“O futebol não pode continuar a agir como se estivesse tudo na mesma”: cresce a pressão para que a UEFA suspenda as equipas israelitas
Manifestantes em frente a ao estádio de Wembley, em Londres
Mark Kerrison
Grupos de académicos, as Nações Unidas ou a Amnistia Internacional apelam ao fim temporário da participação da seleção e clubes israelitas nas competições internacionais. A FIFA passa a bola à UEFA, que, segundo a BBC ou o “Guardian”, vai adiar a decisão à espera do que resultar do plano de paz de Trump
A dias de regressar o futebol de seleções, o tema da participação de Israel no palco internacional volta a adquirir centralidade. A equipa nacional do país visitará, a 11 de outubro, a Noruega, atuando, três dias depois, em Itália. Ambos os compromissos serão disputados sob intensas medidas de segurança, sendo de esperar fortes protestos.
Não é só nas bancadas de diversos estádios da Europa que se apela à suspensão dos conjuntos vindos de Israel. Mais de 30 académicos, especialistas em direito, escreveram uma carta a Aleksander Čeferin, presidente da UEFA, instando a que as equipas israelitas sejam, temporariamente, impedidas de jogar, à imagem do que sucede com as russas.
A missiva, assinada por personalidades como Elisa von Joeden-Forgey, diretora executiva do Instituto Lemik para a Prevenção do Genocídio, bem como antigos especialistas das Nações Unidas, considera a suspensão “imperativa”. Recorda-se a que a investigação encomendada pela ONU já definiu como genocídio os atos de Israel em Gaza, indicando que o futebol deve “cumprir as suas obrigações legais e morais, seguindo o direito internacional e aplicando uma suspensão imediata a Israel”.
Menciona-se, também, os atos de Israel que têm “dizimado uma geração inteira de atletas palestinianos”. Calcula-se que 421 futebolistas da Palestina perderam a vida em ofensivas israelitas desde outubro de 2023, num total de mais de 800 atletas.
Craig Mokhiber, ex-diretor do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, lembra a importância que os boicotes desportivos tiveram para isolar a África do Sul do apartheid: “O mundo uniu-se para que a situação mudasse e isso incluiu, com grande importância, boicotes culturais e desportivos”.
A África do Sul foi suspensa pela FIFA em 1961. Israel juntou-se à UEFA em 1994, vinda da confederação asiática, na qual deixou de ter condições para jogar devido à recusa de diversas equipas do mundo árabe em defrontarem equipas de Israel. Em 2022, foi também a recusa de adversários da seleção russa que espoletou a rápida suspensão das equipas do país, na sequência da invasão em larga escala à Ucrânia.
Uma mensagem contra a presença de Israel no futebol internacional é mostrado durante o República da Irlanda-Hungria, em setembro
Stephen McCarthy
A ONU também já pressionou a FIFA e a UEFA a agirem contra Israel. “O futebol não pode continuar a agir como se estivesse tudo na mesma. Os organismos desportivos não podem fechar os olhos perante graves violações de direitos humanos, sobretudo quando as suas plataformas são utilizadas para normalizar as injustiças”, lê-se no apelo escrito.
Um dos argumentos mais fortes a favor da suspensão deve-se à prática, promovida pela Federação de Israel e por diversos clubes, de organizar jogos em território palestiniano ilegalmente ocupado. Ora, os regulamentos da FIFA ditam que “as federações-membro e os seus clubes não podem jogar em território de outra federação sem o consentimento desta”. A Palestina é uma federação-membro da FIFA desde 1998.
A Amnistia Internacional faz, igualmente, parte da pressão.“O futebol não é jogado no vácuo. A FIFA e a UEFA têm de aceitar as suas responsabilidades perante a lei internacional e deixar de permitir que os clubes e seleção de Israel participem em provas internacionais até que a federação suspenda todos os clubes de território ocupado”, refere a Amnistia.
Esta semana, Victor Montagliani, vice-presidente da FIFA, deixou claro que uma decisão destas caberia à UEFA, que deveria “lidar com o tema”. Esperava-se uma reunião do Comité Executivo da entidade máxima do futebol europeu a respeito do tema, mas o anúncio do plano de paz de Trump fez, segundo a BBC ou o “Guardian”, que a UEFA adiasse uma decisão.
Israel, que só participou no Mundial de 1970, está no grupo I de qualificação. Encontra-se com nove pontos, menos seis que a Noruega e os mesmos que Itália, ainda que tendo mais um desafio disputado que os transalpinos. A nível de clubes, o Maccabi Tel Aviv é o único representante ainda em prova, encontra-se na Liga Europa. Na primeira jornada da fase regular, empatou (0-0) com o PAOK, perdendo (3-1) com o Dinamo Zagreb na segunda ronda.