Viram-se desacatos nas redondezas do estádio do Famalicão após se saber do adiamento do jogo com o Sporting devido à falta de policiamento e Duarte Gomes escrever que o problema é o impacto terrível que têm “os outros” adeptos, a tal minoria crescente que não vai à bola para apoiar o clube nem para se divertir com os amigos: “Há cada vez mais gente que já percebeu que o futebol, espaço de massas e emoções exacerbadas, é terreno fértil para criar desordem e caos.”
Se olharmos para aquele que é o comportamento generalizado dos adeptos de futebol - os que pagam quotas, vão a estádios e acompanham as equipas - é justo afirmar que é globalmente correto.
Tenho para mim que a maioria das pessoas é bem formada, sabe estar e, com mais ou menos tolerância, mais ou menos fair-play, tem noção dos seus limites. O problema é o impacto terrível que têm os outros, a tal minoria crescente que não vai à bola para apoiar o clube nem para se divertir com os amigos.
O hooliganismo existe em Portugal. É bom que tenhamos noção disso. Pode não ter (ainda) a expressão insana que vemos noutras paragens, mas há sinais evidentes que não devemos ignorar.
Independentemente das causas sociais e políticas associadas à expansão dessa realidade, a verdade é que há cada vez mais gente que já percebeu que o futebol, espaço de massas e emoções exacerbadas, é terreno fértil para criar desordem e caos.
E, infelizmente, parece haver cada vez mais pessoas assim, sedentas de confusão e problemas. Pessoas que por terem infâncias difíceis, vidas desajustadas ou apenas mentes disfuncionais, sentem uma necessidade enorme de destruir, ofender, vandalizar ou bater em tudo o que mexe. Fazem-no com uma raiva preocupante e de forma descontrolada, sem consciência, sem controlo, sem limites.
Sem prejuízo de serem mais ou menos jovens, de terem (ou não) agenda política ou apenas precisarem do caos e desordem para legitimar a sua existência, o certo é que causam danos sérios à imagem do jogo e põem em risco a segurança de terceiros.
Têm que ser erradicadas do desporto. Não há volta a dar.
É preciso criar mecanismos ainda mais eficazes no sentido de os sinalizar, sancionar e afastar dos sítios onde estão outras pessoas que têm direito a usufruir da sua paixão, em paz e segurança, sem receio de serem agredidas à pedrada.
No fim de semana ficou claro que muitas dessas alminhas estavam contidas pela presença dissuasora das autoridades, como cão raivoso com açaime apertado. Assim que a malha abriu um bocadinho, foi o que se viu.
Um cheirinho apenas da desordem profunda que a ausência de autoridade pode criar.
O futebol ainda não é o lugar que gostávamos que fosse, o que não faz sentido em Portugal, país democrático há quase cinquenta anos e sétimo mais seguro do mundo.
Não é suposto que permitamos a proliferação contínua dessas ervas daninhas, porque elas podem danificar seriamente a imagem e valor de um espetáculo que é suposto ser agregador.
Rixas combinadas via redes sociais, casuals de capuz na cara a espalhar terror, atropelos mortais na via pública, facadas entre adeptos do mesmo clube, invasões de academias, agressões a árbitros, ameaças sistemáticas a vários agentes desportivos (e respetivas famílias), pancadaria gratuita, destruição de cafés, esplanadas e negócios, ligações suspeitas a atividades criminosas, associações a movimentos extremistas... mas o que é isto? O que é que se passa por cá, afinal?
O que quer que esteja a ser feito a nível de prevenção, sensibilização e punição, não chega. É curto. Não sou eu que o digo, são os factos.