Um sussurro de um passarinho que não é um passarinho indicou que os verdadeiros andam por ali, no café Antão.
Não está muita gente, são praticamente 10 horas da manhã, mas há uma mesa com quatro magos da sabedoria local. Fala-se da guerra por breves segundos. “Boa noite, bom dia, ou o que for”, diz um homem acabadinho de chegar, talvez entornado, talvez na ressaca de uma noite eterna, ou de uma longa manhã. Ou, quem sabe, de uma ímpar e fabulosa viagem no tempo. Há quatro mesas de snooker, molduras várias com matérias relativas ao Farense, uma instituição fundada em 1910, veem-se 11 homens juntos e congelados e fardados de outros tempos e anúncios de natureza duvidosa (porque geram mesmo dúvida).
Nestes quatro homens contam-se muitos anos de associativismo ou seguidismo ao clube da terra. Queixam-se das quotas, mas principalmente de pagar bilhetes para depois aparecer ao lado alguém com um convite. O código de acesso ao coração daquela gente é fácil, tem duas palavras: anos noventa. “Óóóóó, esses tempos foram bons, foram gloriosos”, diz Manuel. “Jogavam Hassan, Hajry, o treinador era o Paco Fortes, ainda o vi jogar quando veio de Espanha. Era sócio nessa altura, voltei a fazer-me sócio este ano.” Se há cidade salpicada pela nostalgia é esta. O tradicional “antigamente é que era bom” é um bem necessário, escorre de qualquer algibeira.
Como não? Celebram-se mais ou menos por estas alturas os 30 anos daquela fase mágica do Farense, com dois sextos lugares e um quinto, que garantiu o inédito acesso à Taça UEFA.
“Antigamente era diferente. Havia mais garra, sei lá, dos jogadores e das pessoas também”, confirma Manuel, nem por isso desencantado apesar do peso das palavras. O grupo de amigos, que se esticar o pescoço tem vista para o Estádio de São Luís, lamenta que os mais jovens andem seduzidos pelas cantigas dos três clubes mais titulados do país.
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