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Ruben Amorim precisa de tempo no United. Nada como um bocejante dérbi de Manchester para relembrar

Ruben Amorim precisa de tempo no United. Nada como um bocejante dérbi de Manchester para relembrar
Uma equipa a tentar criar bases sólidas para o futuro, outra em fim de ciclo. Manchester United e Manchester City estão em níveis rasteiros e, somada a desinspiração de ambos, o espetáculo na 31.ª jornada da Premier League não foi fascinante. Em Old Trafford, os rivais empataram (0-0), resultado que não compromete a época já crítica de red devils e citizens

Ruben Amorim é uma figura amovível no Manchester United. É difícil identificar alguém que desempenhe as mesmas funções e tenha tanto à vontade para partilhar planos a longo prazo. Talvez assim seja por não ser apenas um treinador e assemelhar-se a um doutorado em consciência humana. Na era em que os homens dos bancos têm o prazo de uma story do Instagram, a operária cidade no norte de Inglaterra é o melhor sítio do mundo para o português estar. Noutros lugares, não há tanta vontade de esperar.

Primeiro passo: identificar problemas. Segundo passo: tentar resolvê-los. Terceiro passo: ser realista no prazo para remendar as lacunas. O plano de recuperação do Manchester United encontra-se numa fase insípida, embora ainda esteja em disputa a Liga Europa, que pode valer a qualificação para a Champions. Em relação a alguns aspetos (táticos e de postura), começa a ser claro o que Ruben Amorim quer e não quer e o verão poderá trazer novidades, com decisões a serem tomadas com base nessas preferências. Até lá, os red devils estão entregues à vontade da maré, numa zona cinzenta em que não podem acelerar o seu desenvolvimento e continuam a sofrer com as dores de uma época francamente má.

“Não vamos ser o maior candidato no próximo ano ou nos próximos dois anos.” A franqueza de Ruben Amorim pode causar transtorno ao mais exigente dos adeptos, mas o processo de desenvolvimento de uma equipa é como o de aprimorar uma receita: usam-se determinados ingredientes, prova-se e se não nos agradar fazemos alterações. “Não sou louco. Estamos a sofrer muito para sermos muito melhores”, confessou o técnico de 40 anos com o desgaste emocional de um octogenário.

Simon Stacpoole/Offside

Foram raros os momentos de algum regozijo na temporada do United, mergulhado na segunda metade da tabela da Premier League. Uma das exceções foi a vitória no dérbi de Manchester, com dois golos perto do final que deixaram o City sem capacidade de reagir. Os rivais voltaram a encontrar-se na segunda volta do campeonato, desta vez em Old Trafford.

Manchester United e Manchester City estão em contraciclo. Amorim trabalha para encubar algum sucesso. Pelo contrário, a equipa de Pep Guardiola ganhou tudo o que era possível ganhar, mas uma época de quebra marca o início de uma nova fase. Kevin De Bruyne anunciou que vai deixar os citizens no final da temporada, pondo fim ao “melhor capítulo” da carreira. O belga foi a primeira peça da era dourada da parte azul da cidade. Quando chegou, ainda nenhum dos jogadores que conquistou o treble, em 2022/23, estava no plantel (excetuando produtos da formação).

Normalmente, nada importa quando se enfrentam duas equipas apoiadas por gente que se vê todos os dias na rua. Só que, neste caso, o contexto (cinzento) foi tudo.

Alejandro Garnacho até teve um começo eletrizante. Absorvendo o ambiente de Old Trafford, obrigou Rúben Dias a fazer falta à entrada da área. O central português viu o cartão amarelo, situação altamente arriscada contra um Manchester United acutilante, a transitar com entusiasmo.

A Matheus Nunes, no reencontro com Amorim, foi entregue o lado direito da defesa do Manchester City. Não teve grande sucesso a tapar aquela via, embora tenha feito um corte precioso aos 58 minutos. Patrick Dorgu foi uma válida aquisição no mercado de inverno. A defender e a atacar naquela região do campo, o dinamarquês libertou-se com frequência.

Independentemente das nuances táticas, faltava a inspiração, a criatividade, a capacidade de ler nas entre linhas do código de conduta e de reescrever procedimentos pré-estabelecidos. Ao intervalo, tinham-se realizado apenas dois remates à baliza (um para cada lado), número que reflete a sonolência que assaltou as bancadas inicialmente empolgadas.

Michael Steele

O sol é uma raridade em Manchester. A sua lustrosa presença foi desaproveitada por um jogo bocejante, com a energia que antecede uma ida para a cama.

Faltavam agentes exteriores ao City. Sem alguém para desequilibrar por fora, a imensidão de clones a pedirem a bola nas mesmas zonas – Kovačić, Bernardo Silva, Gündoğan, De Bruyne, Marmoush e Foden – ficava entalada. Jérémy Doku tentou ajudar nesse aspeto.

No entanto, a criteriosa definição de Dorgu colocou Zirkzee perante a melhor oportunidade para o United marcar. Não sendo uma ocasião flagrante, suscitou outras investidas que levaram os red devils a terminarem por cima. Um remate à figura de Ederson foi o auge da ousadia. E isso diz tudo.

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