Jogos Olímpicos de Paris 2024

Sem traumas, nem traumatismo, Yolanda Hopkins voltou ao mar e perdeu. Depois de Teahupo’o haverá Los Angeles

Sem traumas, nem traumatismo, Yolanda Hopkins voltou ao mar e perdeu. Depois de Teahupo’o haverá Los Angeles
BEN THOUARD

A portuguesa que restava na prova de surf olímpica, que retomou após dois dias de interrupção, foi eliminada nos oitavos de final. Após sofrer, e recuperar, de uma concussão, Yolanda Hopkins não somou pontos suficientes para ultrapassar a costa-riquenha Brisa Hennessy em Teahupo’o

A um bom quilómetros da costa ou quase, ela e Brisa Hennessy saltam de um barco diretamente para a água salgada, descrito assim é supimpa, poderia ser um retrato de uma cacholada de férias, então no exótico do Taiti mais ainda. O quadro pintado lá atrás em terra, uma cordilheira de picos verdes com nuvens no teto, acentuava a impressão, só que ela e a costa-riquenha tinham acabado de se atirar ao mar com fatos postos, licras vestidas e uma prancha a ampará-las com flutuação.

No final de um dia farto de ação, emoções e contracurvas portuguesas nos Jogos Olímpicos, a noite de quinta-feira devolveu, finalmente, o surf às águas da Polinésia Francesa, lá bem longe, com a tempestade a dar descanso a Teahupo’o e a onda, mesmo de feitio murcho, a proporcionar ondas de tamanho suficientemente assustador para Yolanda Hopkins talvez ainda pensar no susto do qual recuperou, mas não se terá esquecido: 48 horas antes, a portuguesa não tinha aval médico para competir devido a uma pancada que lhe causara uma concussão. Foi a própria a admiti-lo, estimando a bonança no adiamento causado pela intempérie.

No oitavo e último heat da terceira ronda, estava programado que defrontasse Hennessy, surfista com outra quilometragem, com experiência de circuito mundial de surf, que viu a algarvia cedo arrebitar a disputa com uma onda com caráter, com vincou duas manobras para levar 6.33 pontos, melhor do que qualquer uma surfada nas horas prévias por alguma das 14 mulheres que já tinham atirado ao mar. Yolanda começava com força, decidida, não estava ali de férias.

A ventania soprava carneirinhos no mar de Teahupo’o, por vezes a onda cujo nome se traduz em “parede de caveiras” ou uma variação parecida abria as mandíbulas com maior finco, aí assustava, se à distância arrelia imagine-se lá, bem na boca do animal aquático e as dentuças de um fundo de coral afiadas à espera, nem a um metro de profundidade.

Parece por vezes, e com razão, que Yolanda Hopkins hesitou no último terço do heat, com os minutos a fugirem-lhe e ela necessitada de uma nota na casa dos cincos pontos, depois seria de uma na dos seis, aos poucos a costa-riquenha asseverava as necessidades da portuguesa mas sobretudo fê-lo após apanhar um tubo que a retribuiu com 7.67 pontos. Dentro dos mesmos 30 minutos surgiam duas ondas melhores do que todas as surfadas nas três horas e meia anteriores. O mal de Yolanda foi a sua ser apenas a segunda.

A loira, sorridente e prudente surfista, de 26 anos e saída há três, de Tóquio, com um 5.º lugar e respetivo diploma olímpico, andou a perseguir o prejuízo na maioria do tempo: não voltou a achar uma onda de parede estável e aberta como a que lhe valera a sua melhor pontuação, nem se aventurou, com o seu capacete, para dentro de uma das grutas que algumas massas de H2o com Na escancararam sorrateiramente, como armadilhas a convidarem ambas as mulheres a tentarem a sua sorte. Mesmo num dia murcho, ventoso e inconstante, Teahupo'o assusta bastante.

Yolanda Hopkins não temeu lá regressar, mesmo com o traumatismo craniano sofrido um par de dias antes. “Todos os que me conhecem sabem que ontem teria sido a primeira dentro de água!”, escreveu, ao anunciar que os médicos não a teriam deixado competir no dia em que uma pancada na cabeça resultou no diagnóstico. Além do surf, que tem muito, é a atitude que distingue a portuguesa, a sua sede por mais, por ir e fazer melhor do que as outras. Mais uma vez, Yolanda foi a melhor de Portugal no surf olímpico e agora é reajustar a mira para Los Angeles. A ir lá, de certeza que não irá de férias.

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