Tiago Pinto começou por construir o seu nome no Benfica, a trabalhar no Seixal, com as mãos a segurar várias e muitas rédeas na organização do futebol do clube, desde a base da formação ao terraço no topo da equipa principal. Entre 2017 e 2021 dirigiu o projeto desportivo dos encarnados, viu elogios a chegarem de vários lugares e de lá seguiu para a capital italiana onde um desconforto desafiante o esperava: a instável AS Roma, apertada por uma contenção financeira que aconselhava a cuidado nos gastos, contratou-o para ser o diretor-desportivo de um clube apoiado por adeptos fervorosos que tudo querem desmesuradamente.
Foram três anos tratar de contratações com pinças, diversas contratações de jogadores a custo zero ou chegados por empréstimo enquanto lidou com as expetativas de um clube que tocou na glória com o homem que Tiago Pinto tratou de fazer chegar aos gialorrossi. Com José Mourinho, a equipa conquistou a edição inaugural da Liga Conferência, em 2022, perdendo depois na final da Liga Europa, em 2023, pelo meio sacudindo as bancadas do Olímpico de Roma com uma nova vida nos adeptos apesar do par de sextos lugares consecutivos na Série A italiana. Em janeiro deste ano, Tiago Pinto saiu do clube.
Nem seis meses depois, o português arranjou trabalho e um que será, no papel, bastante mais trabalhoso.
Tiago Pinto será, a partir da próxima época, o diretor-desportivo do Bournemouth, do sul de Inglaterra, que ficou na 12.ª posição da Premier League que ainda há pouco terminou. Os cherries, alcunha do clube, têm como casa um dos recintos mais pequenos do campeonato mais endinheirado da Europa e são treinados por Andoni Iraola, basco que esteve entre os nomeados para técnico do ano da principal liga inglesa.
As tarefas de Tiago Pinto irão mais além do que ficar com a direção do futebol do Bournemouth, o que será, em parte, consequência de uma 'moda' atual do futebol, cada vez mais repercutida: o português foi contrato pelo Black Knight Sport, um grupo empresarial que comprou 100% das ações do clube em dezembro de 2022, juntando-o à carteira onde já tinha outras equipas.
Além de ter de guiar o futebol dos cherries, o dirigente português aceitou ficar também responsável pelo projeto desportivo do Lorient, da primeira divisão de França, do Hibernians, do principal escalão da Escócia - clube no qual o conglomerado comprou 25% das ações em março deste ano - e do Auckland, da Nova Zelândia.
Portanto, aos 39 anos, Tiago Pinto virou o "President of Football Operations" de quatro clubes de futebol em simultâneo.
O português substitui Richard Hughes, que trocou o Bournemouth pelo Liverpool nesta final da época para assumir a direção desportivo no clube nascido na mesma terra dos Beatles, que está a tratar da sua própria reformulação de verão - a par desta mudança nos gabinetes, escolheu Arne Slot, antigo técnico do Feyenoord, para suceder a Jürgen Klopp, icónico treinador de quase uma década que escolheu ter um tempo de descanso do futebol.
O Black Knight Sport que contratou Tiago Pinto para o Bournemouth e o seu cargo multifunções detém, além dos vários clubes de futebol, os Golden Knights, da NHL (liga norte-americana de hóquei no gelo) que foi a primeira equipa profissional de topo de Las Vegas. O conglomerado tem vários acionistas, o mais conhecido Michael B. Jordan, ator de Hollywood que protagonizou os mais recentes filmes ('Creed') da saga de Rocky Balboa. Outro é Nullah Sarker, criador do Players' Tribune, site onde futebolistas e outros desportistas contam a sua história na primeira pessoa.
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