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Futebol internacional

Como a FIFA condicionou (e ignorou) as regras para dar o Mundial 2034 à Arábia Saudita, onde “há um risco humano real e previsível”

Depois de atrair grandes eventos de várias modalidades para o país, os milhões da Arábia Saudita vão agora ter a competição mais vista do planeta: o Mundial de futebol da FIFA.
Depois de atrair grandes eventos de várias modalidades para o país, os milhões da Arábia Saudita vão agora ter a competição mais vista do planeta: o Mundial de futebol da FIFA.
ALEX GOZBLAU
Um congresso virtual irá eleger, por aclamação e sem que haja outra candidatura em disputa, o país do Médio Oriente como anfitrião da maior competição do futebol. Através de várias manobras de bastidores, a FIFA tornou a Arábia Saudita na única opção para 2034, ignorando os seus próprios critérios de direitos humanos. À Tribuna Expresso, responsáveis de várias organizações revelam como os seus apelos não têm sido escutados, detalhando os perigos para os trabalhadores migrantes, críticos do regime, mulheres ou comunidade LGBT+
Como a FIFA condicionou (e ignorou) as regras para dar o Mundial 2034 à Arábia Saudita, onde “há um risco humano real e previsível”

Pedro Barata

Jornalista

A 2 de dezembro de 2010, numa sala escura de Zurique, foram tomadas duas decisões que marcariam a década e meia seguintes do futebol internacional. A primeira foi a atribuição do Mundial 2018 à Rússia, com a candidatura vencedora a derrotar as propostas de Portugal/Espanha, da Bélgica/Países Baixos e de Inglaterra; a segunda foi o triunfo do Catar como anfitrião de 2022, superando a oposição dos Estados Unidos da América, da Coreia do Sul, do Japão e da Austrália.

Se o primeiro veredicto era relativamente esperado, o segundo foi um choque. Quando se começaram a projetar as candidaturas para 2022, ninguém pensou que aquele pedaço de deserto no Médio Oriente tivesse qualquer tipo de hipótese de êxito.

Na verdade, a grande ideia de Joseph Blatter, a intenção do então líder da FIFA, era atribuir 2018 à Rússia e 2022 aos EUA, fazendo dois Mundiais seguidos nos velhos rivais da guerra fria, com o futebol a mostrar ao planeta como, no século XXI, as velhas tensões e hostilidades eram coisas do passado. Digamos que Blatter — que chegou a achar que este plano lhe daria o Nobel da Paz — não estava correto quanto ao fim das questões geopolíticas.

E também não calculou com precisão o poder catarense. Num processo negro, que daria início aos escândalos de corrupção que fizeram cair a cúpula do futebol, o Catar foi o vencedor da votação.

Passados 14 anos, são conhecidas as práticas que levaram o Mundial para Doha. Estamos familiarizados com os movimentos de bastidores, com os subornos, com as redes de influência. Passados 14 anos, conhecemos o drama humano que foi o Mundial 2022. Sabemos as histórias dos trabalhadores migrantes, as mortes por explicar, as famílias destruídas. Os críticos silenciados, as mulheres sem autonomia, a criminalização das relações entre pessoas do mesmo sexo.

Decidiu-se, então, alterar os procedimentos entre 2010 e 2024, mudando as regras sobre 2034 face a 2022.

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