Tiro, natação, badminton ou boccia: o guia das 10 modalidades que terão atletas portugueses nos Jogos Paralímpicos de Paris
Dean Mouhtaropoulos
Portugal vai estar representado por 27 atletas nos Jogos Paralímpicos, que começam esta quarta-feira, em Paris. Esta é uma apresentação dos nomes e uma explicação das regras e características de cada modalidade
Foi há 64 anos que o atletismo paralímpico integrou pela primeira vez o programa da competição rainha das modalidades para atletas com deficiência, os Jogos Paralímpicos, à época realizados em Roma, Itália.
Em 1952, surgiu o atletismo em cadeira de rodas, quando atletas com lesões na medula espinal participaram numa prova de lançamento do dardo nos Jogos de Stoke Mandeville. Posteriormente, a modalidade foi uma das primeiras, num total de oito, adicionada ao primeiro programa Paralímpico nos Jogos de Roma, em 1960.
O que diferencia a vertente paralímpica da olímpica do atletismo, além de na primeira não existirem as provas de corrida de obstáculos, marcha atlética, salto à vara, lançamento do martelo e a maratona, são os atletas. Paraplegia, tetraplegia e equivalente, amputação e equivalente, deficiência visual e cegueira, paralisia cerebral, deficiência intelectual, pessoas de baixa estatura são as diferentes classificações de agrupamento dos praticantes.
Os atletas competem de acordo com a respetiva classificação funcional em cada prova. Alguns com cadeira de rodas, próteses ou assento de arremesso, ou, no caso dos competidores com deficiência visual, podem ser acompanhados por um guia nas provas de corrida, ou orientados por um treinador nas provas de lançamento e salto.
As modalidades com portugueses
Com seis atletas, o grupo de atletismo é das mais extensas dentro da comitiva portuguesa na missão em Paris. Ana Filipe, (salto em comprimento), Carina Paim (400 metros), Carolina Duarte, (400 metros), Miguel Monteiro, (lançamento do peso), Mamudo Baldé (100 e 400 metros) e Sandro Baessa (1500 metros) são as apostas nacionais para os Jogos.
Foi apenas nos Jogos Paralímpicos de Tóquio, em 2021, que o badminton se tornou parte integrante do programa de modalidades. Apesar da sua estreia tardia, a modalidade já é disputada a nível internacional desde a década de 1990, com o primeiro Mundial nos Países Baixos, em 1998. Em 2019, um novo marco foi alcançado, quando o Mundial da modalidade decorrido em Basileia contou com a vertente Olímpica e Paralímpica na mesma competição.
O badminton paralímpico é estruturado para pessoas com deficiência física, sejam atletas de cadeira de rodas ou amputados. Para disputar a modalidade, os praticantes utilizam uma raquete para golpear o volante para o campo do adversário. As provas podem ser individuais, em duplas (masculinas e femininas) e mistas em seis classes funcionais diferentes, conforme o tipo de deficiência em causa.
Beatriz Monteiro, à direita da imagem, a cumprimentar um adversária nos Jogos de Tóquio, em 2021.
YASUYOSHI CHIBA
Em Paris, Portugal estará representado na modalidade pelos serviços da atleta de 18 anos, Beatriz Monteiro, que, apesar da tenra idade, já conta com uma participação paralímpica na sua carreira.
Praticado por atletas com um elevado grau de paralisia cerebral ou outras disfunções neurológicas, o boccia só apareceu em Portugal na década de 80, integrando o projeto paralímpico a partir de 1984.
As origens do jogo remontam à Grécia antiga. Com o passar dos séculos, o boccia progrediu através da expansão do Império Romano, tendo dado origem a outros desportos semelhantes, entre eles o bowling e a petanca.
O boccia consiste num jogo de lançamento, em que se lançam bolas de pele, (vermelhas vs. azuis) com o objetivo de se aproximarem ao máximo da bola-alvo (de cor branca). O atleta vencedor é aquele que, no final do jogo, contar com mais pontos, ou seja, com o maior número de bolas da sua cor o mais próximas possível da bola-alvo, comparativamente com o adversário.
Cada jogador inicia o jogo com seis bolas por parcial e cada parcial tem uma duração específica, em função das classes em jogo. A bola-alvo é a primeira a ser lançada, sendo que o jogador que efetuou esse lançamento possui também o primeiro arremesso.
