Futebol nacional

As contas de Benfica e Sporting para serem campeões. Ou como um final ao sprint pode ressuscitar traumas

As contas de Benfica e Sporting para serem campeões. Ou como um final ao sprint pode ressuscitar traumas
Gualter Fatia

Não será o jogo do título, mas quase. O dérbi do próximo sábado pode coroar encarnados ou leões como campeões nacionais no Estádio da Luz e para que tal aconteça há cenários que terão de aparecer: o Sporting garante o título caso vença, o Benfica apenas o consegue em sua casa se ganhar ao rival por uma diferença, pelo menos, de dois golos. Mas há mais possibilidades

Podemos encarar esta convergência futebolística levada ao extremo entre rivais citadinos separados por uma via rápida a rebentar cronicamente de trânsito, que se antagonizam por defeito, de variadas formas. Uma será gabar a prova de resistência: se no campeonato tal visão não escasseia, apesar das paredes-meias da vizinhança é bastante raro desde que se respira liberdade em Portugal ver Sporting e Benfica a disputarem até ao fim as duas maiores provas do futebol nacional. A outra, proporcionada pelo fado do calendário e dos pontos, é as memórias nas quais um dérbi lisboeta na penúltima jornada, com poderes de coroar um campeão, pode remexer.

Não que os jogadores, lá dentro, liguem a assombrações do passado, isto serão intangíveis para atormentar adeptos, mas há um lado cinzento da história pronto a espreitar em ambos os lados. 

Podendo ser o jogo do título, existe a hipótese de os encarnados serem anfitriões de uma festa que desprezariam, como sucedeu em 2011, quando o FC Porto venceu na Luz, lá se sagrou campeão e fez a festa a cinco jornadas do fecho do campeonato, levando o Benfica a desligar a iluminação do estádio para uma celebração às escuras.

Outra possibilidade é os leões perderem, no próximo sábado, no lar do maior rival, capitulando nas últimas após um êxtase como em moldes parecidos aos de 2005: então também na penúltima jornada, as duas equipas estavam empatadas na liderança da liga, o Sporting tinha vantagem no duelo direto, prestou visita ao rival e perdeu tendo fresca na experiência o golo eufórico de Miguel Garcia em Alkmaar, operação de resgate e salvamento como a realizada por Eduardo Quaresma.

O processo de ressuscitação de qualquer uma destas hipóteses depende da matemática da bola. Estas são as contas dos cenários possíveis de acontecerem no próximo sábado, 10 de maio, dia elevado a provável decisor de quem será campeão nacional e da cor que vai pintar Lisboa.

Se o Sporting ganhar

Terá a consequência mais direta. Em caso de vitória no Estádio da Luz, os leões garantem a conquista do título devido à bagagem que trazem: por ter vencido o jogo da primeira volta, em Alvalade, por 1-0, qualquer resultado que favoreça a equipa de Rui Borges equivale logo a torná-la bicampeã nacional face à vantagem no confronto direto. Será jogo feito, nada mais.

Se o Benfica vencer

Acabar com uma vantagem no marcador não bastará aos encarnados para terem a felicidade de rebentar foguetes na Luz. Face à derrota por 1-0 no dérbi de Alvalade, terão de ganhar, pelo menos, por dois golos de diferença para o título ser deles no sábado. Uma vitória pelo mesmo parcial da primeira volta só confirmará a igualdade no confronto direto e o adiamento, para a última jornada, do apuramento do campeão nacional.

Venha o Benfica a prevalecer por 1-0, a matemática invadirá de novo o cume do campeonato. Aí a turma de Bruno Lage faria 81 pontos contra os 78 do Sporting e carregaria para a derradeira jornada a certeza de que seria campeã, em Braga, caso igualasse qualquer resultado conseguido pelo Sporting, em Alvalade, contra o Vitória. Se, por exemplo, os encarnados perdessem o último jogo e os leões vencessem - igualando-se de novo nos pontos -, teríamos de olhar para registo de cada equipa e consultar os restantes critérios de desempate previstos no regulamento da Liga. 

Aí seriam convidados para o baile, por esta ordem, a diferença de golos no campeonato, o número de vitórias e os golos marcados na competição. Se nenhum destes os separasse, certo é que não haveria conjuração possível para vermos algo inédito - a disputa de uma finalíssima, em campo neutro. Apenas seria exequível caso Sporting e Benfica terminassem igualados em tudo, incluindo no número de vitórias, o que já não será possível: os verde e brancos têm 24, os encarnados 25 e qualquer cenário que dê mais uma aos primeiros (seja contra quem for) e nenhuma aos segundos faria o título aterrar em Alvalade.

Se empatarem

Uma igualdade de golos na Luz empurra a separação das águas para a última jornada, onde o Sporting estaria obrigado a fazer, pelo menos, o mesmo resultado que o Benfica para beneficiar do confronto direto, cujo sorriso o continuaria a favorecer. Para os encarnados, teriam sempre de fazer figas por uma derrota do rival contra o Vitória e, pelo menos, saírem de Braga com um ponto.

Tem alguma questão? Envie um email ao jornalista: dpombo@expresso.impresa.pt