Jackson estica-se, não todo, não muito, atirando a perna direita para a frente. O sítio onde está é bom, ensanduichado entre Jardel, que tem nas costas, e Rúben Dias, o central que lhe antecipa o movimento e se coloca entre ele e o lugar de onde vem a bola, vinda de Manafá, o destro lateral do Portimonense que joga à esquerda.
Ele não está entre o colombiano da má fortuna e a baliza, para a qual desvia o cruzamento com a sua perna direita, esta projetada e esticada ao máximo, desesperada por deter o que era suposto chegar ao fantasma cambaleante, dorido e por vezes coxo, da sombra de um Jackson Martínez passado - mas, provavelmente, chegaria às mãos de Odysseas, urgente a sair de entre os postos, talvez calado a avisar Rúben Dias dessa urgência.
O golo em Portimão é um auto-golo do central do Benfica e um cerrar de dentes para o colombiano, esganado de dor, a coxear por segundos, a sentir a dor talvez como a sente “todas as noites, às três ou às quatro da manhã, como se fosse um relógio”, admitiu, em entrevista ao "Record". Ignora-a, não desiste, continua em jogo.
E o Benfica segue também, inalterável na forma linear, previsível e até pouco crente com que tenta fazer o caminho entre a sua baliza e contrária, caminhando-o muito pelas laterais, onde está o número 10 que habita dentro de Grimaldo (de um lado) e o potencial criativo, se gente houver com quem se associar, de Zivkovic (do outro).
Caminho que raramente caminha pelo centro, onde Fejsa se esconde entre os centrais e passa para o lado, Pizzi não joga entre linhas, Gedson existe mais para lutar e Jonas é uma ilha que se mexe em perseguição de bolas longas e aéreas, sem nexo. O caminho, palavra tão querida a Rui Vitória, treinador-explicador que, antes, explicou como a equipa, a atacar, teria “de criar situações variadas” para o adversário “não estabilizar”. Como quem diz, não se habituar a uma maneira de fazer as coisas.
O Portimonense, como outro qualquer adversário que faça o devido trabalho de casa, saberia da uniformidade deste Benfica previsível, lento e pouco agressivo a dividir bolas com Paulinho e Pedro Sá, sempre reativo às iniciativas de Nakajima e nunca ativo para as evitar, ou cortá-las logo ao início, quando o japonês recebia bolas.
E um Benfica a subestimar o corpo decadente Jackson, na pessoa de Rúben Dias, que também se poderá, apenas, ter desconcetrado no erro de olhar só para onde está a bola (Nakajima) e não ver o colombiano a fugir-lhe pelas costas para a Shoya japonesa lhe picar um passe e Jardel tentar cortar, atrapalhadamente, o remate que Jackson pica por cima do guarda-redes.
O segundo golo em Portimão é segundo auto-golo de outro central do Benfica, a equipa que precisa de ganhar, mas que não tem a “abordagem diferente”, ou diferenciada para lá de tabelas tentadas pelas alas, ou de lançamentos laterais longos, para a área. Da ressaca de um, Jardel cabeceou uma bola cruzada por Zivkovic. Perigo q.b., o único que criou.
A diferença possível apareceu com Seferovic, que entraria e daria a segunda referência para a equipa cruzar - sem ser da linha de fundo, rasteiro e para trás -, para fixar outro central do Portimonense e, quiçá, fazer um médio recuar uns metros caso Jonas se mantivesse perto dos defesas.
Ele e a restante equipa, quando falhada a primeira pressão que continuaram a tentar à frente, na metade do campo adversária, recuaram. O Benfica aumentou, não muito, a intensidade a agir com bola, sem contrariar o provérbio que mistura água mole com pedra dura. Sem variar, sem ser diferente, até sem Jonas a forçar coisas novas.
Grimaldo era o gerador de qualquer jogada, que se desgastava e cansava com tanta condução de bola para bater o primeiro adversário e gerar um desequilíbrio. Pizzi foi-se apagando, igualmente abatido por, agora, ser um de dois médios e o outro chamar-se Fejsa, incapaz de construir em modo vertical. Salvio entrou ao intervalo e durou dois raides junto à linha.
Uma equipa a jogar como um conjunto de jogadores e não como um verdadeiro coletivo de ideias, que não a formatada construção pela lateral esquerda e a dependência na inspiração de Jonas, gerou isto: dois cruzamentos para Seferovic cabecear, sem acerto; e um canto curto, em que Pizzi atraiu atenções para libertar Grimaldo, cujo remate foi desviado e quase entrou na baliza.
Na outra, as transições e contra-ataques rápidos, sempre com Nakajima e Paulinho metidos, algures, na jogada, colocam o Portimonense no lado bom do perigo. O médio terminou uma saída na área, a cortar para dentro e a rematar, em arco. Manafá, o pujante, técnico e galopante lateral, picou outra. Em ambas, Odysseas alongou os membros e parou as tentativas, para terminar como o melhor que o Benfica teve em campo.
Este Benfica, que não pode culpar o azar, o infortúnio, o futebol ser mesmo assim ou até a expulsão de Jonas (72’), que esticou o pé para chegar a um cruzamento e tocou na cara do guarda-redes quando o encolheu. O Benfica perdeu porque foi previsível, mecânico e insistente numa abordagem que já se esperava, porque já foi vista e repetida e tentada.
Foi derrotado por um Portimonense que é uma equipa ofensiva, intensa, simples na maneira como escolhe atacar e já está em sexto lugar. O Benfica, cada vez mais uma equipa a remoer a própria previsibilidade de fazer as coisas e forma unilateral com que ataca, fica, para já, na terceira posição - e interrompeu a fase de retoma.