Futebol internacional

De descartado pelo Tottenham a renascido no AZ, Troy Parrott é o novo herói da Irlanda, que volta a estar perto do Mundial

Troy Parrott
Troy Parrott
Stephen McCarthy

Nos últimos dias, o avançado marcou dois golos a Portugal e um hat-trick à Hungria, com o último golo a surgir nos derradeiros segundos do jogo, levando a Irlanda ao playoff de apuramento para o Mundial do próximo ano. Até o Aeroporto de Dublin mudou momentaneamente de nome para homenagear o homem que deixou os irlandeses de novo a sonhar

De descartado pelo Tottenham a renascido no AZ, Troy Parrott é o novo herói da Irlanda, que volta a estar perto do Mundial

Mariana Rebocho

Jornalista

Ficou na memória dos portugueses após marcar dois golos no encontro entre a seleção nacional e a irlandesa e, passados três dias, voltou a fazer história, agora frente à Hungria, com um hat-trick. Aos 23 anos, Troy Parrott tornou-se o rosto da esperança do futebol irlandês.

“É um sonho tornado realidade”, confessou Parrott, visivelmente emocionado, depois de marcar o golo da vitória aos 96 minutos — também o seu terceiro da partida deste domingo — que garantiu à Irlanda a presença no play-off e a possibilidade de lutar por um lugar no Mundial do próximo ano.

O hat-trick marcado por Parrott fez os irlandeses regressarem mentalmente a 2002, o último ano em que a seleção conseguiu apurar-se para um Mundial, reacendendo a sensação de que o país pode voltar à competição passados 23 anos. O desempenho do avançado trouxe uma onda de entusiasmo e fez renascer memórias de outras eras de sucesso.

Muitos adeptos comparam o jogador de 23 anos a Robbie Keane, antigo capitão e um dos maiores marcadores da história da seleção irlandesa, autor de vários hat-tricks ao longo da carreira, incluindo o realizado frente às Ilhas Faroé nas qualificações para o Euro 2012. A referência a Keane é recorrente, não apenas pela capacidade de marcar golos, mas também pela forma como Parrott parece surgir nos momentos decisivos, como o golo que Keane marcou à Alemanha nesse mesmo Mundial de 2002, empatando no derradeiro minuto o confronto das equipas na fase de grupos.

Os festejos pelo país ganharam proporções significativas. O número sete da Irlanda foi rapidamente apelidado de herói nacional, e até o Aeroporto de Dublin entrou na brincadeira nas redes sociais, sugerindo — em tom de humor — renomear-se “Aeroporto Troy Parrott”.

Um talento que despertou interesse

Desde muito jovem, Parrott demonstrou um talento acima da média. Aos 17 anos, despertou o interesse de clubes como Barcelona, Bayern Munique, Juventus e Real Madrid. Um dirigente do Belvedere, o pequeno clube onde começou a jogar, afirmou à RTE que o avançado recebeu propostas de vários gigantes europeus. Mesmo assim, optou pelo Tottenham, seguindo os passos de Robbie Keane.

A experiência nos Spurs, porém, foi curta e pouco produtiva. O clube acreditava no seu potencial, mas nunca lhe proporcionou a continuidade competitiva necessária para evoluir. Entre empréstimos discretos ao Millwall, Ipswich e Preston, e alguns problemas físicos, Parrott perdeu confiança e viu a carreira estagnar, tornando-se um jogador sem rumo definido e incapaz de justificar o entusiasmo criado nas camadas jovens.

Pelo Tottenham, somou apenas quatro titularidades — três delas sob o comando de José Mourinho em 2019/20 — e não marcou qualquer golo.

O ponto de viragem surgiu nos Países Baixos, onde encontrou o ambiente ideal para recuperar o melhor futebol. Começou no Excelsior, na temporada 2023/2024, recuperando confiança, reencontrando o golo e voltando a assumir um papel de destaque. No AZ Alkmaar, deu o passo seguinte e afirmou-se como avançado de referência. Em 2025, com 14 jogos realizados, somou 13 golos, seis na Eredivisie e sete na Conference League, tornando-se um dos jogadores mais produtivos do campeonato neerlandês.

Esse renascimento refletiu-se de imediato na seleção irlandesa. A equipa, que desde a retirada de Robbie Keane carecia de um marcador fiável, procurava alguém capaz de assumir o protagonismo ofensivo. Parrott respondeu com golos decisivos e exibições de maturidade, revelando uma frieza que parecia ter desaparecido nos anos difíceis em Inglaterra. Com isso, voltou a afirmar-se como peça determinante nos planos da Irlanda.

Maturidade e liderança

A capacidade de atacar espaços, a agressividade na pressão e a eficácia na finalização deram um novo fôlego à equipa irlandesa, que voltou a apresentar um futebol mais fluido e menos previsível.

Com esse contributo, a seleção recuperou terreno na classificação e reforçou a possibilidade de regressar ao Mundial, ainda que o desfecho da qualificação dependa dos resultados que se seguem.

O papel de Parrott tem sido determinante para a competitividade atual da equipa, não apenas pelos golos, mas pela forma como a sua evolução se reflete no próprio modelo de jogo.

Hoje, apresenta-se como um avançado mais completo, com movimentos inteligentes entre linhas, maior clareza na finalização e uma capacidade crescente de assumir responsabilidades nos momentos decisivos.

Para muitos irlandeses, esta maturidade coloca-o no mesmo patamar emocional de antigos ídolos nacionais, fortalecendo a perceção de que pode liderar uma nova fase do futebol do país. Com a selecção, Parrott tem agora a oportunidade de escrever um capítulo relevante da história irlandesa e de se afirmar como referência para a próxima geração.

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