Após os primeiros dois lançamentos, o jogador cuja bola estiver mais distante da bola-alvo joga de seguida. A partir desse ponto, a vez de efetuar o lançamento caberá sempre ao jogador que tiver a bola mais distante da bola-alvo em relação ao adversário.
No final do parcial, o árbitro identifica as bolas da mesma cor mais próximas da bola-alvo e determina a pontuação do parcial, atribuindo um ponto por cada uma das bolas de cor mais próximas.
O boccia é uma modalidade de pavilhão e pode ser jogado individualmente, a pares, ou em equipas de três atletas.
Em Paris, Portugal estará representado por sete atletas, o maior grupo de praticantes entre as dez modalidades que Portugal levará para a competição. Além das estreias no palco paralímpico de Ana Catarina Correia, David Araújo e José Gonçalves (acompanhados pelos técnicos Ana Raquel Costa, Rogério Araújo e Paulo Correia), os atletas Ana Sofia Costa, André Ramos, Carla Oliveira e Cristina Gonçalves (auxiliados pelos técnicos Maria Vieira, Sara Coelho, Agostinho Cardoso e Mariana Nunes) já são repetentes desta competição.
André Ramos, em 2021, a competir na prova paralímpica de boccia.
Christopher Jue
A canoagem paralímpica (ou paracanoagem) surgiu em 2009, por iniciativa da Federação Internacional da modalidade, sendo que o primeiro mundial foi disputado logo no ano seguinte, em Poznan, na Polónia. Desde então, a competição é disputada anualmente.
A canoagem teve a sua estreia paralímpica nos Jogos Paralímpicos Rio 2016.
A modalidade é exatamente igual à canoagem regular e permite que os atletas com deficiência física de todos os níveis a pratiquem. O único fator que difere as duas vertentes é o facto de, no lado paralímpico, o caiaque possui um fundo maior para dar mais estabilidade aos atletas.
Já o sistema de classificação e de categorização, à semelhança das modalidades paralímpicas restantes, baseia-se na capacidade funcional dos atletas, neste caso específico para pagaiar e para aplicar força na tábua de apoio dos pés, ou no assento, para impelir a embarcação.
Durante a missão em Paris, a comitiva portuguesa irá abordo dos navegadores Alex Santos e Norberto Mourão, sendo este último o detentor de uma medalha de bronze nos últimos Jogos realizados em Tóquio.
Norberto Mourão conquistou um bronze em Tóquio, nos 200 metros da categoria VL2, na qual foi vice-campeão mundial no mesmo ano.
Adam Pretty/Getty
O paraciclismo (ou ciclismo paralímpico) começou por ser praticado apenas por ciclistas com deficiência visual, que competiam com recurso a bicicletas de tandem, (bicicletas duplas que permitem a integração de um guia) sendo introduzido como desporto paralímpico em Seul em 1988.
Hoje, além de atletas com deficiência visual, a modalidade evoluiu de modo a incluir atletas com paralisia cerebral, amputações e outras deficiências físicas, recorrendo a bicicletas, triciclos, tandem ou bicicletas manuais, conforme a deficiência em causa.
Os atletas Luís Costa e Telmo Pinão serão irão levar Portugal até às pistas e estradas de Paris, ambos presenças fixas no mega evento desde a edição de 2016 no Rio de Janeiro.
O judo, que começou como uma arte marcial para exercitar a mobilidade, foi incluído no programa de modalidades nos Jogos Paralímpicos pela primeira vez em Seul, em 1988. No entanto, apenas nos jogos de Atenas (2004) foram incluídas pela primeira vez as categorias de peso femininas.
A modalidade é disputada por atletas com deficiência visual, cegos totais ou com baixa visão que são divididos em categorias de grau de visão e por peso corporal, à semelhança da vertente olímpica. O tempo de luta é de quatro minutos. Em caso de empate, o vencedor é decidido no Golden Score (ponto de ouro, em inglês), um prolongamento, saindo vitorioso aquele que pontuar primeiro.
As lutas decorrem sob as mesmas regras utilizadas no judo regular, mas com breves modificações. A principal diferença está no atleta iniciar sempre a luta já em contacto com o quimono do oponente, sendo que o duelo é interrompido quando os lutadores perdem esse contacto.
Djibrilo Iafa (menos 73 kg) e Miguel Vieira (menos 60 kg) serão os judocas portugueses que irão levar Portugal bordado no kimono para esta edição dos Jogos Paralímpicos de Paris.
