Jogos Olímpicos de Paris 2024

O dream team de Nadal e Alcaraz caiu nos quartos de final do torneio olímpico de pares. E terá sido este o último jogo de Nadal?

O dream team de Nadal e Alcaraz caiu nos quartos de final do torneio olímpico de pares. E terá sido este o último jogo de Nadal?
CARL DE SOUZA

A dupla era bonita, a história pedia uma medalha, talvez o último grito de Nadal, a última lembrança. Mas a realidade é implacável: os espanhóis caíram frente a Rajeev Ram e Austin Krajicek, dois norte-americanos especialistas em pares, coisa que Alcaraz e Nadal não são. Foi sempre a história a empurrá-los até aqui, mas não deu mais. Rafa deverá decidir em breve o seu futuro

O jogo de pares tem a suas idiossincrasias e é por isso que é raro ver bons jogadores de singulares a dedicarem a esta variante - ainda que não faltem ótimos jogadores de singulares que também o são em duplas. E é por isso também que não basta juntar dois grandes jogadores de singulares para fazer uma excelente dupla: são necessárias rotinas, técnicas. E é preciso treiná-las, solidificá-las no jogo.

A dupla Rafael Nadal e Carlos Alcaraz era matéria de sonhos: o mito prestes a dizer adeus a jogar lado a lado com o candidato a novo rei nuns Jogos Olímpicos, em pleno Roland-Garros. Era uma das grandes histórias de Paris 2024, ver Rafa despedir-se definitivamente, quem sabe, com uma medalha ao lado do seu sucessor. Matéria de sonhos, lá está. Ao longo da semana, os dois foram mostrando que são dois incríveis jogadores, mas não uma dupla. Alcaraz desde 2022 que não jogava pares e Nadal também há muito que não o fazia, embora seja um competentíssimo tenista na variante. Frente à dupla neerlandesa que bateram na terça-feira para chegarem aos quartos de final, viu-se Rafa a dar muitas indicações ao mais novo e menos experiente no momento do serviço, uma espécie de curso intensivo de pares para Carlitos em plena competição.

O que os fez chegar aos quartos de final foi muitas vezes a tenacidade que não falta na mente dos dois e aquelas pancadas tão boas às quais nem um especialista de pares, habituado a um jogo mais rápido, consegue reagir. Mas quando dois dos melhores jogadores do circuito de duplas se cruzaram no caminho dos espanhóis, deu-se o fim da história bonita, a história que quase todos queriam contar e viver, mas que não resistiu à dura realidade.

Rafael Nadal e Carlos Alcaraz estão fora do torneio olímpico de pares, já a cheirar as medalhas, eliminados pelos norte-americanos Rajeev Ram e Austin Krajicek, por claros 6-2 e 6-4. Os dois não fazem dupla normalmente, mas são dos melhores jogadores da variante da atualidade, vencedores de torneios do Grand Slam, inclusive. Chegaram a Paris como quartos cabeças de série. E confirmaram esse estatuto num Philippe Chatrier cheio, que até ao fim deu força à história que queriam ver.

NurPhoto

Desde cedo que foi notório que Nadal e Alcaraz teriam tarefa bem complicada, não por problemas físicos, cansaço, mas sim por pura habilidade e habituação ao jogo de pares. Ram e Krajicek estiveram sempre muito mais à-vontade com as deambulações e pequenas sociedades que são exigidas a uma boa dupla, implacáveis no jogo de rede e seguros no serviço. Quebraram logo os adversários no jogo de entrada.

Quando a dupla norte-americana estava a servir para fechar o encontro, veio ao de cima a competitividade imensa dos espanhóis, com o público a levá-los. Desistir não era uma opção, mas os break points disponíveis não foram aproveitados. E os norte-americanos fecharam mesmo o duelo, para seguir para as meias-finais. A primeira coisa que Nadal fez depois de confirmada a eliminação foi acercar-se de Alcaraz e colocar a sua cabeça no seu ombro. Abraçaram-se, depois sorriram.

O jornal “Marca” fala em “drama nacional”, até porque o medalheiro espanhol está um pouco vazio: com quase uma semana de Jogos, Espanha tem apenas uma medalha de bronze para mostrar. Mas, mais que isso, é o futuro. Porque este pode muito bem ter sido o último encontro de Rafael Nadal, que em singulares caiu frente a Novak Djokovic. Pela forma enérgica com que festejou cada ponto, o entusiasmo que colocou em cada jogada nesta caminhada de pares, Nadal parece ter vontade para mais. Ou, por outro lado, apenas quis viver intensamente os seus últimos momentos num court, para mais ao lado de Alcaraz.

O maiorquino já disse que uma decisão final sobre o possível adeus será pensada depois dos Jogos Olímpicos. Uma medalha com Alcaraz seria um lacinho inesquecível para uma carreira onde ganhou tudo. Mas, se acabou por aqui, foi bem bonito.

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