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Uri Valadão: "Quando ainda não era campeão mundial, tinha uma fome que me fazia ser obcecado. Depois, a mente tende a dar uma relaxada"

Uri Valadão esteve durante algumas semanas em Sintra, onde participou na etapa da Praia Grande do circuito mundial de bodyboard
Uri Valadão esteve durante algumas semanas em Sintra, onde participou na etapa da Praia Grande do circuito mundial de bodyboard
Nuno Botelho

Uri Valadão foi o primeiro e, até agora, único brasileiro a vencer o título mundial de bodyboard depois de Guilherme Tâmega, o seis vezes campeão com quem nunca se importou de ser comparado. "Gostava, porque achava um elogio, sempre foi o meu ídolo", diz quem, aos 34 anos e 10 volvidos desde que foi o melhor do mundo, sente "a obsessão a voltar". Uri nasceu, literalmente, dentro de água, vendeu os prémios que ganhava em miúdo para ter dinheiro para viajar, admite que relaxou quando venceu o título e acha que talvez falte "um milionário que invista" no bodyboard

Li que nasceste, literalmente, dentro de água.
Cara, na verdade, a minha mãe sempre foi adepta de coisas diferentes. Nunca gostou muito de seguir os padrões. Na época, pouquíssimas pessoas escolhiam ter o parto dentro de água. Ela interessou-se, tinha uma conexão muito grande com a água e a natureza, quis experimentar e só havia um médico na nossa cidade que fazia esse tipo de parto. Começou a ir a palestras, a aprofundar-se um pouco sobre isso, foi conhecer o médico, sentiu-se segura e resolveu experimentar. E ela sempre fala com gosto, que foi uma experiência maravilhosa.

Qual é a tua primeira memória de estar na água?
É sem bodyboard. Na ocasião, a gente ia muito para a praia. Era um pouco medroso em relação ao mar, mas os meus irmãos já tinham o contacto forte com a água, já faziam bodyboard. O meu irmão mais velho começou a levar-me para pegar as espumas pequenas, brincar como uma criança. Já gostava muito de desporto, fazia skate e natação, futebol também, e comecei essa brincadeira de pegar espumas no inside e tomei o gosto. Apaixonei-me.

Com que idade?
Tinha à volta dos 10 ou 11 anos.

Já foi um pouco tarde.
Isso, exatamente. Mas foi uma altura muito boa, porque assimilas melhor os movimentos, aprendes muito rápido, é um excelente período para começar.

A quanto tempo viviam da praia?
A gente sempre morou muito perto, a coisa de 500 metros da praia, era só atravessar a rua, caminhar mais um pouco e já estávamos na praia. Tinha essa facilidade.

O Brasil é dos países onde as pessoas mais gostam de futebol. Como é que um miúdo prefere fazer bodyboard do que jogar à bola com os amigos?
Não é tão fácil acontecer isso. Na fase de criança, todas querem ser jogador de futebol. A gente só vê isso na rua e na televisão, existe esse estímulo, é muito grande. Mas é muito coisa de criança, de experimentar coisas e ver qual é a que gosta mais. Ter amizades que gostam daquela desporto também ajuda. Existia uma febre muito grande pelo bodyboard nessa época, todo o mundo falava disso, foi o boom no Brasil e até mesmo a nível mundial. Não sou eu, como vários amigos da mesma idade, começaram a fazer bodyboard e o estímulo foi maior. Era uma brincadeira mais divertida, porque estavas com os teus amigos dentro de água e, logo de seguida, fui convidado a entrar numa escola de bodyboard, que era gratuita, o que foi ainda mais um estímulo. Foi uma bola de neve, ganhei cada vez mais gosto em estar na água.

Como é que os teus pais viram isso?
Inicialmente, a minha mãe tinha uma certa preocupação. É preciso respeitar sempre o mar, então ela tinha uma certa cautela, mas, quando conheceu o professor na escola, sentiu-se muito segura e foi-me dando mais liberdade. Ela sempre gostou de me incentivar em tudo o que gostava, especialmente em relação ao desporto. Os meus pais não mediram esforços para me incentivarem à prática desportiva.

