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Jogos Olímpicos de Paris 2024

Um café com Simon Kuper: “Os Jogos Olímpicos transformam uma cidade no centro do mundo, mas Paris sempre se achou o umbigo do mundo”

Um café com Simon Kuper: “Os Jogos Olímpicos transformam uma cidade no centro do mundo, mas Paris sempre se achou o umbigo do mundo”
ODD ANDERSEN/Getty
O colunista do “Financial Times”, que se mudou há 22 anos de Londres para a capital francesa, fala com a Tribuna Expresso na antecâmara do arranque dos Jogos. Kuper lançou um livro que relata a sua experiência parisiense, testemunhando a transformação de uma urbe que passou por conflitos sociais ou atentados. Paris é hoje, diz, uma metrópole “mais rica, mais internacional e mais tensa”, acolhendo uma cerimónia de abertura em que “Macron procurará exibir a beleza clássica e as mudanças contemporâneas” de França

Um refugiado da gentrificação. Um profissional em começo de carreira que procurava “uma cidade onde pudesse viver no centro”. Foi assim, procurando casas a preços mais baratos numa grande metrópole, que Simon Kuper deixou Londres para ir viver para Paris em 2002.

O jornalista, particularmente conhecido pelo trabalho no “Financial Times”, estava habituado à multiculturalidade. Nasceu no Uganda, filho de pais sul-africanos, viveu nos Países Baixos em criança, tem nacionalidade britânica, estudou em Harvard e em Berlim. Ainda assim, deixou-se tomar pela “magia do câmbio anglo-francês” sobre a qual Ernest Hemingway já escrevera nos anos 20 do século XX.

Em Paris, Kuper encontrou a tal cidade onde podia viver no centro, bem mais barata que Londres. Encontrou uma grande urbe, sim, mas cujo centro é altamente caminhável. Encontrou a beleza dos edifícios, o encanto das esplanadas, que descreve como “o jardim dos parisienses”, local privilegiado de convívio — e, como também nota, com cadeiras sempre viradas para a rua, como se as pessoas que passam estivessem num grande palco de uma peça de teatro.

Feliz com a mudança, Kuper foi ficando. E foi testemunhando partes menos boas de Paris, cidade que também se gentrificou, foi vivendo os choques sociais, os atentados terroristas. Foi, sobretudo, tentando perceber o que é isto de ser parisiense.

São estas experiências e mudanças que o autor descreve e relata no livro “Impossible City: Paris in the Twenty-First Century”, editado pouco antes dos Jogos. E é sobre Paris, pouco antes da cerimónia de abertura (arranque às 18h30, RTP1/Eurosport), que Kuper fala numa conversa com a Tribuna Expresso.

A calma policiada

Na manhã da véspera do desfile no Sena, Paris é uma cidade cheia de restrições. Há barreiras de segurança por todo o lado, há pontes fechadas, há necessidade de mostrar QR codes para entrar em determinados bairros. Há polícia, polícia por todo o lado, muita polícia.

Não há é muitos turistas, afastados pela confusão olímpica. “Nunca vi Paris com tão pouca gente, sobretudo no verão, quando normalmente há turistas por todo o lado. É estranho, sim”, comenta Kuper. O dispositivo de segurança é “parecido ao que se viu depois do ataque ao Bataclan”, em 2015.

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