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Paulo vai a Paris e confia apitar o jogo da medalha de ouro. É árbitro de râguebi, mas uma placagem quase lhe roubou a ida a Tóquio

Paulo vai a Paris e confia apitar o jogo da medalha de ouro. É árbitro de râguebi, mas uma placagem quase lhe roubou a ida a Tóquio
Aitor Alcalde - World Rugby
Pela segunda vez na carreira, Paulo Duarte, árbitro de râguebi português, foi um dos selecionador para apitar encontros do torneio de sevens dos Jogos Olímpicos de Paris. Há cinco anos residente do circuito mundial da variante de sete da bola oval, falou com a Tribuna Expresso sobre o que a sua nomeação significa e da inusitada mazela que quase o tirou da estreia em Tóquio, em 2021

Uma “contusão óssea subcondral”, na sua descrição científica e sem floreados, sugere mazela com gravidade, pelo nome alguma pancada terá sido o que para o árbitro é sugestivo de uma generosa pitada de azar, de estar no sítio errado à hora inconveniente. No râguebi onde o choque de corpos é natural e necessário, Paulo Duarte existe para apitar, um observador com poder de vigia às regras do jogo que, faz por estes dias três anos, estava “na posição certa para ver um ensaio” no Técnico-Belenenses quando, para evitar a tragédia contra a sua equipa, um jogador “lançou-se” e acertou-lhe na perna.

No instante, a cabeça de Paulo Duarte inundou-se de um temor. Os Jogos Olímpicos preocuparam-no, receou de imediato que o seu corpo, único supostamente não visado num campo de râguebi, o impediria de se apresentar como um dos árbitros selecionados para a estreia dos sevens no evento dos cinco anéis. “Toda a gente que percebe da coisa olhou para mim com um ar… ‘já foste’”, diz, ao recordar a bruta arrelia no momento. Faltavam cerca de três meses, o tempo urgia e os ortopedistas apelaram à cautela, que o árbitro fosse com calma e se mexesse pouco, “nada de aventuras”. O sonho a palpitar devido a uma placagem desesperada.

Paulo animou-se em tempos de real aversão a contacto um pouco por todo o lado, vivia-se a pandemia e o seu confinamento e as suas máscaras e a custo do seu esforço e do esvaziamento da carteira o árbitro dedicou-se, sem cerimónias, a tratamentos e fisioterapias e psicologias, porque não há corpo que possa se a cabeça não puder antes. Em boa hora, no verão lá esteve no Japão a ser o árbitro principal num trio de jogos do torneio masculino da variante do râguebi com sete jogadores e noutros três do quadro feminino, com um destaque: foi o responsável do apito no Ilhas Fiji-Grã Bretanha que atribuiu a medalha de bronze às mulheres do Pacífico Sul. Não houve máscara que tapasse os olhos antes banhados a lágrimas, então rasgadas com o contentamento.

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