Pan Zhanle, o “peixe-voador”, “misterioso e enigmático”, é o homem mais rápido de sempre a nadar os 100 metros livres
MANAN VATSYAYANA
Aos 19 anos, o chinês venceu uma das provas estrela da piscina, conseguindo o ouro com estrondo, à boleia do primeiro recorde mundial na natação de Paris 2024. Deixando a lenda Chalmers para segundo e Popovici, outro fenómeno, para terceiro, Zhanle deu sequência ao que já fizera nos passados Mundiais, cumprindo a promessa que, então, deixara
Tens 19 anos. Acabas de ganhar o título mundial de 100 metros livres. Fixas um novo recorde do mundo. É o teu momento. E o que dizes?
“Acho que posso nadar mais rápido. Isto é só o início. Agora é Paris.”
Foi Paris. A ambição de Pah Zhanle, expressa em fevereiro após brilhar nos Mundiais de Doha, teve justificação agora.
Tem 19 anos. Acaba de ganhar o título olímpico dos 100 metros livres. Fixou um novo recorde do mundo: 46,40 segundos, abaixo dos 46,80 segundos de Doha. Ele tinha razão.
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Frases curtas e diretas talvez sejam as melhores para descrever Pah Zhanle. Não só porque o chinês adolescente é o mais rápido de sempre nos 100 metros livres, mas também porque esta natureza de escassas palavras talvez seja a que casa melhor com a personalidade que ele parece ter.
“Parece.” Parece porque, na verdade, pouco se sabe sobre a personalidade de Zhanle, pelo menos na imprensa ocidental. Sabemos que os compatriotas o chamam “peixe-voador”, que há muito é um prodígio, que nada rápido, muito rápido. E sabemos pouco mais.
Na reportagem em que fazia a antevisão desta prova, o “L'Équipe” descrevia-o como “misterioso e enigmático”. “Talvez seja o recordista mundial de que menos se sabe”, lia-se. É como se Zhanle quisesse que fosse a piscina a falar por ele. E, nela, ele é de uma velocidade assustadora, potenciando da melhor forma os seus 1,90 metros.
Atrás do chinês, aparentemente perto mas longe, sem argumentos competitivos, chegou Kyle Chalmers. O australiano chegou à sétima medalha olímpica, cumprindo uma nobre tradição: nunca terminou uma corrida de 100 metros livres num grande campeonato fora dos dois primeiros lugares.
Chalmers não foi campeão, mas, para ele, terá sido uma prata especial, um prémio para um nadador que parece resistir a tudo: três cirurgias para debelar uma doença cardíaca no início da carreira, um problema de discos degenerativos na coluna, uma operação ao ombro mesmo antes de Tóquio, uma operação ao tornozelo em 2023, problemas de saúde mental dos quais não se coíbe de falar, desejando que “para a próxima geração seja mais fácil não ter medo de falar”.
“Se precisas de parar, pára.”
Ah, e o futebol australiano. Obcecado com uma das modalidades mais populares do seu país - ou aussie rules, como lhe chamam - o grande sonho de Kyle sempre foi ser profissional de futebol australiano. Depois de Tóquio, disse mesmo que ia deixar a natação para se dedicar a essa paixão, falou com clubes, mas aperceber-se que deixaria de ser um atleta olímpico para ser um nome secundário numa equipa fê-lo mudar de ideias. Ainda assim, contraiu uma lesão, já em 2024, a jogar futebol australiano “na brincadeira”, confessou.
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Houve, ainda, o brilho do romeno David Popovici, o estudante de psicologia da Universidade de Bucareste que, aos 19 anos, já tem duas medalhas nestes Jogos. O rapaz que começou a fazer natação aos 4 anos, por recomendação de um doutor para corrigir um problema de escoliose, confirma o seu talento.
Só que a glória maior foi para Pah Zhanle. Talvez, depois deste ouro, dê mais entrevistas que não a órgãos de comunicação social chineses, se façam documentários sobre ele, se entenda quem é este “peixe-voador”.
Para já, fica-nos o ar focado, o toque de mistério e segredo, o festejo do triunfo efusivo. E a velocidade, a incrível velocidade que atinge na piscina. Nunca houve alguém tão rápido nos 100 metros debaixo de água.