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As bolas paradas resgatam a crença do Manchester United de Amorim

As bolas paradas resgatam a crença do Manchester United de Amorim
Shaun Brooks - CameraSport

Os red devils responderam a três jornadas seguidas sem vencer com um importante triunfo (2-1) diante do Crystal Palace. Os londrinos marcaram primeiro, mas Zirkzee e Mount, após livres batidos por Bruno Fernandes, fizeram a reviravolta

As bolas paradas resgatam a crença do Manchester United de Amorim

Pedro Barata

Jornalista

A Premier League tornou-se a liga das bolas paradas. Tudo se faz em função daqueles momentos, há especialistas só para livres ou cantos, há toda uma série de coreografias prévias ao mais simples dos lançamentos de linha lateral. A célebre fluidez do jogo inglês, o deixa jogar britânico, é regularmente interrompido pela demora em saber a que páginas da enciclopédia é que vamos buscar a jogada ensaiada número 65B, com a variação Y.

Em Londres, deu-se mais um confronto marcado por estes momentos. Três golos, três de bola parada. Só que, desta vez, elas tiveram o efeito de resgatar o Manchester United do buraco em que a equipa se arriscava meter.

Após a derrota diante do Everton, o registo da equipa de Ruben Amorim mostrava que, em novembro, havia meros dois pontos obtidos após três jornadas realizadas. Treinador do mês de outubro, esta quebra é a evidência estatística da montanha-russa em que os red devils viviam.

Durante 45 minutos, parecia mesmo que o United se encaminhava para nova desilusão. O técnico português não quer voltar ao estado mental da época passada, a ser um conjunto que tem medo da própria sombra, temendo fantasmas diversos. Os livres resgataram-no após o intervalo.

O pontapé de saída deu-se com o Selhurst Park a apresentar as cores clássicas de um encontro londrino da Premier League em novembro. Uma mistura de luz e sombra, o sol a brilhar, mas um sol que parecia frio, sensação que aumentava ao ver as luzes que Ruben Amorim vestia. A partida foi seguindo o jogo do claro/escuro que as sombras proponham, umas vezes com o campo mais iluminado, outras com um tom mais negro.

Joshua Kirkzee faz o 1-1
Ash Donelon

Durante boa parte do desafio, o Manchester United empenhou-se em mostrar-nos defeitos recorrentes desta equipa. Frágil nos duelos perante o vigor do Palace; dificuldades para valorizar a posse; pouco desequilíbrio, problema que aumentava ao contestar que Matheus Cunha e Šeško estão lesionados.

Do outro lado estava uma daquelas equipas que vive na antítese do United. Onde uns são um gigante cheio de pressão, inundado de falatório, outros são locais onde se trabalha com tranquilidade, com sorrisos, consistente. Uma equipa coerente, construída sem ter de ouvir Rio Ferdinand permanentemente a colocar em causa o que se faz.

Somente de bola parada, claro, conseguiram os visitantes criar problemas aos locais no primeiro tempo. Do outro lado, Mateta ia ganhando duelos a Yoro ou De Ligt, ainda que sem eficácia na cara de Lammens. Pino também não teve êxito em excelente posição, mas o jogo apresentava uma familiar sensação de um autocarro a medir forças contra um monolugar.

Na antevisão, Ruben Amorim disse que o Manchester United tem sido "demasiado soft" nas áreas. Leny Yoro levou a mensagem à letra e resolveu derrubar um Mateta e fazer penálti. Na primeira vez que executou o castigo máximo, o francês tocou, involuntariamente, duas vezes na bola, levando à repetição. À segunda, voltou a enganar Lammens, levando os londrinos para o descanso na frente.

Mateta faz o 1-0
Jordan Pettitt - PA Images

O segundo tempo foi o oposto do costume para o United. Habitualmente, tudo o que pode correr mal, corre mesmo mal. Aqui, à menor nesga, a equipa agarrou-se à boa onda, marcou duas vezes, aguentou.

Primeiro foi Joshua Zirkzee, expoente máximo da espécie do avançado sem golo, autor de meros sete remates certeiros em 55 compromissos pelos red devils até este desafio. O neerlandês recebeu um livre de Bruno Fernandes, encheu-se de fé em ângulo improvável e bateu Dean Henderson, que já era um respeitável guardião de chapéu, tentando contrariar o sol que lhe batia na face. Zirkzee não marcada desde abril.

O 1-1 foi aos 54', o 2-1 aos 63'. Outro livre, de novo Bruno Fernandes na bola. O português tocou para Mason Mount, que aproveitou a descoordenação na barreira dos da casa.

Em desvantagem, o Palace pareceu picado pelo vírus da precipitação, esquecendo os seus padrões e rotinas e fazendo Glasner parecer um homem muito irritado na linha lateral. Nunca os vencedores da FA Cup estiveram perto do 2-1. As águias não perdiam em casa no campeonato desde fevereiro. Por um dia, Ruben Amorim regatou a crença, a esperança num futuro menos traumático.

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