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Júlio Magalhães: “Reserva da vida privada foi a única condição que acautelei na divulgação dos 'e-mails'”

Diretor geral do Porto Canal garante que não conhecia teor dos 'e-mails' até à respetiva divulgação e que Pedro Guerra e Adão Mendes foram convidados a fazer o contraditório

Júlio Magalhães: “Reserva da vida privada foi a única condição que acautelei na divulgação dos 'e-mails'”

Isabel Paulo

Jornalista

Júlio Magalhães, ouvido no âmbito do processo dos 'e-mails', movido pelo Benfica ao FC Porto, afirmou, esta quinta-feira, que nunca teve conhecimento prévio dos conteúdos das mensagens divulgadas pelo Porto Canal entre abril de 2017 e fevereiro de 2018, altura em que o Tribunal da Relação do Porto proibiu a difusão de correspondência internada do clube da Luz.

O diretor geral da estação televisiva do FC Porto explicou não ter qualquer interferência nos programas de informação da grelha de conteúdos específicos dedicada ao universo azul-e-branco, que têm “uma redação própria”, dirigida pelo diretor de comunicação e informação do clube e do canal, Francisco J. Marques. Júlio Magalhães adiantou, contudo, que a única condição que acautelou foi a da “reserva da vida privada” dos visados, garantindo ainda que tudo o que tem interesse jornalístico “é investigado e tratado como tal”.

Entre os visados convidados a reagir e a fazer o contraditório, o diretor do Porto Canal adiantou os nomes de Pedro Guerra, ex-diretor de conteúdos da Benfica TV e o ex-árbitro Adão Mendes. “Nunca obtivemos resposta nem nunca acionaram o direito de resposta”, garantiu, no Tribunal Central Cível do Porto, acrescentando que o interesse público da informação divulgada foi alvo de ampla investigação e cobertura dos jornais desportivos e generalistas a nível nacional.

Questionado sobre a veracidade do teor dos 'e-mails', sublinhou que “confia nos jornalistas” da redação, além de que ninguém o contactou a negar o respetivo conteúdo e garantiu ainda que não recebe “diretivas ou encomendas” de Adelino Caldeira, administrador da SAD do FC Porto e da Porto Media, detentora do canal. Intorrogado se Pinto da Costa interfere na informação, Júlio Magalhães respondeu “nunca, nem liga”, mas que apenas aparece nas reuniões semanais, em que participa também Caldeira.

Apesar de o Universo Porto - Da Bancada ter registado nos programas de divulgação e debate dos 'e-mails' picos de audiência muito superiores ao 'share' habitual (média de 0,3% ou 0,4%), chegando a atingir 1,3% de 'share', o diretor geral afiança que este desempenho não proporcionou proveitos financeiros, uma vez que quem cobre em 90% orçamento do Porto Canal é a Altice, com quem o Porto Canal tem contrato de exclusividade. O resto da receita é proveniente da publicidade e conteúdos financiados. “Os picos de audiência são economicamente irrelevantes”, concluiu.

“Ou são burros ou mentem descaradamente”, diz juiz

O assessor da administração portista e dos Serviços Partilhados do FC Porto SAD, Ricardo Martins, também afirmou que os €7 milhões de orçamento do canal televisivo são quase totalmente suportados pelo contrato com a Altice, sendo as receitas de publicidade de €200 mil por ano. Ricardo Martins garantiu não saber a partir de quando o FC Porto começou a receber 'e-mails' internos do Benfica no correio eletrónico, nem soube do conteúdo, de que só teve conhecimento após a sua divulgação. “Nunca falei com ninguém sobre os 'e-mails'”, referiu, negando ainda saber quando foram entregues às autoridades.

Confrontado pelo juiz sobre um documento do processo, do qual constam planos de treino e relatórios individuais sobre os jogadores do Benfica, também adiantou desconhecê-los ou se foram importantes para a gestão da SAD. Não há dúvida de que foram entregues pela SAD do FC Porto à Polícia Judiciária. “Se o FC Porto teve esses elementos e não os analisou ou são burros e não sabem o que fazem ou andam a mentir descaradamente”, rematou o juiz do processo Paulo Teixeira, advertindo que nesta ação o que está em causa é a eventual existência de concorrência desleal devido ao acesso do FC porto a correspondência eletrónica interna do Benfica.

Diretores de jornais alegam interesse público

Chamados a depor como testemunhas arroladas pelo FC Porto, o ex-diretor do Expresso, Pedro Santos Guerreiro, e os diretores do Jornal de Notícias, Domingos de Andrade, e da revista Sábado, Eduardo Dâmaso, afirmaram que alguns dos 'e-mails' divulgados eram do interesse público e tinham relevância jornalística. Pedro Santos Guerreiro salientou que só “em situações de especial relevância” foram divulgados conteúdos de correspondência, tendo sido publicados de forma contextualizada, após confirmação dos factos e investigação jornalística. No caso em que não foi possível fazer o contraditório, Santos Guerreiro referiu ainda que os visados foram confrontados com os factos por escrito.

Domingos de Andrade e Eduardo Dâmaso também salientaram o interesse público da informação divulgada e investigada a partir da correspondência divulgada, após investigação das respetivas redações.

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