Bárbara Timo sentia-se na melhor forma e foi eliminada dos Jogos ao primeiro combate no judo: “Um dia não resume o trabalho”
JOSÉ SENA GOULÃO/LUSA
À segunda participação olímpica e após o ciclo mais árduo da sua carreira (decidiu baixar a categoria de peso, dos -70 quilos para os -63), a judoca, de 33 anos, foi eliminada pela sul-coreana Kim Ji-Su, ficando no 17.º lugar. A quente e em lágrimas, Bárbara Timo falou aos jornalistas e não sabia se está pronta para tentar chegar à edição de 2028 dos Jogos
Bárbara Timo caminha para o tatami, fecha os olhos, tem a câmara de TV espetada na sua cara, abre os olhos e dá um curto berro, como a expelir um peso que leva dentro. É a primeira judoca do quarto dia olímpico a aparecer em Champs-de-Mar, a arena em Paris que se enche de pessoas para uma modalidade querida para o povo francês.
A portuguesa, de 33 anos, começa decidida, intempestiva até, farta-se de atacar Kim Ji-Su, dez anos sua petiz, nos primeiros minutos lança três investidas seguidas contra a sul-coreana que é quase sua igual em termos de ranking, não no que toca à paciência com que parece encarar o combate inaugural para ambas nos Jogos.
O equador da disputa traz acalmia à contenda e a asiática, após receber um aviso do árbitro e respetivo cartão amarelo, atirou-se para a dianteira do combate quando Bárbara Timo parecia recuperar algum fôlego. Mais agressiva, Kim Ji-Su atirou-se à judoca nacional que entre Tóquio e Paris mudou de categoria de peso (dos -70 quilos para os -63). Essa investida foi fatal.
Com poucos segundos no relógio, Ji-Su agarrou-se a Timo, rapidamente se colou ao seu corpo, imobilizou-a. O árbitro decretou o ippon. A sul-coreano saltou do tapete rapidamente, pondo-se a postos do protocolar cumprimento para lhe confirmar a felicidade. A portuguesa levou o seu tempo, primeiro ergueu os joelhos, depois levou as mãos à cara, pareceu fitar o teto do pavilhão e a câmara, de novo, na sua cara, a captar-lhe a desilusão.
JOSÉ SENA GOULÃO/LUSA
Bárbara Timo saudou a adversária, o combate terminou e tão rápido quanto apareceu na manhã desta terça-feira na arena, a judoca portuguesa rapidamente a abandonou. As suas feições lidavam com tristeza e desilusão.
Pouco depois, tinha o nariz e os lábios banhados ao mar de choro quando falou com os jornalistas logo ali, na margem do seu pranto, tão a quente. “Primeiro, obrigado a quem torce por mim esta manhã. Está longe do desfecho para o qual trabalhei ao longo destes três anos, sentia-me preparada e confiante, vi que o combate estava duro e havia possibilidades. Mas nós aqui lutamos contra mulheres do mesmo nível e todas estão afiadas para fazer o seu melhor”, disse, pausadamente, a tentar ligar as palavras possíveis.
Porque um ciclo olímpico de trabalhos diários, bidiários, às vezes até tridiários, em que o que define os atletas são os sacrifícios, ainda para mais numa judoca que decidiu baixar na categoria de peso, de repente, sucumbem a um singular resultado. “Não define todo o meu trabalho, quem eu sou, mas resumir isso a um dia… Esta derrota dói muito, sem dúvida, e vai doer por um tempo. Trabalhei muito para estar bem aqui. Tentei desafiar-me ao tentar classificar-me numa categoria abaixo para estes Jogos e foi o ciclo mais desafiante de sempre, para cortar o peso”, explicou a judoca. “Tive nutricionistas, psicólogos, treinadores e toda uma equipa que trabalhou para eu estar aqui no melhor da minha forma, que é como me sinto.”
Tão a quente, tão triste perante este desfecho, Bárbara Timo não sabia quando lhe perguntaram se ainda tem dentro dela mais uma participação olímpica, mais um esforço quadrienal para se superar e chegar ao que chamou “a cereja no topo do bolo” - a confeitaria desse bolo é que impõe as maiores exigências a um atleta. “Não é pelo resultado, é muito pelo caminho, que é muito árduo e duro, já tive medalhas em Europeus e Mundiais, tenho de ver se estou pronta para mais quatro anos”, concluiu, ao limpar as lágrimas.