Futebol nacional

O dinheiro vindo lá de fora: 19 dos 36 clubes das divisões profissionais em Portugal têm investidor estrangeiro na SAD

O SC Braga é um dos clubes com acionista estrangeiro: a Qatar Sports Investments tem 29,6% do capital social da SAD
O SC Braga é um dos clubes com acionista estrangeiro: a Qatar Sports Investments tem 29,6% do capital social da SAD
Eurasia Sport Images

O valor de mercado dos clubes da I e II Ligas esteve nos 1,68 mil milhões em 2024/25, realçou a Liga, ao explicar que Portugal “permite a inscrição de muitos estrangeiros e a criação de várias equipas de desenvolvimento, ampliando oportunidades de stock de atletas”. A realidade alinha-se com outra tendência global: existem 180 clubes no mundo inseridos num regime de multipropriedade

A Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP) considera que a “descoberta de talento” e o “modelo formador”, que serve de ‘trampolim’ para os jogadores, são algumas das causas para o investimento estrangeiro na I e II ligas.

Em resposta a um conjunto de questões enviadas pela Lusa, o organismo realça que Portugal é “um país reconhecido pela formação de jogadores com elevado valor de mercado”, numa altura em que as sociedades anónimas desportivas (SAD) de 19 dos 36 emblemas da LPFP têm estruturas acionistas com capital estrangeiro.

“Entre fatores internos, há a descoberta de talento. Portugal é reconhecido pela formação de jogadores com elevado valor de mercado. Permite-se a inscrição de muitos estrangeiros e a criação de várias equipas de desenvolvimento, ampliando oportunidades de ‘stock’ de atletas”, lê-se, numa das respostas.

A Liga de clubes realça também que os mercados latino-americano e africano “utilizam Portugal como porta de entrada na Europa”, pelo “modelo formador” do seu futebol e pela “adaptação cultural e linguística”, o que pode suscitar o possível efeito de ‘trampolim’ para campeonatos mais valiosos.

A aposta externa reflete ainda uma tendência global do futebol para “a consolidação de redes de clubes”, com a LPFP a vincar que, em 2012, havia 40 clubes num regime de multipropriedade e, em 2022, esse número era de 180, a partir de um relatório da UEFA.

O regime de multipropriedade no futebol português abrange exemplos como o do Famalicão, em que o grupo Quantum Pacific detém 85% da SAD e é acionista minoritário do Atlético de Madrid, ou o do Rio Ave, em que 80% da SAD pertence a uma empresa do grego Evangelos Marinakis, dono dos gregos do Olympiacos e dos ingleses do Nottingham Forest.

A instituição presidida por Reinaldo Teixeira vinca que as redes de clubes desencadeiam partilha de informação quanto a métodos de ‘scouting’ ou a contactos internacionais, o que pode contribuir para aumentar a visibilidade do futebol português e criar “sinergias de mercado”.

A procura de “mercados menores com elevado potencial de valorização desportiva e financeira” de “ativos subvalorizados” também atrai investidores, refere o organismo desportivo à Lusa.

O ingresso de capitais internacionais, acrescenta a LPFP, pode ainda “fomentar a adoção de melhores práticas de governação corporativa”, refletida na contratação de gestores especializados ou na criação de departamentos de ‘compliance’ e risco, que ajustem o funcionamento das SAD às normas a cumprir.

Para o organismo, a comercialização centralizada de direitos audiovisuais, com entrada em vigor prevista para a época 2028/29, promete “receitas mais estáveis e repartidas de forma equitativa entre os clubes”, circunstância que pode aumentar a atratividade do mercado português.

“Este ambiente mais previsível e sustentável torna o mercado português ainda mais atraente para investidores, pelo aumento de receita garantida e pela redução das disparidades financeiras, podendo impulsionar uma nova vaga de investimento estrangeiro”, assinala.

A LPFP recorda ainda que o valor total de mercado dos clubes da I Liga cresceu de 1,1 mil milhões de euros, na época 2018/19, para 1,68 mil milhões em 2024/25, situação que configura um aumento de 53%.

Tem alguma questão? Envie um email ao jornalista: tribuna@expresso.impresa.pt