Apanharam algum susto contigo, em miúdo?
Que me lembre, não. Além de nascer dentro de água, que foi um fator importante para a minha intimidade com a água, logo depois do parto a minha mãe inscreveu-me na natação para bebés. Desde o nascimento que tive o contacto com a água, seja no mar ou na piscina, isso deu-me uma maior intimidade com a água e segurança para os meus pais. Desde cedo que tive essa facilidade, agilidade também, respiração, e fui aprendendo essas técnicas.

Falaste que no boom de bodyboard no Brasil, que deve ter coincidindo com os títulos mundiais do Guilherme Tâmega. Ele foi o teu principal motivador?
Nessa época, justamente, o Guilherme dominava o cenário, por completo, do bodyboard. Era uma febre no Brasil, onde estava muito bem estruturado, tinha campeonatos enormes e patrocínios. O Guilherme ganhou bastante dinheiro nessa altura. Há atletas antigos que foram felizes, mesmo, conseguiram viver do desporto sem precisarem de fazer outras atividades em paralelo, o que hoje é bem difícil. Então, quando víamos essas referências - o Guilherme, o Fábio Aquino e tantos outros - a gente também sonhava em ser profissional, em ser o campeão. Por isso acabei a sonhar.

Houve um momento em que tiveste a certeza que podias chegar a esse nível?
Sempre tive facilidade enorme em aprender qualquer desporto, mas percebi isso quando participei no primeiro campeonato de bodyboard. Era dentro da minha escola e ganhei contra caras que eram muito mais velhos. Ganhei logo. O meu professor foi ter com a minha mãe e disse: "O Uri tem potencial para ser um futuro campeão mundial". Ela ficou assustado, era prematuro, eu era muito novo para falarem disso, mas o meu professor conseguia senti-lo, talvez, pela minha dedicação e determinação em aprender. Como ganhei a competir contra os mais velhos, aquilo também despertou um sonho na minha cabeça, desde criança. A partir dali comecei a enxergar aquela coisa de, quando nos perguntam, em criança, o que queremos ser quando crescermos, responder: "Quero ser campeão mundial de bodyboard". Acho que foi esse o momento.

E o que achavam os professores da escola 'normal'?
Nesse período ainda conseguia ter boas notas no colégio, mas, quando o bodyboard começou a ficar sério na minha vida, quando comecei a competir, já não conseguia acompanhar tanto. Tive de conversar com a coordenação do colégio, com os professores, e eles compreendiam. Também me apoiavam. Consegui, de certa forma, conciliar com as viagens, fazia os exames mais tarde, na segunda chamada. Não era dos melhores alunos, mas conseguia manter-me na média e passar de ano. Nunca passei vexame [ri-se] e consegui finalizar o colégio com notas razoáveis. Fui um bom aluno, dadas as circunstâncias.

Qual era a área que querias ter seguido?
Ciências Biológicas, muito pelo contacto com a natureza, gostar de animais e do convívio com o mar. Isso incentivou-me bastante. Comecei a cursar Biologia na universidade, mas não consegui dar seguimento, por conta da falta de tempo. As viagens começaram a ser mais frequentes e tive que fazer uma pausa nos estudos.

Foste campeão do mundo em 2008, tinhas 22 ou 23 anos. A tua vida mudou muito?
Na altura, sim. Além de me tornar relativamente conhecido na minha cidade, consegui patrocínios importantes para continuar a viajar, competir e viver do desporto. Obviamente que a minha vida não mudou absurdamente, mas o facto de ser capaz de ter a minha própria renda, ser relativamente independente da minha família e não depender dos meus pais foi, para mim, um orgulho. Foi uma conquista minha. Portanto, o título mundial foi muito importante.

A vossa família teve problemas de dinheiro?
Houve, sim, a minha família nunca foi rica. Era de classe média e, no início, se não houvesse incentivo dos meus pais, não conseguiria ter viajado. Tive a sorte - e, talvez, competência também -, de conseguir bancar-me desde muito cedo, sem ter que depender completamente dos meus pais. Mesmo quando era amador e não ganhava dinheiro nas competições, ganhava prémios que, depois, conseguia vender. Por exemplo, ia a um campeonato e, às vezes, ganhava em três categorias, então acabava com bons prémios e vendia camisas, televisões e tudo mais, para fazer dinheiro e poder viajar de novo. Se dependesse dos meus pais, com certeza que não teria conseguido fazer algumas viagens importantes. Essa questão do desempenho durante os eventos foi fulcral.

