A cara cabisbaixa do encasacado Ruben Amorim, a segurar o microfone com uma mão, a outra enfiada no bolso das calças, sem saber bem como reagir à inopinada aparição de uma celebridade a meio da conversa com o painel da Sky Sports, no relvado, encapsulou a estranheza que vestiu o português, no domingo, ainda a apalpar o terreno dos novos hábitos em Inglaterra. Do nada, a conversa sobre o empate (1-1) do Manchester United na visita ao Ipswich Town virou um momento lúdico assim que Ed Sheeran, famosíssimo cantor pop e acionista do clube da casa, apareceu para dizer olá, em direto.
Quase impávido, sem ligar muito à intromissão algo descabida do artista que ali apareceu para trocar um passou-bem caloroso com Jamie Redknapp, um de dois antigos futebolistas da Premier League a quem o treinador teve de dar resposta, Ruben Amorim era disposto perante a nova realidade e pareceu um homem resignado, apesar de algo enfadado com as tarefas jornalísticas a que se prestou nos primeiros tempos em Inglaterra. “Vamos deixar-te ir agora”, diria pouco depois a jornalista anfitriã da conversa, motivando um audível suspiro do treinador. Destapando um sorriso, Ruben não escondeu a moléstia: “Tenho de o dizer, isto foi a última vez… Falei mais nesta semana do que em quatro anos de Sporting e, quando falas demasiado e não ganhas, é muito difícil para toda a gente. Portanto, foi só esta semana.”
Se conseguirá evadir-se destas obrigações protocolares, porque muitas são, logo veremos.
Ao seu lado, Roy Keane ouvia quase imóvel. A dois corpos de distância do português, Jamie Redknapp, o outro antigo jogador com passado vincado no futebol inglês que motivou o aparecimento inopinado de Ed Sheeran, que quis dar-lhe um passou-bem, fora o último a atirar uma questão a Ruben Amorim nessa interação comum nos pós-jogos da Premier League, mas causador de fastio ao técnico: terá sido o terceiro ou a quarta intervenção à imprensa da noite, após a flash interview (inglesa, à Sky Sports, e portuguesa, à DAZN) e a conferência de imprensa.
“A tua equipa correu 102 quilómetros hoje, o segundo valor mais baixo do United esta época”, começou por enquadrar, de seguida, o ex-jogador. “Mas sei, de quando vi o Sporting, que as tuas estatísticas quebravam o teto, eram das melhores na Europa. Isso é algo que tem de melhorar para vocês competirem?”, perguntou o inglês com quase 300 encontros feitos no campeonato onde Amorim acabara de ter uma estreia agridoce. Dispostos diante de um púlpito, foi a terceira pergunta feita pelo trio de comentadores que o técnico teve de responder com a sua habitual transparência.
“Se vires a primeira parte tivemos um pouco de medo”, introduziu Ruben. “O número 5 estava sempre sozinho, tínhamos de saltar na pressão. O 20, o Hutchinson, estava sempre nos espaços mortos e o Johny Evans tinha de o pressionar. Mas, só com dois treinos, é difícil dar todas as indicações aos jogadores, estavam um bocado confusos, ficaram nas suas posições e, se ficares ali, defendes mas não corres. Sentes isso nas estatísticas”, disse com o olhar a fitar o chão, concentrado a articular um discurso explicativo para reconhecer o que lhe fora atirado: “Primeiro, os jogadores têm de entender o jogo e, depois, temos de ser muito melhores fisicamente para lidarmos com a pressão alta e o volume de corridas a alta velocidade. Mas precisamos de tempo para trabalhar.”
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