Miguel Vieira conquistou a medalha de ouro nos Mundiais de judo de 2023, em Birmingham, nos -60 quilos
David Finch
Uma das oito modalidades paralímpicas primárias, paranatação foi uma das oito modalidades desportivas praticadas nos primeiros Jogos Paralímpicos, ocorridos em Roma, em 1960.
Os atletas, quer masculinos, quer femininos, são classificados conforme as respetivas capacidades funcionais para a execução de cada estilo (estilo livre, costas, mariposa, bruços e estilos). Os atletas são agrupados em diferentes categorias: deficiências motoras, visuais, ou intelectuais.
Os nadadores com um grau menor de funcionalidade física podem realizar a partida de dentro de água, em vez de saltar do bloco. No caso dos nadadores com deficiência visual, os atletas recebem o auxílio do tapper (um bastão com ponta de espuma), que sinaliza a proximidade das bordas para que o competidor possa realizar as curvas ou a chegada no final da prova em segurança.
A desbravar as águas de Paris, Daniel Videira (100 metros costas) Diogo Cancela, (400 metros livres, 100 metros mariposa e 200 metros estilos) Marco Meneses (50 metros livres, 400 metros livres, 100 metros costas e 200 metros estilos) e Tomás Cordeiro (100 metros costas, 100 metros bruços e 200 metros estilos) serão os nadadores que irão mergulhar por Portugal nesta edição dos Jogos.
Daniel Videira a nadar nos Mundiais de Paranatação de 2022, realizados na Madeira.
Octavio Passos
Nesta modalidade é possível observar-se atletas a levantarem o triplo do seu peso corporal. O powerlifting paralímpico é uma competição de supino que testa a força da parte superior do corpo do competidor. Existe apenas um tipo de prova dentro do halterofilismo, mas os atletas competem em diferentes categorias de peso.
O levantamento de peso, que serviu como precursor desta modalidade, fez a sua estreia Paralímpica nos Jogos de Tóquio em 1964. Já no powerlifting foi incluído como uma modalidade paralímpica apenas 20 anos depois, em 1984. Apenas 16 anos mais tarde, nos Jogos de Sydney 2000 é que a vertente feminina foi adicionada. Em Paris, a representação portuguesa estará a cargo de Simone Fragoso.
Atletas com deficiências físicas nos membros inferiores, de baixa estatura ou com paralisia cerebral são as diferentes categorias de agrupamento para as competições, além do género e peso corporal.
Simone Fragoso em competição.
Simone Fragoso
Em competições que podem durar até três horas, os atletas de tiro paralímpico têm a missão de efetuar uma série de tiros o mais próximo possível do centro do alvo.
A modalidade de tiro estriou-se nos Jogos de Toronto, em 1976.
Os atiradores competem em provas de carabina e pistola em distâncias que podem variar entre os 10 metros, 25 metros e 50 metros. Conforme a classe, os atletas competem de joelhos, de pé/cadeira de rodas/num assento de tiro, ou deitados de bruços. Além disso, os atletas de cadeira de rodas podem usar uma mesa de apoio para os cotovelos.
De olhos postos no alvo, Margarida Lapa (10 metros carabina) é o nome da única atiradora que integrará a comitiva portuguesa durante a missão até à capital francesa, nesta que será a estreia portuguesa da modalidade nos Jogos Paralímpicos.
Margarida Lapa durante uma prova de tiro.
Comité Paralímpico de Portugal
Natação, ciclismo e corrida. O triatlo paralímpico foi um das modalidades introduzidos nos Jogos Paralímpicos do Rio 2016, com a sua evolução e desenvolvimento a registar-se desde o primeiro mundial da modalidade em 1989, em Avignon.
Comparativamente à vertente paralímpica, onde os competidores têm 1,5 km de natação, 40 km de ciclismo e 10 km de corrida, os triatletas paralímpicos nadam 750 m, pedalam por 20 km e terminam a prova numa corrida por mais 5 km.
Na classe de atletas de cadeira de rodas, os atletas utilizam uma handbike (bicicleta movida apenas com recurso aos braços) para a segunda parte da prova, existindo auxiliares nas áreas de transição de segmentos. Por sua vez, os triatletas com deficiência visual são acompanhados por um guia durante todo o percurso e utilizam o tandem no segmento de ciclismo. Nas classes restantes, os atletas podem utilizar próteses ou fazer modificações na bicicleta conforme a deficiência.
Filipe Marques é o triatleta que irá representar Portugal em todo o terreno e será a primeira vez em que o nosso país irá estar presente nos Jogos Paralímpicos com esta modalidade, uma estreia a par do tiro.