam entes queridos e dos trabalhadores que sofreram abusos, na execução da joia da coroa da FIFA. A FIFA não pode apagar esta dor, mas pode levar à execução de um plano que traga justiça e utilize os seus vastos recursos para remediar os danos para os quais contribuiu", disse.

De acordo com a AI, atribuir o torneio ao Qatar, em 2010, sem primeiro garantir que havia proteções suficientes dos direitos humanos fez com que a FIFA “contribuísse para mais de uma década de abusos que não foram remediados”.

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