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Jogos Olímpicos de Paris 2024

Na discoteca, a b-girl olímpica portuguesa tem um alter ego: “Não sou Vanessa Marina, sou a Cardi B, finjo não saber dançar para espairecer”

Na discoteca, a b-girl olímpica portuguesa tem um alter ego: “Não sou Vanessa Marina, sou a Cardi B, finjo não saber dançar para espairecer”
TIAGO MIRANDA
A dois meses das provas de apuramento para os Jogos, Vanessa Marina lesionou-se e esteve em risco de não poder participar. Adaptou os movimentos às limitações do braço esquerdo e qualificou-se para Paris, onde vai competir na estreia do breaking como desporto olímpico. Lamenta que a modalidade ainda se depare com desigualdades ao ponto de, num campeonato na China, ter verificado que “o prémio para rapazes eram 20 mil dólares e para as mulheres eram 8 mil, nem metade”. Chega a Paris com 32 anos e com sugestões de melhoria para a cultura hip hop onde ainda considera existirem “falhas a receber bem pessoas transgénero e homossexuais” e na qual acha que “os rappers podiam propagar o breaking nos videoclips” em vez de caíram na “ideia das mulheres e do dinheiro”

Os proprietários do restaurante londrino onde Vanessa Marina trabalhou até se dedicar a tempo inteiro à possibilidade de estar em Paris perderam uma funcionária para a causa olímpica. Se, por acaso, tivesse falhado a qualificação, a b-girl natural de Leiria, mas que vive no Porto, estaria a regressar para casa dos pais e a procurar trabalho algures. Teve mais sorte do que ela própria esperava e vai aos Jogos estrear o breaking no programa da competição. Considera estar no “auge” do percurso que começou quando dançava no chão da estação do Oriente, em Lisboa, “ao pé dos sem-abrigo”.

O breaking, como parte do movimento hip hop, tem uma origem na marginal e os Jogos Olímpicos não são propriamente o submundo. A chegada ao pináculo mediático da modalidade que alia a dança à capacidade atlética em batalhas entre oponentes não foi bem aceite por todos. “Ouvi muitas vezes que se ia perder a essência”. Vanessa Marina espera que o breaking aproveite a oportunidade que está a ter para mostrar que “brilhar é mais importante que ganhar”.

Muitas b-girls têm nomes mais artísticos. Chegaste a pensar em algo menos óbvio do que b-girl Vanessa?
Há uma regra nos nomes do breaking. Não podemos ser nós a escolher. Tem que ser alguém a atribuir-nos. Temos a b-girl Spidergirl, temos a b-girl Madmax (ela chama-se Maxime) ou a b-girl Logistx (chama-se Logan). É uma espécie de alter ego. Só que o que me foi dado a mim eu não gostava muito. Chamavam-me Póke Bola [referência ao jogo Pokémon], porque eu era pequenina, era rápida e toda mandada para a praça. Eles diziam "vai Poke Bola!" e eu não gostava. Ainda por cima era em português. Pensei em como me iam chamar no estrangeiro e comecei a participar como b-girl Vanessa.

Quem é a Vanessa numa discoteca?
Aí, tenho um alter ego. Não sou a Vanessa, sou a Cardi B. Gosto de estar com os meus amigos e de ser a última a sair. Gosto de aproveitar os festivais, gosto de aproveitar a música. Nas discotecas, finjo não saber dançar. Danço como as pessoas normais, digamos assim. É a minha maneira de espairecer.

Qualificaste-te em junho e vais competir nos Jogos Olímpicos no dia 9 de agosto. Era este o verão azul que estavas à espera?
Era mesmo. A qualificação começou em 2022 com o Europeu e terminou agora em junho. Fiz o percurso mais longo, mas o nível é muito alto. Tivemos as Séries de Qualificação Olímpica, uma em Xangai e outra em Budapeste, e, na soma das duas competições, consegui ficar entre o top-10 das 40 participantes. Fiquei em sétimo em Xangai. Em Budapeste, fiquei em 11.º. A média das duas posicionou-me no nono lugar, o que foi ótimo.

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