Diogo Ribeiro: “Não perdi nada, sinto que ganhei experiência e uma lição: preocupar-me com a minha prova e não com a dos outros”
JOSÉ SENA GOULÃO/Lusa
Após ser o 16.º nas meias-finais dos 50 metros livres, o jovem nadador foi auto-crítico, assumindo que esteve “sempre” a “pensar nos outros” enquanto nadava. Sublinhando, várias vezes, a “aprendizagem” que está a ter, aponta baterias aos 100 metros mariposa: “Tudo é possível. Tanto posso chegar à final e fazer medalhas, como não passar da primeira fase.”
Diogo Ribeiro é, nestes Jogos Olímpicos, uma esponja. Absorve tudo, esforça-se para aprender e apreender. Está num mestrado acelerado, um curso intensivo que já envolveu saídas na primeira eliminatória, passagens inesperadas, lições de como lidar com a frustração e as emoções.
Neste programa de luxo, nesta sala de aulas que é a La Défense Arena, a noite de 1 de agosto foi mais uma primeira vez. A estreia numa sessão noturna da natação, quando se disputam finais e meias-finais, quando o público parece rebentar as paredes com barulho.
“Sempre foi um sonho para mim estar nuns Jogos Olímpicos. Se for para nadar de tarde, ainda melhor”, confessa Diogo na zona mista. Passaram talvez dois minutos do final da prova dos 50 metros livres, onde foi 16.º. O corpo ainda está cheio de água, os seus pertences pessoais são segurados por Diana Gomes, nadadora de Atenas 2004 e Tóquio 2008 e adida olímpica.
O cloro ainda está nos olhos do jovem de 19 anos, mas ele já aponta para o próximo dia. “Quero voltar a nadar de tarde e quero nadar uma final”, dispara. Os 100 metros mariposa, a sua prova, têm eliminatórias já às 10 da manhã de sexta-feira, umas 13 horas depois de Diogo ter saído da água.
Nos 100 mariposa, garante, “tudo é possível” e ele sabe-o. “Tanto posso chegar à final e fazer medalhas, como não passar da primeira fase.”
Neste mestrado, Ribeiro recusa-se a dar esta saída de cena nos 50 metros livres como uma derrota, como um produto de política de terra queimada, um momento do qual nada se colhe. Farta-se de repetir a palavra “aprendizagem”, usa-a abundantemente, uma e outra vez.
“Por mais que não tenha passado para a final, não perdi nada, sinto que ganhei experiência e uma lição: preocupar-me com a minha prova e não com a dos outros”, explica. Enquanto nadava, Diogo terá matutado em demasia sobre que tempos estariam a ser feitos, quem estaria onde, esteve “sempre” a “pensar nos outros”. A “chegada”, isto é, os últimos metros deste sprint, desta piscina única que se faz, também não foi do agrado de um jovem de 19 anos extraordinariamente auto-crítico.
O pupilo de Alberto Silva mostra uma anormal lucidez para quem acabou de realizar um esforço tão intenso, para um miúdo de 19 anos que acaba de competir em frente a esta colossal arena, a esta cratera com água no meio.
Refletindo sobre as diferenças entre o Diogo de hoje e o Diogo antes de vencer dois ouros nos Mundiais de fevereiro, assume que são “dois Diogos diferentes”. Ganhar um ouro num mundial “muda um bocado alguma coisa”, mas ele não sabe se “para melhor ou para pior”, só tem a certeza que tem “mais olhos” em cima e que, ele próprio, se coloca “mais pressão”.
Agora, a pouco mais de uma noite de sono de distância de voltar a este palco, o adolescente transporta um “sabor amargo”, mas é “esquecer e focar nos 100 mariposa”. Com uma certeza: “Levo experiência, nunca se perde nada.”