Passaram 31:15 minutos do momento histórico em que Remco Evanepoel cortou a meta no Trocadéro. A cerimónia de entrega de medalhas já se prepara, a zona mista perto da chegada da prova em linha de ciclismo masculino vai-se esvaziando. O interesse mediático desvanece-se, os principais corredores vão-se embora.
Bem, mais do que os principais corredores, o mais correto será dizer que todos se vão embora. Todos menos um, qual aldeia gaulesa que resiste ao domínio romano.
Passados 31:15 minutos do final da prova de Evenepoel, alguém corta a meta. É Charles Kagimu. Está com ar exausto, como se não lhe restasse um pingo de energia, como se não houvesse qualquer esforço mais a fazer. Parece um homem esgotado, seco de capacidade para dar mais.
Solitariamente, o ciclista de 25 anos corta a meta. É o último, e o último por alguma margem, o último a quase cinco minutos do penúltimo. Mas acaba a corrida, faz os 272,1 quilómetros, uma distância muito maior do que alguma vez fizera na vida. Jamais disputara uma competição tão longa, mas aqui está ele, concluindo-a.
Apreciando o esforço, vendo aquele solitário do Uganda a chegar com a Torre Eiffel ao fundo, o público aplaude. Aplaude muito, mesmo, aplaude como talvez só tenha aplaudido Evenepoel, Madouas e Laporte, os medalhados. Kagimu pára a bicicleta, encosta-se a ela, procura um apoio depois de tamanha epopeia. E sorri.
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