A pressão em cima de ti era maior antes de seres campeão mundial, ou depois?
Hum, depois foi maior. Quando me tornei campeão, coloquei muita pressão em cima de mim. Nem era tanto das outras pessoas. Exijo muito de mim. Mas passei a não ter a mesma energia que tinha antes. Quando você ainda não é campeão mundial, tem uma fome e uma energia que te fazem ser obcecado por aquilo. Estás disposto a fazer qualquer coisa para ser campeão. Depois, quando me consegui consagrar, relaxei um pouco, assumo. Não me consegui manter com o mesmo desempenho e isso acontece muito. Depois, até li o livro do Bernardinho [histórico treinador de voleibol brasileiro] e ele falava muito sobre isso: é mais fácil ser campeão do que manter-se como campeão. Ficar lá em cima é muito difícil, existe a tendência para as pessoas relaxarem um pouco.

Isso é consciente ou acontece sem que se dê por isso?
Acho que passa a ser uma coisa que você não consegue controlar. Talvez uma coisa inconsciente, você quer-se manter lá, mas o corpo e a mente, principalmente a mente, tende a dar uma relaxada. Porque é muito desgastante o caminho até ser campeão do mundo.

Qual foi o maior sacrifício que fizeste?
Ter que abrir mão de muitas coisas, como adolescente, para treinar. Abdicar de brincar com os amigos, de estar a divertir-me de outra forma, para me estar a dedicar e treinar que nem um louco dentro de água. E, durante esse caminho, também me lesionei no ombro, exatamente no ano em que fui campeão mundial. Tive que continuar a treinar enquanto curava a lesão, a sentir dores, mas com a obsessão de ser campeão mundial.

Nessa altura, perguntaste a tipos como o Guilherme Tâmega ou o Mike Stewart como é que conseguia manterem-se, constantemente, lá em cima, a lutar pelo título?
Acho que depende muito da personalidade de cada um. O Guilherme sempre foi um cara muito, muito competitivo em tudo o que faz. Chegava a ser um pouco arrogante de tão competitivo que era, o quanto ele queria ser melhor do que os outros. Ele era uma máquina de competição. Mas, também, o momento do bodyboard que ele viveu era completamente diferente. Havia muitos obstáculos, teve que ultrapassar muitas barreiras, talvez por ser brasileiro e ter enfrentado preconceitos maiores. Nesse momento, em que o Guilherme começou a abrir portas, as pessoas não davam tanto valor. Por exemplo, havia revistas que não davam valor, preferiam dá-lo a outras pessoas, como o próprio Mike Stewart. Para o Guilherme conquistar uma página de uma revista australiana ou americana, ou para as pessoas lhe darem os parabéns, tinha que fazer muito mais do que o dobro dentro de água. Isso era um estímulo para ele. Essa desvalorização, no início, no mundo do bodyboard, motivava-o. Falava muito disso, foi o que o fez crescer nas performances, o que o fez ter essa certa arrogância, por querer mostrar serviço.

Quando estavas a aparecer, sentiste que as pessoas no Brasil te cobravam mais por seres o atleta que veio depois do Tâmega?
Eu gostava dessa comparação, porque achava isso um elogio. Sempre foi o meu ídolo. Achava-me muito distante dele, ainda acho até hoje, porque não vejo ninguém comparável ao que vi o Guilherme fazer, e acho que será muito difícil que outro ser humano faça as coisas que ele fez no desporto. Mas achava interessante essa relação, temos um estilo parecido de surfar, porque sempre o tentei imitar, então as pessoas, também por isso, me comparavam com ele. E, querendo ou não, o Guilherme também me adotou desde cedo, por isso era inevitável as pessoas compararem. Achava interessante. Mas não cobrava a mim próprio, porque cada pessoa tem a sua trajetória e tentava fazer o meu melhor dentro de água. Óbvio que sentia a cobrança dos media e das pessoas, é inevitável, faz parte do desporto, fui campeão do mundo, passo a ser uma estrela, as pessoas tendem a olhar para você de uma maneira diferente. Mas a pressão maior vem de mim mesmo.

