A serenidade e segurança de Fernando Pimenta já estão nas meias-finais dos Jogos Olímpicos
OLIVIER MORIN
Dominando, de princípio ao fim, a sua série de eliminatórias do K1 1.000 metros, o português foi o mais rápido e já está na próxima fase. As meias-finais e a final são a 10 de agosto
Há uns patinhos que teimam em ser protagonistas na manhã da canoagem. Não parecem espantados com o vigor das pagaias e aproximam-se das embarcações, levando a sorrisos de quem está perto da bancada.
Além dos patinhos, também o ruído é protagonista neste centro náutico. Mas nada, nada disto, parece inquietar ou perturbar Fernando Pimenta. O limiano prepara-se para o seu heat sereno e tranquilo, com a pala do chapéu para trás, o olhar colocado no final do quilómetro que tem de percorrer.
Sem surpresas nem sobressaltos, Pimenta ganhou a sua eliminatória. Cortou a meta em primeiro com contundência, sem quaisquer riscos de não cumprir esta passagem que, a ver pelo seu festejo contido, foi uma mera formalidade.
O arranque de Pimenta foi logo forte, não deixando dúvidas sobre a sua vitória na séria. Para já, o primeiro passo está cumprido, este pró-forma olímpico foi ultrapassado.
OLIVIER MORIN
Em Vaires-sur-Marnes, uns 30 quilómetros a este de Paris, começou uma participação olímpica que poderá trazer um feito inédito para Portugal. Jamais alguém ganhou três medalhas em Jogos e é esse o feito ao qual Fernando Pimenta, 34 anos, faz mira.
O porta-estandarte nacional, em conjunto com Ana Cabecinha, interrompeu, por algumas horas, a sua preparação intensa com mira apontada a Paris para participar na parada de atletas no Sena. De seguida, voltou para Portugal, regressou aos seus treinos intensos e silenciosos. Chegou definitivamente a Paris só há três dias.
Hélio Lucas avisou-nos que “o mais importante era chegar bem às meias-finais”, alertando para a dificuldade desta primeira prova, deste contacto inicial com a competição. “O nível da canoagem tem subido imenso”, é uma frase que Pimenta vai repetindo ao longo dos últimos meses.
A manhã em Vaires-sur-Marnes é cinzenta. Há, até, alguns pingos de chuva, molhando quem faz a longa caminhada entre a estação de comboios mais próxima e o centro náutico. É uma maré humana que se desloca bem cedo em direção das bancadas, movimentando-se entre as ruas de casas suburbanas e pacatas.
No grande concerto internacional dos Jogos Olímpicos, a maior parte das competições são, na verdade, concentrações de nichos de países. Entra-se no ténis de mesa e é uma cimeira asiática, cheia de chineses ou coreanos; vai-se ao judo e descobrem-se todos os georgianos ou azeris que há em Paris; chega-se à piscina e é um universo onde se fala inglês, cheio de australianos e norte-americanos; o atletismo é a exceção, o mais universal e diverso dos cenários.
A canoagem, por seu turno, é um micro-clima mais europeu. No comboio para Vaires-sur-Marnes há muitas bandeiras alemãs — palmas para o jovem com uma camisola de Niclas Füllkrug que antes das 9h já virava cervejas — e húngaras, países que, entre eles, venceram 13 medalhas na canoagem em Tóquio 2020. Mas há, também, bandeiras portuguesas, omnipresentes nestes Jogos, ainda para mais quando aqui estão várias das melhores opções de medalhas nacionais.
Está, sobretudo, um canoísta lendário que aponta à história. A algo inédito. Esse pico poderá ser atingido na manhã de 10 de agosto, quando se discutirão as meias-finais, primeiro, e a final, logo de seguida.