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Jogos Paralímpicos

Luís Costa continuará “sem patrocínios e sem clube” para “mais 4 anos de sacrifícios”. Ele já sabe “os nomes todos que dão às tempestades”

Luís Costa continuará “sem patrocínios e sem clube” para “mais 4 anos de sacrifícios”. Ele já sabe “os nomes todos que dão às tempestades”
ANTÓNIO PEDRO SANTOS
Teve o acidente que lhe roubou a perna em 2003 e até 2012 apenas fazia ginásio. Tinha músculos de sobra, mas, como bom alentejano, precisava do ar que as quatro paredes lhe roubavam. Aventurou-se na internet e pesquisou até dar de caras com uma bicicleta que era pedalada com os braços. Chegou a pedir ajuda pelo Facebook para poder comprar uma handbike adequada à sua condição. De lá para cá nunca mais parou. Em Paris cumpriu o seu desígnio, que foi resgatar “a um lugar para lá de todos os limites”

Completava-se a volta número 143 da corrida de Formula Indy em território germânico. Alessandro Zanardi abandonara as boxes e preparava-se para retomar a marcha quando perdeu o controlo do carro e foi atingido por um outro corredor italiano, Alexandre Tagliani. Após o trágico acidente, o atleta resolveu não largar o desporto. Hoje, 23 anos depois, o ex-piloto tornou-se num multi campeão paralímpico de ciclismo adaptado. Um exemplo que serviu de rastilho para Luís Costa, o atleta português de bronze em Paris.

Dois anos separaram os acidentes que ditaram os percursos dos dois atletas. Mas foi apenas em 2012, ao observar o exemplo de resiliência do atleta italiano, que Luís decidiu enveredar pelo caminho do desporto adaptado. “Comecei a pesquisar na internet. Não sabia o que era uma handbicke, não sabia nada. Vi que o Alessandro tinha uma dessas e ele não tinha as duas pernas. Eu não tinha uma perna, então comprei a handbike em alguns meses”, relembra.

Um acidente de mota. O ano era 2003. Luís Costa chega ao hospital sem saber o que poderia acontecer. A cada minuto a incerteza crescia. Não havia qualquer fratura. No entanto, uma artéria no joelho do futuro paraciclista tinha sido completamente esmagada no acidente. A perna começava o processo de gangrena e a amputação era o único caminho.

Uma semana após ter dado entrada no hospital, Luís abandoná-lo-ia como alguém novo. “Lidei de uma maneira que não é o normal. Existem aquelas cinco fases após um acidente grave destes. Desde a revolta à aceitação. Se tive revolta foi para aí durante 24 horas. No dia a seguir já estava apensar: arranjem-me lá uma prótese que eu tenho de ir trabalhar e tenho mais que fazer.” Mas o próprio assume que não foi assim tão fácil como faz parecer. Faziam apenas quatro meses desde o nascimento do filho. Foi a força que faltava. “Agarrei-me ao facto de ter o meu filho, muito bebé na altura. Não me vou a baixo com isto. Tenho o meu filho para criar, quero ser um exemplo para ele”, recorda.

Após os Jogos Paralímpicos de Londres e já com a bicicleta adaptada em mãos, Luís deu início aos treinos e às primeiras pedaladas na modalidade. Em março de 2013 já competia a nível nacional. Três meses depois já saboreava as estradas e pistas além fronteiras. Eis se não quando, por coincidência do destino, Luís se depara com o atleta em que se inspirou a começar no paraciclismo na primeira prova internacional em que compete, Alessandro Zanardi.

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