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Os sócios do Vitória vão votar a venda de 46% da SAD a uma das “300 maiores fortunas do mundo” que “pretende” estar no clube

Os sócios do Vitória vão votar a venda de 46% da SAD a uma das “300 maiores fortunas do mundo” que “pretende” estar no clube
Octavio Passos
António Miguel Cardoso garante que “a maioria” da SAD é do Vitória e ficará no Vitória. Em dia para os sócios votarem a entrada do fundo V Sports, dos donos do Aston Villa, em 46% das ações a troco de €5,5 milhões, o presidente do clube de Guimarães respondeu à Tribuna Expresso que “só em caso de absoluta necessidade” irá recorrer à linha de crédito de €20 milhões prevista nesse acordo: “Financeiramente as coisas estão difíceis, são necessários parceiros e nós encontrámos alguém que é um bom músculo financeiro. Mais do que os números, o importante é a qualidade do parceiro”

Esta sexta-feira, pelas 20h15, os sócios do Vitória Sport Clube estarão no pavilhão do clube, em Guimarães, reunidos para se pronunciarem sobre o princípio de acordo para a venda de 46% das ações da SAD ao V Sports, um fundo que corteja o clube há cerca de dois anos e será “um bom músculo financeiro para a valorização” do clube. Quem o defende é António Miguel Cardoso, o presidente que nos últimos dias se desdobrou em sessões de esclarecimento perante os associados do clube, a explicar os porquês, os comos e as dúvidas em torno da entrada de investidores estrangeiros no capital da sociedade desportiva.

Eleito em março do ano passado, António Miguel Cardoso foi quem surgiu sorridente, há semanas, na foto publicada no site do Vitória a dar um passou-bem a Nassef Sawiris a anunciar o tal princípio de acordo. Egipcío de 62 anos, o empresário dispõe de uma fortuna avaliada em cerca de €8,1 mil milhões pela revista “Forbes”, que o descreve como o “mais rico do mundo árabe”. Um sumário dos seus investimentos conhecidos é suficiente para se ter uma noção: filho do fundador da Orascom, gigante da construção, é líder da OCI, líder mundial na produção de fertilizantes de nitrogénio, tem 6% da Adidas e 5% da Madison Square Garden Sports, dona dos New York Knicks, da NBA, e dos New York Rangers, da NHL, a liga norte-americana de hóquei no gelo.

Nas palavras do presidente do Vitória, “é de realçar que alguém que está nas 300 maiores fortunas do mundo pretende estar ao lado” do clube “de forma a potenciar o seu investimento”. E na tal foto do aperto de mão, no cumprimento também estava figurativamente Wes Edens, proprietário dos Milwaukee Bucks da NBA e da Cicoro, marca de tequilla que fundou com Michael Jordan. Com o norte-americano criou o V Sports, fundo que comprou a totalidade do Aston Villa em 2019. É a este pacote endinheirado que os sócios do Vitória votarão a venda de 46% das ações da SAD.

Caso seja aprovada, será a segunda entrada em cinco meses de um investidor estrangeiro no capital social de um clube da I Liga - e logo noutro do MInho, que há décadas se esforça por morder os calcanhares aos ditos ‘grandes’ com meios desiguais. Em outubro, a Qatar Sports Investment (QSI), dona do Paris Saint-Germain, comprou 21,67% das ações da SAD do SC Braga, apesar de não envolver diretamente o clube porque essa participação pertencia à Olivedesportos, de Joaquim Oliveira.

O valor do negócio não foi revelado (falou em cerca de €20 milhões), mas fonte oficial da QSI - que detém participações no New York City, Melbourne City, Montevideo City Torque, Troyes, Lommel, Mumbai City, Girona, Sichuan Jiuniu, Yokohama Marinos e Palermo - admitiu à Tribuna Expresso que o objetivo é ajudar o clube bracarense “a atingir todo o seu potencial” e torná-lo “num PSG”, rejeitando a ideia de ser um investidor para “chegar, ver e vender”. Podemos estar a horas de os dois clubes que, historicamente, mais vezes e com mais força batem o pé a Benfica, FC Porto e Sporting, terem na sua SAD investidores obesos em dinheiro para os ajudarem a reduzir essa distância.

Que argumentos vai o presidente apresentar aos sócios para que aprovem o princípio de acordo para o fundo V Sports adquirir 46% das ações da SAD do Vitória por €5,5 milhões?
Todos sabemos que o Vitória passa por um período complicado, financeiramente as coisas estão difíceis numa altura em que o futebol tem vindo a modernizar-se. São necessários parceiros e nós encontrámos alguém que é um bom músculo financeiro para a valorização do Vitória. São pessoas sérias, credíveis, estamos a falar de uma das maiores fortunas do mundo. É de realçar que alguém que está nas 300 maiores fortunas do mundo pretende estar ao lado do Vitória, de forma a potenciar o seu investimento. O importante para nós, mais do que os números em causa, é a qualidade do parceiro. Sabemos que em momentos de dificuldade estarão ao nosso lado. É essencial que os sócios percebam que dentro desta parceria a maioria é do Vitória, é do clube. Sempre disse isso. Vim para o Vitória para defender o clube, a cidade e não para me valorizar. Vim para fazer tudo o que puder para que o Vitória possa crescer.

Ter tamanha fatia da SAD nas mãos de um investidor estrangeiro é bom para o clube?
É essencial que os sócios percebam que dentro desta parceria a maioria é do Vitória, é do clube. Sempre disse isso. Vim para o Vitória para defender o clube, a cidade e não para me valorizar. Vim para fazer tudo o que puder para que o Vitória possa crescer. Queremos mais vitórias, queremos que o clube cresça e é importante que isso seja feito mais rapidamente. Se não for assim, estamos cá para o caminho das pedras e não há problema nenhum porque é o caminho que temos feito. Com mais dificuldades e problemas, provavelmente com maior necessidade de venda de ativos e não fugimos.

No comunicado emitido pelo Vitória a 14 de fevereiro lê-se que será possível o clube aceder a uma linha de crédito de €20 milhões com “taxa de juro sob condições preferenciais”. Que condições são essas? As garantias que o clube terá de prestar ao fundo caso venha a acionar essa linha de crédito poderão colocar em causa a maioria na SAD?
O pagamento ocorrerá ao fim de cinco anos, sendo que nos dois primeiros anos existe carência no pagamento dos juros associados, mas só em caso de absoluta necessidade é que o Vitória SC recorrerá a esse financiamento. E essa linha de crédito poderá usada de forma avulsa, sem obrigatoriedade de utilização total. As amortizações serão exequíveis a qualquer momento, com os juros a serem calculados somente em função dos montantes solicitados. Em termos globais, a taxa de juro está fixada em 5,5% sem comissionamentos sobre o valor utilizado. O pagamento terá de ocorrer ao fim de cinco anos, com carência no pagamento dos juros associados nos dois primeiros anos. De resto, não há qualquer risco de o Vitória SC perder a maioria na SAD em caso de incumprimento. As garantias para essa linha de crédito são as rendas, bilhética e rendimentos das quotizações, os direitos televisivos e os passes de jogadores.

O clube informou ainda que a V Sports “suportará um investimento de €2 milhões em infraestruturas”. Especificamente, quais?
Esse investimento será aplicado na conclusão das obras da Academia e em melhorias no Estádio D. Afonso Henriques.

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