Jogos Olímpicos de Paris 2024

“Acho que consegui inspirar muitas mulheres, era o meu objetivo nestes Jogos”: Maria Tomé chegou sem “expetativas” e foi 11.ª no triatlo

“Acho que consegui inspirar muitas mulheres, era o meu objetivo nestes Jogos”: Maria Tomé chegou sem “expetativas” e foi 11.ª no triatlo
JOSÉ SENA GOULÃO/Lusa

Na competição marcada pelo adiamento devido à má qualidade das águas no Sena, Maria Tomé foi, aos 23 anos e na estreia olímpica, uma agradável surpresa. Na prova vencida pela francesa Cassandre Beaugrand e com Melanie Santos em 45.ª, a lisboeta era toda sorrisos e alegria após cortar a meta. “Emocionada”, esforçou-se por passar uma mensagem: “As mulheres conseguem ter um impacto bastante grande no desporto.”

O sorriso era tão marcado, a alegria tão grande, a felicidade tão notória, que Maria Tomé até parecia ter dificuldades em falar. Encadear frases era um desafio complicado, sendo o discurso recorrentemente interrompido pelo respirar fundo, por um riso constante, por um olhar para o infinito a processar o que, instantes antes, sucedera.

Aos 23 anos, e na estreia olímpica, a lisboeta foi uma das surpresas da prova no triatlo. Com 55.ª lugar no Campeonato do Mundo de 2022 e um 66.º na mesma competição, em 2023, Maria Tomé foi 11.ª em Paris, acabando a prova em uma hora, 57 minutos e 13 segundos.

Depois de nadar nas águas do Sena, as polémicas águas do Sena, as águas cuja qualidade insatisfatória obrigaram a adiar a prova masculina, Tomé foi um raio no segmento de ciclismo, sendo a mais rápida de toda a prova em cima das duas rodas. Na corrida, acabou num sprint em que deu “tudo o que tinha” para acabar à frente da alemã Nina Eim e ser 11.ª.

O ouro foi para a francesa Cassandre Beaugrand, numa chegada apoteótica, cheia de gente na Ponte Alexandre III. A prata foi para a suíça Julie Derron e o bronze para a britânica Beth Potter. Melanie Santos, a outra portuguesa em prova, foi 45.ª.

A meio de uma manhã que pareceu viver todas as estações do ano - inverno primeiro, com muita chuva e até trovoada de madrugada, outono depois, com uns toques húmidos e amenos, passando para um raiar de primavera e concluindo já com intenso sol de verão -, Maria Tomé aparece na zona mista da Ponte Alexandre III ainda com todos os sinais de quem acaba de fazer um esforço hercúleo.

Ofegante, de trança descaída para o ombro esquerdo e óculos na testa, emana alegria.

As “expetativas” para a prova eram, diz, “zero”. “São os meus primeiros Jogos e ficar em 11.ª… Não sei, não tenho palavras. Estou muito emocionada, não sei o que dizer”, comenta Maria Tomé, parecendo quase desnorteada.

Nadar, pedalar e correr durante quase duas horas será um exercício extenuante. Mais do que o desgaste, Maria estava feliz por ter-se conseguido “safar das quedas”, que foram muitas, particularmente devido ao piso húmido. Foi-se “aguentando ao máximo com as da frente” e ficou a escassos 12 segundos do oitavo lugar e do diploma olímpico.

Num dos poucos momentos em que a emoção permitiu que desse sequência a algumas frases, Maria Tomé, de face convicta e como se tivesse a certeza do que queria dizer, atirou: “Acho que consigo inspirar muitas mulheres, que era o meu grande objetivo ao participar nuns Jogos Olímpicos. As mulheres conseguem ter um impacto bastante grande no desporto."

Juntamente com Melanie Santos, Vasco Vilaça e Ricardo Batista, Maria participará, a 5 de agosto, na estafeta mista. Aí, à boleia deste 11.º lugar, sabe que “as expetativas serão, agora, maiores”, a “pressão será um bocadinho superior”. Mas, sorrindo, sempre sorrindo, revela otimismo: “Somos uma equipa, depende de todos. Veremos se conseguimos fazer diploma, é o nosso objetivo. Vamos com tudo.”



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