Na odisseia de José Mourinho, a Turquia e o Fenerbahçe são o próximo destino
Chris Brunskill Ltd
Vinte anos depois de se auto-intitular “a special one”, José Mourinho faz uma pausa (definitiva ou não logo se verá) nas big 5 para treinar no campeonato turco, onde será adorado e pressionado em igual medida. As portas nos gigantes europeus estarão fechadas e, aos 61 anos, inicia outra fase na sua carreira
Longos caminhos tem o futebol e o caminho de José Mourinho terá agora uma inesperada (ou talvez não) nova paragem. O treinador português, de 61 anos, é o novo treinador do Fenerbahçe, um dos grandes da Turquia, dizendo assim adeus, 20 anos depois, ao futebol das cinco principais ligas do futebol europeu. Ou um até logo, pelo menos.
Em Istambul, José Mourinho encontrará um ambiente escaldante, emoções voláteis e um gigante local que há uma década não conquista o campeonato. Mas também um futebol afastado de tudo o que conheceu nas últimas décadas. Desde 2014/15 que o técnico duas vezes campeão da Europa não conquista uma liga nacional, à altura na sua segunda passagem pelo Chelsea, e daí para cá o sucesso tem sido moderado.
O projeto de içar o Manchester United de novo para o topo do futebol inglês terminou a meio, com um sabor agridoce, ainda assim com um título na Liga Europa e um 2.º lugar em 2018. Seguiu-se o Tottenham, onde ficou a zeros, e depois o regresso a Itália pelas portas da Roma. Venceu a Liga Conferência em 2022 e perdeu a final da Liga Europa há um ano. Em janeiro, com os romanos em 9.º lugar, Mourinho seria despedido, depois de um dos piores arranques de temporada da carreira - fez apenas cinco pontos nos primeiros seis jogos.
Depois de 20 anos nos big 5, Mourinho vai treinar para a Turquia
DeFodi Images
Longe das grandes decisões nas últimas temporadas, depois de uma lenda forjada com títulos em Portugal, Inglaterra, Espanha e Itália, com duas Champions, uma pelo FC Porto e outra pelo Inter, e, claro, pela personalidade forte e capacidade de inventar aforismos, o crédito de Mourinho parece ter terminado entre os gigantes europeus, mesmo numa temporada em que muitos lugares nos bancos ficaram vazios. A ida para Istambul acontece praticamente 20 anos depois do famoso “I’m a special one” atirado durante a conferência de imprensa de apresentação no Chelsea, que lhe assentou bem nos tempos de glória.
Agora, a realidade é outra. Numa recente entrevista ao “Telegraph”, pediu que olhassem para ele como olham para outro treinador qualquer, o que, diga-se, será sempre complicado. E disse-se preparado para assumir qualquer clube, grande ou não, que tivesse um “objetivo justo”, realista, que pode ser ganhar ou não: “O que é importante para mim é o clube ter objetivos e que eu possa dizer que estou pronto para lutar por eles”.
Em Londres, onde se deslocou para assistir à final da Liga dos Campeões, José Mourinho confirmou a vontade de rumar à Turquia ainda que com consciente das dificuldades que o esperam. “Vai ser difícil estarmos na Liga dos Campeões, porque temos três pré-eliminatórias. No caso do Fenerbahçe, oito jogadores vão ao Euro e não voltam antes da primeira eliminatória. É muito difícil, mas gosto de desafios. Vou lutar para estar na Liga dos Campeões”, disse à Sky Sports.
Falou-se da Arábia Saudita, até do Benfica, mas será mesmo na Turquia que o treinador português iniciará uma nova fase da sua carreira. No país que se espraia entre a Europa e a Ásia terá estatuto de adoração pelos sempre apaixonados adeptos e o desafio desportivo de voltar a tornar o Fenerbahçe dominador na Turquia - ganhar é, sem menos, é o objetivo que lhe será pedido e na Turquia ainda o pode acalentar.
Besiktas também contactou português
O processo de chegada de Mourinho a Istambul já estaria a ser preparado há meses pelo português Mário Branco, diretor desportivo do Fenerbahçe, diz o diário desportivo “Fanatik”. O vínculo do português com os turcos terá duas épocas, até 2026, e o portal italiano Calciomercato garante que Mourinho exigiu uma cláusula no contrato que lhe permitirá sair livre se tiver uma proposta para treinar a seleção portuguesa.
José Mourinho com o troféu da Liga Conferência, o último título que ganhou, com a AS Roma, em 2022
Valerio Pennicino - UEFA
O Besiktas, outro dos históricos da mais importante cidade turca, também contactou Mourinho nos primeiros meses do ano, revelou um vice-presidente das águias negras. Mas a escolha acabou por passar pelo clube com mais títulos na Turquia, 28 campeonatos.
O técnico português é trunfo eleitoral das duas candidaturas à presidência do clube do bairro de Kadikoy, tanto de Ali Koç, que concorre para novo mandato, como para Aziz Yildirim, que já liderou a equipa da parte asiática de Istambul entre 1998 e 2018 e procura agora voltar. As eleições estão marcadas para 8 e 9 de junho.
O Fenerbahçe tem no plantel o português Miguel Crespo, que na segunda parte desta temporada esteve emprestado ao Rayo Vallecano. Da equipa que esta época terminou pelo terceiro ano consecutivo no 2.º lugar na Super Liga turca, a três pontos do Galatasaray e com apenas uma derrota em 38 jogos, destacam-se nomes como o sérvio Dusan Tadic, o brasileiro Fred ou o veterano avançado bósnio Edin Dzeko, que foi o segundo melhor marcador da liga.