Futebol internacional

FIFPro, Sindicato de Jogadores e FPF estudam efeitos do calor extremo nos futebolistas. Intervalos alargados são uma das recomendações

FIFPro, Sindicato de Jogadores e FPF estudam efeitos do calor extremo nos futebolistas. Intervalos alargados são uma das recomendações
Stu Forster

Doze jogadores que participaram no Estágio do Jogador, em Portugal, foram monitorizados em dois jogos de 90 minutos em que a temperatura foi considerada alta. A FIFPro acredita que as atuais diretrizes da FIFA para pausas de hidratação estão desatualizadas e que intervalos de 20 minutos poderão ajudar a mitigar os efeitos do calor nos jogadores

O último Estágio do Jogador, anualmente organizado pelo Sindicato de Jogadores com futebolistas sem contrato, não serviu apenas para fomentar novas oportunidades a atletas em busca de clube. Num projeto que surgiu da colaboração do Sindicato, FIFPro e Federação Portuguesa de Futebol, 12 jogadores foram monitorizados com o objetivo de estudar os efeitos do calor extremo nos futebolistas, tanto a nível físico como psicológico.

De acordo com o sindicato internacional dos jogadores de futebol, a FIFPro, os dados dos jogadores foram avaliados durante dois encontros de 90 minutos em que a temperatura ambiente excedeu os 32 graus e o índice WBGT (sigla de “Wet Bulb Globe Temperature”), que incorpora além da temperatura do ar a humidade, a velocidade do vento e a radiação solar, ultrapassou os 28 graus. 

“Nós sabemos que as temperaturas altas influenciam o desempenho dos jogadores e que podem afetar negativamente a sua saúde. Em alguns casos, o calor excessivo pode levar a golpes de calor”, explica Vincent Gouttebarge, diretor médico da FIFPro, sublinhando que é necessário “desenvolver estratégias que possam mitigar os efeitos do calor, para que os jogadores possam jogar de maneira segura.”

O calor, um dos principais desafios para os jogadores no Mundial de Clubes
Ira L. Black - FIFA

Durante o estudo, foram feitas comparações em termos de distância cumprida, aceleração e desaceleração, sprint, batimentos cardíacos, níveis de desidratação e temperatura corporal. No decorrer dos jogos foram feitas paragens para hidratação de 15 em 15 minutos. 

Este estudo surge na sequência das muitas críticas dos jogadores face às temperaturas extremas em que foram jogados vários encontros do Mundial de Clubes, no final da época passada, nos Estados Unidos da América. E numa altura em que falta menos de um ano para o Mundial de seleções nos Estados Unidos, México e Canadá, onde as temperaturas altas serão igualmente uma preocupação.

A FIFPro sublinha que os jogadores tiveram de enfrentar “temperaturas que chegaram aos 37 graus” e dá o exemplo das declarações de Enzo Fernández, médio do Chelsea, que admitiu que teve mesmo de se deitar no relvado durante um jogo por se sentir tonto, apelidando de “perigosas” as condições encontradas nas grandes arenas abertas dos Estados Unidos. Mas não foi o único: Tijjani Reijnders, do Manchester City, queixou-se do quão “duro” era jogar com tanto calor, com Anatoliy Trubin, do Benfica, a sublinhar que foi “a primeira vez na vida” que enfrentou “um calor assim”. Marcos Llorente, do Atlético Madrid queixou-se até de dores nas unhas dos pés. “É terrivelmente quente. Custa-me arrancar, é péssimo”, apontou. 

Icon Sportswire

O treinador português, Abel Ferreira, admitiu que foi obrigado a fazer alterações no Palmeiras olhando para o desgaste causado pelo calor aos seus jogadores e Luis Enrique reconheceu que as temperaturas altas foram decisivas na goleada que o PSG infligiu ao Atlético Madrid (4-0). 

A FIFPro acredita que as atuais diretrizes da FIFA, que têm em conta o índice Wet Bulb Globe Temperature e obrigam a paragens para hidratação apenas acima dos 32 graus, estão desatualizadas, já que “não protegem suficientemente a saúde e o desempenho dos jogadores”, recomendando que as paragens para hidratação acontecem sempre que o índice WBGT ultrapasse os 26 graus e que os jogos devam ser mesmo adiados quando os valores excedam os 28 graus.  

O sindicato internacional sublinha que, adotando os valores que consideram mais consentâneos com a saúde dos atletas, a FIFA teria sido obrigada a adiar “vários jogos durante o Mundial de Clubes”. Outra das recomendações da FIFPro, isto ainda antes de tratados todos os dados recolhidos durante o Estágio do Jogador, passa por um intervalo mais longo, de 20 minutos, de forma a “manter a temperatura corporal dos jogadores dentro de um intervalo aceitável”, apontou Vincent Gouttebarge, que acredita que “os 15 minutos podem não ser suficientes para baixar a temperatura corporal dos jogadores.”

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