Um refugiado da gentrificação. Um profissional em começo de carreira que procurava “uma cidade onde pudesse viver no centro”. Foi assim, procurando casas a preços mais baratos numa grande metrópole, que Simon Kuper deixou Londres para ir viver para Paris em 2002.
O jornalista, particularmente conhecido pelo trabalho no “Financial Times”, estava habituado à multiculturalidade. Nasceu no Uganda, filho de pais sul-africanos, viveu nos Países Baixos em criança, tem nacionalidade britânica, estudou em Harvard e em Berlim. Ainda assim, deixou-se tomar pela “magia do câmbio anglo-francês” sobre a qual Ernest Hemingway já escrevera nos anos 20 do século XX.
Em Paris, Kuper encontrou a tal cidade onde podia viver no centro, bem mais barata que Londres. Encontrou uma grande urbe, sim, mas cujo centro é altamente caminhável. Encontrou a beleza dos edifícios, o encanto das esplanadas, que descreve como “o jardim dos parisienses”, local privilegiado de convívio — e, como também nota, com cadeiras sempre viradas para a rua, como se as pessoas que passam estivessem num grande palco de uma peça de teatro.
Feliz com a mudança, Kuper foi ficando. E foi testemunhando partes menos boas de Paris, cidade que também se gentrificou, foi vivendo os choques sociais, os atentados terroristas. Foi, sobretudo, tentando perceber o que é isto de ser parisiense.
São estas experiências e mudanças que o autor descreve e relata no livro “Impossible City: Paris in the Twenty-First Century”, editado pouco antes dos Jogos. E é sobre Paris, pouco antes da cerimónia de abertura (arranque às 18h30, RTP1/Eurosport), que Kuper fala numa conversa com a Tribuna Expresso.
A calma policiada
Na manhã da véspera do desfile no Sena, Paris é uma cidade cheia de restrições. Há barreiras de segurança por todo o lado, há pontes fechadas, há necessidade de mostrar QR codes para entrar em determinados bairros. Há polícia, polícia por todo o lado, muita polícia.
Não há é muitos turistas, afastados pela confusão olímpica. “Nunca vi Paris com tão pouca gente, sobretudo no verão, quando normalmente há turistas por todo o lado. É estranho, sim”, comenta Kuper. O dispositivo de segurança é “parecido ao que se viu depois do ataque ao Bataclan”, em 2015.
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