Vinícius Júnior fez birra no Real Madrid onde já não é intocável e pediu desculpa a todos, menos ao treinador
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Ao ser substituído, no clássico contra o Barcelona, pela décima vez em 13 jogos esta época, o brasileiro barafustou com Xabi Alonso e foi direto para o balneário. Depois, pediu publicamente desculpa ao clube e aos adeptos, mas não ao treinador, deixando a polémica latente na equipa onde a sua influência tem decrescido por comparação à rédea solta que Carlo Ancelotti lhe dava
Às vezes, desculpou-se Vinícius Júnior, “a paixão ganha”. Ele “quer sempre ganhar e ajudar” o Real Madrid, o seu “caráter competitivo nasce do amor que sente pelo clube e por tudo o que representa” e daí vêm reações como a de domingo, no Santiago Bernabéu, onde barafustou ao ser substituído durante o clássico contra o Barcelona. Finda uma época em que jamais ganhou ao rival, o Real venceu (2-1), jogou melhor, vergou os catalães, pôs o seu estádio feliz, mas o brasileiro, ao sair do campo e mesmo diante da câmara, preferiu ser a divergência do dia.
“Eu? Eu? Mister, mister! Eu? Vai tomar no **. Sou sempre eu. Vou-me embora da equipa. É melhor ir-me embora”, ouviu-se do desbocado Vini enquanto passou pelo banco de suplentes e se dirigiu para o balneário, sem esboçar uma sequer tímida tentativa de cumprimentar Xabi Alonso, o alvo do momento de fúria que destoou da tarde necessariamente animadora para os merengues: após perder os quatro jogos feitos no curso passado contra o Barça, com 16 golos sofridos pelo meio, superou sem espinhas os culés e aumentou para cinco pontos a vantagem na liderança da La Liga.
O ato pouco bonito ato do brasileiro haveria de entroncar no treinador, que fintou o assunto na sala de imprensa após o clássico, apenas deixando um “claro que sim” a quem lhe perguntou se iria falar com o jogador. Se o fez, Vinícius não o evidenciou.
O brasileiro tardou três dias a reagir ao sucedido. Escreveu nas redes sociais como é seu hábito, dirigindo-se “a todos os madridistas” para “pedir desculpas” pela sua reação “ao ser substituído”. Vini Júnior alegou a paixão que lhe exacerba os comportamentos, contou que se retratou “no treino” de quarta-feira e reforçou o pedido de perdão “aos companheiros, clube e presidente”. A omissão e a coincidência impediram que a mensagem do jogador desligasse por completo o bico do lume da polémica: mencionou todos menos Xabi Alonso.
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Incumbido com dar ordem e método ao Real Madrid por contraste com a trela comprida que preconizava Carlo Ancelotti, italiano que orientou a equipa nas últimas quatro épocas (e agora o treina na seleção brasileira), por sinal as melhores da carreira de Vinícius, a vontade do novo técnico em enrijecer os métodos da equipa reduziram a influência do brasileiro. Titular em 10 dos 13 jogos que tem este ano, apenas terminou três e só num dos restantes foi preservado no campo durante mais de 78 minutos. O enfado do volátil atacante, acelerador de jogo por natureza e ávido em bate-bocas com adversários, dever-se-á ao decréscimo da sua influência.
Por oposição, a de Kylian Mbappé vai sendo acentuada. Tem já 16 golos em 13 partidas, é foco na equipa no momento de finalizar as jogadas e até a sua refrescada vontade em correr sem a bola, nas tarefas de pressão, vai impressionando quem se lembra de ler entre as palavras que rodearam a sua saída do Paris Saint-Germain, onde Luis Enrique bem tentou, mas não foi capaz de o motivar a participar nas lides defensivas. Enquanto o gaulês se destaca, o brasileiro não gosta da mudança de estatuto: com Ancelotti, pelas contas do “El País”, cumpriu os 90 minutos em 53,6% dos jogos que disputou; desde a chegada de Xabi Alonso, vai em 30%.
Roda-viva de condutas que ligam o balneário do Real Madrid ao exterior, desde domingo que fontes do clube são citadas nos jornais espanhóis sobre o episódio visto no clássico. Dizem que Vini Júnior é irascível, mas bom rapaz; que não é único a mostrar desagrado face à mão com que o treinador gere a equipa. Outros apontam à dureza de quebrar hábitos, contrastando a figura leve, que via os treinos mais do que os dava, de Ancelotti, com a forma como Alonso, de carácter mais disciplinador, parece “ser mais um jogador” no dia-a-dia dos merengues, escreve o “The Athletic”. E mais: “Ele pensa que é o Pep Guardiola, mas, por enquanto, é apenas o Xabi.”
Se Vinícius pensa que merece mais do que tem recebido - uma face sua nada incomum, vista o ano passado na pirraça geral que o Real Madrid fez, ao não comparecer na gala da Bola de Ouro quando se inteirou de que o brasileiro não seria o vencedor -, algures no meio poderá estar a sintonia possível com a pessoa responsável por lhe dar o que o brasileiro pretende. Escolher não a mencionar nas suas desculpas públicas pode não ter ajudado.