Futebol nacional

Pedro Proença vai a votos na UEFA, em Belgrado, onde também está Fernando Gomes para, agora sim, terminar o seu percurso no futebol

Pedro Proença vai a votos na UEFA, em Belgrado, onde também está Fernando Gomes para, agora sim, terminar o seu percurso no futebol
Gualter Fatia / Getty Images

Apesar de já não liderar a FPF nem ter um cargo na UEFA, Fernando Gomes vai estar no congresso da entidade desta quinta-feira, em Belgrado, onde Pedro Proença é um dos 11 candidatos aos sete lugares no Comité Executivo depois de o seu predecessor o ter criticado em carta enviada aos líderes das federações que vão participar na votação. “O meu percurso no futebol terminou”, dissera Gomes, mas, pelos vistos, ainda não: está no evento da UEFA porque ainda é membro do Conselho da FIFA

Forçoso sorridente, Pedro Proença contaria, mas não desejaria, ser abordado como acabou por ser no Aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa. No seu caminhar apressado saberia estar à mercê, antílope sozinho na pradaria. Pela postura, teria dispensado as perguntas de microfone em riste, também a câmara a centrá-lo no plano. Se o incómodo seu já era grande nas pistas deixadas em público, imagine-se por dentro, no âmago do recém-eleito presidente da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) prestes a voar rumo a Belgrado para aterrar num evento onde estariam os outros 54 líderes das associações de futebol nacionais que compõem a UEFA, todos eles leitores de uma carta, assinada pelo seu antecessor, a criticá-lo e a afirmar que não tem o seu apoio.

No bê-á-bá da política que rondam tudo na vida, o ato de Fernando Gomes colou-se à bagagem despachada para acompanhar Proença na viagem até à capital da Sérvia, onde se realiza o Congresso da UEFA, o seu primeiro enquanto líder da instituição maior do futebol português. E logo um decisivo: é um dos 11 candidatos aos sete lugares no Comité Executivo da entidade que irão a votos, esta quinta-feira. Como quatro anteriores presidentes da FPF antes dele, tentará ser o representante português na direção da organização que manda no futebol europeu e antes de descolar, perante as questões da SIC Notícias, soltou um “vamos sempre confiantes, claro que sim”, vendeu um “tudo tranquilo” e deixou o retumbante “a perder alguém, será só o futebol português”.

O “a perder” não foi inocente. Viajado na antevéspera do evento, Pedro Proença lera o que os outros 54 presidentes das federações tinham lido da escritura do seu também seu predecessor no comité que secunda o presidente da UEFA e para o qual todos eles vão votar: “Não partilhamos uma visão comum para o futebol e o desporto. Pedro Proença escolheu o caminho da destruição do legado que eu e a minha equipa construímos ao longo de treze anos, através de decisões e insinuações públicas que visam atacar o nosso bom nome e que, como se verá, são completamente infundadas.” Defendeu Fernando Gomes, visivelmente piurso por saber que o sucessor redigira, às mesmas pessoas, uma carta a dar conta do seu apoio à sua pretensão uefeira.

Alegou Fernando Gomes, em carta própria, que o seu nome foi “mencionado” na correspondência alheia “sem consentimento prévio ou mesmo informação”. E o filme oriundo da politiquice, por sua vez parida por desavenças antigas desaguadas nesta querela, teve as consequências recentes: Proença convocou uma reunião de emergência na FPF, saiu um comunicado a criticar o antigo presidente, foi pedido um encontro “de urgência” com o Governo (o pedido seguiu para o próprio gabinete do primeiro-ministro), o tema inundou o comentariado desportivo e alcançou Marcelo Rebelo de Rousa, apelador de “bom senso”.

Em quaisquer reações, uma ilação foi transversal: sendo Portugal um dos países organizadores do Mundial de 2030 e estando a postos de se candidatar ao Europeu feminino de 2029, não só a polémica era desnecessária como, no limite, poderá culminar na conclusão que Proença e qualquer observador de tudo isto temerá - a sua não eleição para o Comité Executivo da UEFA e subsequente ausência de uma cabeça portuguesa onde se tomam decisões, influenciam rumos, fortalecem relações e travam conhecimentos em corredores de poder com pessoas que o detêm. Várias delas de trato feito com Fernando Gomes, que enviada a carta, estalada a polémica, ainda disse aos jornais desportivos portugueses: “Não declarei qualquer apoio nem tenciono intervir no processo eleitoral.”

O já presidente do Comité Olímpico de Portugal que perfaz agora as suas preocupações - “é a minha vida” - também declarou que “o [seu] percurso no futebol terminou”. Reuniu, entretanto, até com Pedro Dias, o secretário de Estado do Desporto (oriundo da FPF, onde, durante a sua égide, coordenava o futsal) para desbloquear o fulcral, como água para a boca, pacote de €65 milhões de apoio ao setor. Mas o entrelaçar do percurso de Fernando Gomes com o futebol ainda não acabou, como anunciou.

Sem voto na matéria que interessa a Pedro Proença e ao futebol português, também voou, contudo, rumo a Belgrado para estar presente na sua derradeira reunião da UEFA na condição de um dos 28 membros do Conselho da FIFA, órgão do máximo organismo do futebol internacional para o qual a entidade presidida por Aleksander Ceferin elege representantes. No caso, são meia dúzia. Fernando Gomes terá renunciado ao seu mandato na semana passada, mas o seu retrato ainda consta no site da FIFA, do qual será removido quando houver substituto.

Não havendo, o líder do COP cujas preocupações garantiu já não serem o futebol pode estar, e está, na capital sérvia, confirmou a UEFA à Tribuna Expresso, por ser membro do Conselho da organização cujo chefe, Gianni Infantino, se tem dividido em afazeres pelos EUA a aprontar o reformulado Mundial de Clubes. Presente no evento que elegerá quem o substituirá na FIFA para, de vez, terminar a sua ligação ao futebol em pousos e cargos, Fernando Gomes presenciará igualmente como irão votar, para o Comité Executivo da UEFA, as 54 pessoas a quem criticou Pedro Proença e clarificou que não o apoia.

Desde 2007, só por dois anos, de 2011 a 2013, no interlúdio entre Gilberto Madaíl e quem o sucedeu na FPF, é que Portugal não teve um representante nesse órgão. Se Pedro Proença perder, factualmente perderá o futebol nacional. Se assim for, quem ganhará?

Tem alguma questão? Envie um email ao jornalista: dpombo@expresso.impresa.pt