Diogo Ribeiro estreou-se no lago dos tubarões. E, ao lado deles, ficou de fora das meias-finais dos 100 metros livres
HUGO DELGADO/LUSA
O jovem português, na primeira participação olímpica, não conseguiu um tempo entre os 16 primeiros. Antes dos 100 metros mariposa, onde poderá ter mais esperanças de avançar, esta foi um manhã de aprendizagem para Diogo
Ah, a primeira vez. A emoção da primeira vez, o nervosismo, a ansiedade. A magia da primeira vez.
Há sempre uma primeira vez. Mas nem todas as estreias são como esta de Diogo Ribeiro: nesta La Defénse Arene, onde já tocaram os Rolling Stones, Roger Waters, Kendrick Lamar, Elton John ou Paul McCartney, um enorme recinto que é casa do Racing 92 de râguebi, maravilhosamente transformado palco aquático nestes Jogos, apesar das queixas sobre a lentidão da piscina.
Uma piscina que, antes de ser usada para tal, se transforma numa discoteca com água no meio, num espetáculo de luz e som. Como as discotecas das quais Diogo diz que abdica para estar aqui, da vida social da qual prescinde, dos esforços que faz ao lado de Alberto Silva, o técnico brasileiro que veio revolucionar a natação nacional.
Na estreia em Jogos Olímpicos, na primeira das muitas vezes em que, certamente, estará neste palco, Diogo fez o 28.º tempo dos 80 participantes. Só os 16 melhores seguiam em frente, num lago de tubarões cheio de lendas, como Jack Alexy, ou os prodígios Marchand ou Popovici, ambos já medalhados neste evento. Ribeiro marcou 48,88 segundos, abaixo do seu recorde nacional de 47,98 segundos, confirmando-se a lentidão desta piscina.
Numa manhã entre os melhores, o jovem saiu a abanar a cabeça, provavelmente insatisfeito com o seu registo. A meio do seu heat era segundo, terminaria em sétimo. Talvez em Los Angeles olhe para este quente dia de Paris e o lembre como o começo de algo.
Seguem-se, nesta primeira vez de Diogo, os 50 metros livres (quinta-feira, a partir das 11h16). A última das três provas em que Ribeiro, o primeiro nadador nacional a ter mínimos A em três competições de natação, participará serão os 100 metros mariposa. Nesta derradeira competição será o momento em que, teoria, poderá ter melhores chances de brilhar.
Antes das 10h já há enormes filas para entrar, num público particularmente jovem, especialmente entusiasta. A panóplia de bandeiras é maior do que noutras competições, há as omnipresentes francesas, dos Estados Unidos, italianas ou portuguesas — sim, nestes Jogos há sempre, sempre bandeiras portuguesas —, mas também umas mais raras, da Estónia ao Bahrein, da Trindade e Tobago à Eslováquia.
Previamente às eliminatórias dos 100 metros livres, correm-se as dos 200 mariposa. E, aí, nada León Marchand, a nova coqueluche francesa, o campeão dos 400 estilos. A febre por ele rebenta termómetros, grita-se “León! León! León!” à medida que ele avançava pela piscina. Consegue a qualificação com o sexto melhor tempo, mas, mais do que isso, é a confirmação sonora de que está aqui o grande herói do público da casa neste arranque de competições.
HUGO DELGADO/LUSA
Passamos, então, para os 100 metros livres. Oitenta nadadores em busca de 16 vagas nas meias-finais.
No heat 9, no nono grupo dos 10 a entrar em ação, entra Diogo Ribeiro. Olhar em volta para as bancadas deve ser uma experiência brutal, talvez esmagadora. A piscina está lá em baixo, 50 metros de distância de água para onde olham milhares e milhares de olhos, uma quantidade enorme de pessoas mirando os participantes que, oito de cada vez, lutam pelas meias-finais.
Quando soa a buzina e os protagonistas se fazem à água, a arena explode, torna-se impercetível perceber de onde vem cada grito, cada berro, cada festejo. Certo é que são eliminatórias com ambiente de final.
Às 11h42 de Paris, Diogo Ribeiro chega ao palco. Vai para a pista sete. Na quatro está Popovici, o fenómeno romeno. Diogo tira a camisola de aquecimento, bate com os braços nas costas. Nunca olha em volta, parece indiferente ao contexto.
O começo é promissor, vira para os últimos 50 metros com 22,96 segundos, mas depois parece perder gás. Ao seu lado estavam craques, antes e depois de si competiram lendas. E ali estava Diogo, provavelmente absorvendo o momento, ainda que não disfarçando a frustração. O ADN competitivo não engana.
Ah, a frustração da primeira vez. A sensação de que se poderia ter feito mais. Mas a certeza de que há coisas boas no horizonte.