Jogos Olímpicos de Paris 2024

A homenagem dos Jogos à “lenda” Fernando Pimenta foi um conforto que uniu nacionalidades e teve aplausos, lágrimas e abraços especiais

A homenagem dos Jogos à “lenda” Fernando Pimenta foi um conforto que uniu nacionalidades e teve aplausos, lágrimas e abraços especiais
OLIVIER MORIN

Quando o canoísta foi ter com a família após a final de K1 1.000 metros, um mar de gente — portugueses e não só — aguardava-o, dedicando-lhe um longo aplauso. Entre cumprimentos especiais à mulher, aos filhos ou a Teresa Portela, Fernando Pimenta esteve muitos minutos a receber e retribuir o carinho de franceses, belgas, espanhóis, canadianos ou alemães, num tributo que evidencia o enorme respeito — do público e dos restantes canoístas — pelo duas vezes medalhado olímpico. Após as lágrimas logo após a prova, o limiano sorriu

Fernando Pimenta já tivera algum tempo para digerir o doloroso 6.º lugar na final de K1 1.000 metros. Já se sentara nas margens da água, já falara na zona mista. Cumpridas essas formalidades, foi ter com quem queria ver.

Caminhou durante uns 200 metros, saindo da zona reservada a quem tem credencial. A ideia do canoísta era ir abraçar a mulher, ir ver os filhos, os filhos de quem passa tanto tempo afastado. Mas, ao passar a segurança e chegar perto das bancadas onde está o público, um cenário extraordinário aguardava Pimenta.

Não era só a família de Fernando que o esperava, não eram só os amigos de Ponte de Lima que estavam ali. Estava gente, muita gente, portugueses e não só. Quando o duas vezes medalhado olímpico apareceu à vista de todos, deu-se, espontaneamente, um prolongado aplauso. As palmas ecoaram enquanto Pimenta se unia num abraço com a sua mulher, um momento de lágrimas e consolos mútuos.

Seguiu-se o encontro com a Margarida e o Santiago, os “filhotes”. Ele, o mais pequeno, ficou bastante tempo ao colo do pai.

Um momento deu correspondência visual ao triunfo que Pimenta, na zona mista, disse ter, uma vitória que vale mais que as 145 medalhas internacionais: “Um atleta não é só feito de resultados desportivo. É feito de legado, de personalidade e de outra coisa que tenho vindo a construir, que é uma família. Há atletas que constroem uma grande carreira desportiva, mas não constroem uma família e eu, felizmente, estou a construir uma família bonita e sólida. Essas são as medalhas mais importantes que posso ter”.

No mundo da canoagem, muita gente trata Fernando Pimenta como “a lenda”. Admiram-lhe a consistência, a regularidade, a capacidade de ganhar em distâncias curtas e maratonas.

Enquanto o limiano está na zona mista, a histórica neo-zelandesa Lisa Carrington, acabada de vencer o oitavo ouro olímpico da carreira, dá um toque de conforto ao português. É um de muitos sinais de respeito para com Fernando Pimenta no começo de tarde.

Está calor, muito calor no estádio náutico. Mas, depois do aplauso, da emoção com a mulher e dos abraços, o cortejo de pessoas que quer cumprimentar o canoísta, dizer-lhe que este 6.º lugar em nada afeta o seu legado, mostrar-lhe um pouco de carinho, é impressionante.

Dezenas e dezenas e dezenas de pessoas procuram, simultaneamente, confortar e felicitar Pimenta. Há um toque de admiração e outro de empatia em toda a cena.

HUGO DELGADO/Lusa

Diversos canoístas espanhóis dão abraços e palavras de conforto a Fernando Pimenta. Vão lá, também, canadianos acabados de assistir à cerimónia de pódio de Katie Vincent, outra campeã olímpica da manhã, vão lá alemães. Muitos alemães, mesmo, entre atletas, dirigentes e adeptos.

A certo altura, vê-se um francês a passar. Tem um chapéu com as cores gaulesas no qual, a um canto, está um autógrafo de Fernando Pimenta. Algo semelhante sucede com um polaco.

Este reconhecimento foi algo a que Fernando Pimenta fez referência na zona mista. O português disse que, recentemente, muitas pessoas lhe disseram que “grandes ícones” da canoagem mundial, que chefiam equipas técnicas da Austrália ou Hungria, o chamam “a lenda”. “Eu olho para eles, digo que estes gajos é que são campeões olímpicos e eu é que sou a lenda”, comenta.

A mulher de Pimenta vai assistindo à longa espera de tanta e tanta gente para cumprimentar Fernando. O quadro chega a comover.

É habitual haver longos pedidos de selfies e autógrafos a quem ganha, mas não a quem ficou em 6.º. Há medalhados olímpicos de Paris 2024, mas não há dúvidas sobre quem é, ali, o protagonista. Outro abraço especial é trocado com Teresa Portela, parceira de tantos campeonatos, também ela pupila de Hélio Lucas.

O calor é intenso em Vaires-sur-Marne. A água, cristalina, não voltará a ser usada para estes Jogos Olímpicos. Fernando Pimenta, depois da tristeza do 6.º lugar, sai de Paris com este banho de carinho e respeito. E sorri, cheio de tanto respeito e reconhecimento. Há lendas que não precisam de mais uma medalha, por muito que tanto a procurem.

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