Aos 31 anos, a atleta do Reino Unido vai participar na competição de tiro com arco dos Jogos Paralímpicos. No caminho até Paris fez adaptações técnicas e desenvolveu uma metodologia de treino que envolve cócegas. A ideia foi prepará-la para os desequilíbrios que os movimentos do bebé lhe podem provocar quando estiver em prova
Jornalista
Em “Brave - Indomável”, o epíteto português do filme animado da Disney, a protagonista é uma sobredotada atiradora. A flechas são guiadas pela pontaria até aos microscópicos locais que a personagem define como alvos. No entanto, a rapariga de encaracolados cabelos ruivos é reprimida pela família. Está por isso proibida de exibir o seu talento já que não se trata de uma arte que caiba na condição de mulher cujo propósito é fazer parte de um casamento arranjado.
O período medieval fantasiado não encontra paralelo na vida de Jodie Grinham, uma mulher de carne e osso que vai participar nos Jogos Paralímpicos. Os pontos comuns entre a britânica e a protagonista da película são a hábil capacidade no tiro com arco e os cabelos vistosos. As comparações ficam-se por aí, porque no mundo de Jodie é-lhe permitido o acesso a ambições alargadas e desafios que parecem impossíveis.
A atleta de 31 anos vai competir em Paris em busca de dar medalhas ao Reino Unido. Tem duas oportunidades para o fazer: ou se evidencia na prova individual ou guarda para a prova por equipas, disciplina na qual conquistou a prata no Rio de Janeiro. Qualquer possível logro será conseguido não a meio, mas na ponta final de uma gravidez de 28 semanas.
“Às vezes, os meus colegas brincam e dizem que me podem rebentar as águas no pódio”, partilhou com o “The Athletic”. Jodie Grinham tem tudo arquitetado para o caso do nascimento do filho se concretizar em solo francês. Não a incomoda o cenário de incerteza. Até ao momento em que a população do planeta ganhar mais um conterrâneo, está focada em competir e até o treino foi adaptado a pensar num bom resultado e na chance de alcançar uma rodela preciosa.
A atiradora de 31 anos, a participar pela segunda vez em Jogos Paralímpicos, não pode evitar pegar no equipamento necessário para enquadrar setas nos alvos posicionados até 70 metros de distância. Entre o coldre, o arco e toda a estrutura que o suporta, segundo o “The Telegraph”, Jodie terá que segurar 28kg. Além dessa adversidade, os movimentos do bebé prejudicam o equilíbrio. Já contando com isso, durante a preparação, a sua treinadora abanou-a e fez-lhe cócegas de modo a simular as agitações do nascituro. Tudo isto levou a um necessário ajuste da técnica de tiro.
Não é a primeira vez que Jodie Grinham passa por um processo de gravidez. Em outubro de 2022, tornou-se mãe, sendo que, antes de concretizar esse objetivo, passou por três abortos espontâneos. Depois do nascimento do primogénito, voltou a viver a situação.
Jodie Grinham veio ao mundo com braços de comprimento diferente. Não tem mão esquerda, apenas meio-polegar, razão pela qual compete nos Jogos Paralímpicos. Está longe de ser o primeiro exemplo de mulher grávida a competir num certame desportivo tão reputado. O caso mais recente é o de Nada Hafez. Após participar na última edição dos Jogos Olímpicos, a esgrimista egípcia anunciou que competiu grávida de sete meses.
“Não estou a fazer isto como um statement, estou a fazer isto por mim. Se isso for o suficiente para as pessoas dizerem: 'Por que é que não posso fazer o mesmo?', então fantástico.”, disse Jodie ao “The Athletic”.
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