As comparações com o Guilherme nunca de incomodaram, portanto?
Não. Foi uma comparação sadia, fazia-me crescer. "Porra, estão a comparar-me com o Guilherme, que bacana!". Sentia-me bem com isso, cobrava mais a mim mesmo para evoluir, tinha coisas que achava impossível conseguir fazer, mas tentava, queria aprender. Essa minha busca sempre teve a companhia do Guilherme, tive a sorte e o privilégio de o ter ao meu lado nas viagens. Quantas pessoas tiveram a sorte de viajar com ele para a Austrália ou o Havai? Tentava tirar o supra-sumo máximo da companhia dele.

Gostavam de competir um contra ou outra ou preferiam evitar?
Evitar, com certeza, porque exista essa amizade e esse carinho enorme entre a gente. Inclusive, confundíamos um pouco isso dentro de água, era difícil separar as coisas. O próprio Guilherme o dizia em entrevistas, que não gostava de competir com o Uri porque era difícil separar a amizade da competição - "Eu transformo-me dentro de água e contra o Uri não me consigo transformar, como vou para a guerra com os outros". Isso também era terrível para mim. Demorei um certo tempo até conseguir olhar para o Guilherme como um adversário. Tomei várias porradas até começar a amadurecer e perceber que, no mar, tinha que separar as coisas. Caso contrário, não conseguiria vencer.

O que te falta fazer no bodyboard?
Tenho vontade de mais um título. Essa obsessão está a voltar, já passaram 10 anos e talvez esteja a renovar a energia que tinha antes. Percebi que tenho condições para voltar a disputar o título. O foco, a energia, a vontade de voltar a sentir esse gosto. Não sei, é difícil de explicar, é preciso sentir cá dentro que estamos dispostos a abrir mão de várias coisas para ser campeão, porque tens que estar disposto a arriscar a vida em alguns momentos, dentro de água, e fazer coisas para impressionar os juízes.

Com 34 anos, ainda arriscas tanto quanto arriscavas?
Sim, estou a amadurecer cada vez mais, aprendido a surfar ondas maiores e mais desafiadores. Cada um tem a sua trajetória. O Guilherme, com 18, 19 e 20 anos, já fazia coisas malucas. Eu estou a perceber que a minha maturidade em condições mais extremas está a chegar agora, a cada ano estou a evoluir mais nessas condições. É interessante, sinto-me mais confortável e, por isso, sinto que estou pronto para tentar, novamente, disputar o título mundial.

Sentes urgência por causa da idade?
Não. O desporto está a evoluir muito e vi o Jeff Hubbard ter performances espetaculares com quase 40 anos. Vi o Mike Stewart a fazer coisas impressionantes com quase 50, tal como o Guilherme Tâmega. Estou a ver as pessoas cada vez mais velhas no bodyboard, depende muito da mente, da cabeça e de você se manter ativo. Se parares para depois voltares, aí já se sente muito. Mas, hoje, sinto-me melhor fisicamente do que antes, quando era mais novo. Estou a treinar cada vez mais, talvez a divertir-me mais, também.

Fazes mais ginásio, ou tens mais cuidado com a alimentação?
Pelo contrário, treino menos em ginásio e mais na água. Antigamente, treinava muito dentro de água e muito fora e, muitas vezes, exagerava um pouco. Estou mais maduro, conheço melhor o meu corpo, que já não recupera com a mesma velocidade e preciso de ter uma pausa para descansar e continuar motivado, dentro de água, para treinar.

Há muitos brasileiros no circuito mundial de surf. Vocês sentem que o bodyboard está a ficar para segunda plano?
Na verdade, em relação ao surf, teve uma época, no início, quando o bodyboard deu o boom, em que era maior - mas foi um momento relativamente rápido. Então, nem deu tempo para curtir isso, a gente começou a perceber logo que o surf estava a passar para outro patamar. Sempre entendi isso como natural, porque o surf é um desporto mais antigo, era natural, ia ter uma evolução maior, também, por terem empresas capazes de sustentar o surf. A Billabong, a Quiksilver, a RipCurl, todas eram marcas de surf, não de bodyboard. Era mais fácil alavancar o surf, enquanto o bodyboard sempre foi mais dependente das instituições governamentais e tal, não tinha marcas com tanto potencial.

