Futebol nacional

Liga de Clubes quer tecnologia da linha de golo no campeonato já na próxima época, mas será que vale os custos milionários que implica?

Liga de Clubes quer tecnologia da linha de golo no campeonato já na próxima época, mas será que vale os custos milionários que implica?
Alex Livesey - UEFA

Pedro Proença diz que a Liga Portugal está a trabalhar para que a I Liga possa usar a tecnologia já em 2024/25. Portugal seria apenas o terceiro campeonato fora das Big 5 a dispor desta inovação que já é uma realidade na Premier League desde 2013, mas que obriga a um investimento de milhões para equipar os estádios - em prol de situações que, estatisticamente, são pouco prováveis de acontecer

A novidade surge em poucas linhas entrelaçadas a meio do texto ‘O Futebol És Tu!’, escrito por Pedro Proença, líder da Liga Portugal, para a edição desta sexta-feira do Expresso. Nele, Proença anuncia que a Liga está a “trabalhar para que, em 2024/25, a Liga Portugal Betclic conte com a Goal Line Technology”. Será de esperar, então, que a I Liga se torne, daqui a um ano, apenas no terceiro campeonato fora das Big 5 com a tecnologia da linha de golo, que permite, através de um intrincado sistema de câmaras dispostas no estádio, capazes de gravar 400 frames em alta definição por segundo, perceber se uma bola entrou na totalidade na baliza, tirando a limpo possíveis lances de dúvida.

O anúncio não é novo. Em abril de 2019, uma publicação da revista das Jornadas Anuais da Liga Portugal falava do objetivo para que a tecnologia da linha de golo fosse uma realidade em Portugal logo em 2019/20, mas tal acabaria por não acontecer. A tecnologia foi usada esporadicamente no nosso país em finais da Taça da Liga, a primeira das quais em 2015.

Poderá ser, então, aposta definitiva em 2024/25, o que colocaria o principal campeonato do nosso país a par com a Premier League, pioneira na adoção da tecnologia, em 2013, Serie A, Bundesliga e Ligue 1, além do Championship, a segunda divisão inglesa, e da Eredivisie, a liga dos Países Baixos. A La Liga é, entre as principais ligas europeias, a única que não dispõe de tecnologia da linha de golo e isso prende-se, essencialmente, com questões financeiras, já que se trata de uma inovação cara, muito cara, e com uma utilização reduzida, porque os lances de dúvida na linha de golo não são frequentes. Além disso, é uma tecnologia que obriga a ultrapassar questões operacionais, de logística, já que todos os estádios, independentemente das condições, têm de receber obras para a sua instalação.

Investimento forte

Há neste momento duas empresas licenciadas pela FIFA para a instalação da tecnologia da linha de golo nos estádios: a Hawk-Eye e a Vieww, anteriormente conhecida por GoalControl.

A Vieww é a que apresenta orçamentos mais modestos, mas que ainda assim obrigam a um investimento avultado. O custo de primeiro ano, de instalação da tecnologia em todos os estádios da nossa liga, andaria à volta dos 4 milhões e 700 mil euros. Nos anos seguintes, custaria cerca de um milhão e 200 mil euros.

A Hawk-Eye, que apareceu em força no ténis no início do século e apresenta agora soluções tecnológicas para um sem-fim de desportos, é ainda mais cara: cerca de 11 milhões de euros de instalação no primeiro ano e 2 milhões e 300 mil euros nos anos seguintes. Os custos são sempre variáveis consoante das condições dos estádios. De acordo com uma lista disponibilizada pela FIFA, Portugal tem neste momento quatro estádios com a tecnologia instalada: Luz, Dragão, Municipal de Braga e Alvalade.

Os milímetros detatados pela tecnologia e que permitiram à Suécia passar aos 'quartos' do Mundial feminino
Alex Pantling - FIFA

Estes são gastos que ajudarão na transparência e na verdade desportiva, mas muitos ainda torcem o nariz, já que a relação custo/benefício nem sempre será equilibrada. Em 2014, quando ainda era presidente da UEFA, Michel Platini mostrou-se contra o investimento na tecnologia de linha de golo precisamente por causa dessa relação descompensada: “Não vejo o porquê de gastarmos milhões de euros num sistema para detetar um erro que acontece uma vez em 40 anos.”

Porém, em Portugal não haverá quem não se lembre daquele remate de Petit num Benfica-FC Porto em 2004/05, em que a bola terá entrado na baliza de Vítor Baía. O FC Porto venceria esse jogo por 1-0. Ou ainda do golo que não foi de Cristiano Ronaldo na Sérvia, na qualificação para o Mundial do Catar, com a bola a passar a linha de golo antes de ser cortada por um defesa adversário. Sem VAR ou tecnologia de linha de golo disponíveis no estádio, o lance não seria revisto e uma mais que provável vitória para a seleção nacional acabou em empate. E Portugal foi mesmo obrigado a ir ao play-off para jogar o Mundial de 2022.

Ainda esta sexta-feira, no Japão-Suécia do Mundial feminino, houve dois lances de dúvida na baliza sueca, rapidamente resolvidos já que os Mundiais de nível sénior organizados pela FIFA têm tecnologia de linha de golo desde 2014. A mesma Suécia que poderá agradecer também à tecnologia o pontapé de penálti validado que lhe deu o triunfo nos oitavos de final frente aos Estados Unidos - foi uma questão de milímetros, mas o remate de Hurtig, que ainda foi defletido por Naeher, entrou mesmo, para festa das nórdicas.

Por outro lado, em 2015, um estudo da Universidade Técnica de Munique analisou 1.167 jogos da primeira e segunda divisões da Alemanha e uma média de 16,8 decisões críticas na linha de golo por temporada foram encontradas, 76,6% das quais seriam resolúveis utilizando apenas VAR. Apenas 5% dos lances de dúvida na área estavam relacionados com questões de linha de golo, com o estudo a concluir que, olhando para o custo-benefício, “a utilização de vídeo será mais adequada”.

Nas palavras de Pedro Proença, “os adeptos merecem um futebol mais transparente”. E, para tal, será preciso abrir os cordões à bolsa. No próximo ano, o investimento poderá ser uma realidade nos estádios portugueses.

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