Mas o bodyboard tem muito mais campeões brasileiros do que o surf: tu, o Guilherme Tâmega, a Neymara Carvalho, a Isabela Sousa.
Sim, mas é diferente, há várias perguntas no ar que tentam perceber. Houve um momento em que o bodyboard ultrapassou o surf no Brasil, não sei como foi aqui em Portugal, e a galera vivia bem, mas, também por culpa dos atletas, perdeu-se o espaço que o desporto tinha. Os atletas passaram a reivindicar muito juntos dos organizadores, das pessoas que promoviam os eventos. Acharam que eles ganhavam muito dinheiro, que os bodyboarders recebiam pouco, mas os atletas ganhavam bem. Começaram a bater de frente e isso acabou por derrubar alguns promotores que eram pessoas chave, pessoas extraordinárias, que se afastaram do desporto e bodyboard foi à lama. Do céu ao inferno da noite para o dia. Também foi muito por causa disso. Havia pessoas muito influentes, a trazerem muito dinheiro, investimentos enormes, que saíram - e, depois, o que se pode fazer? Perdeu-se muito do brilho. O próprio Guilherme me conta coisas desses tempos.

No Havai, por exemplo, ainda existe hype em torno do bodyboard?
Não mais. Percebemos que teve o seu espaço e mercado, mas que caiu bastante. Os eventos já não têm tantos atletas. Antigamente, a etapa da Barra da Tijuca, no Brasil, tinha jogadores de futebol a irem ver. O Edmundo, da seleção brasileira, ia para a areia VIP para ver o Guilherme Tâmega a competir. Tinha 15 anos, foram os meus primeiros campeonatos mundiais, via lá o Edmundo e achava uma loucura. Em Sintra, antes havia cinco fases para se chegar ao quadro principal. Hoje só tem uma fase de triagem. É muito menos gente a competir a nível mundial.

O ano passado o Neymar foi a Peniche ver o Gabriel Medina a surfar.
Claro que isso tem uma estratégia de marketing em cima. A pessoa que fez o marketing do Medina fez, obviamente, essa estratégia para criar um ídolo, porque o Brasil também estava carente de ídolos, e ele, realmente, tem o potencial e o perfil. Conheci-o quando viajámos juntos para os eventos do ISA Games, no Brasil, e é um cara que merece muito. O surf está a explorar uma oportunidade. Daqui a 10 ou 20 anos, se calhar, já não vai estar assim. Só aí vamos saber se aproveitar este boom. O bodyboard aproveitou durante pouco tempo.

Como será possível que o bodyboard recupere um pouco e volte a ter uma oportunidade?
Acho que precisa de encontrar alguém que acredite no desporto, um investidor que olhe para o bodyboard como um desporto cheio de mundo, radical, com manobras incríveis, com homens e mulheres a praticar. Há muito potencial. Temos que procurar pessoas para investirem. Um exemplo para o qual olho é a UFC [Ultimate Fighting Championship]. Ninguém, nunca, tinha vontade de assistir ao MMA [Mixed Martial Arts], porque todo a gente achava violento e terrível. Quando existiu um investimento, pagaram a media e colocaram aquilo na televisão, as pessoas foram-se habituando, passaram a gostar e, hoje, até eu sou viciado. Tenho prazer em ver, gosto de ver as lutas, a estratégia, os treinos dos lutadores. Obviamente que é um desporto violento, mas existiu um investimento enorme para quebrar esse preconceito. E talvez falte isso ao bodyboard.

Só falta haver dinheiro.
Que não há, exatamente. Falta aparecer um milionário que acredite no bodyboard e invista, como aconteceu com a IBA [a extinta International Bodyboard Association, que regulou a modalidade entre 2003 e 2013], há cinco anos, que teve um circuito magnífico com uma transmissão extraordinária, conseguimos trazer audiências com a Red Bull TV. Se tivessem dado continuidade ao projeto, acho que o bodyboard estaria diferente.

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