Jogos Paralímpicos

Tantas voltas quantas as que foram precisas para o bronze: Djibrilo Iafa conquista a sexta medalha para Portugal

Tantas voltas quantas as que foram precisas para o bronze: Djibrilo Iafa conquista a sexta medalha para Portugal
ANTÓNIO PEDRO SANTOS

No combate para atribuição do bronze, na categoria -73 kg, Djibrilo Iafa, que deu ao judo português a primeira medalha em Jogos Paralímpicos, bateu o brasileiro Harley Arruda por ‘waza-ari’, garantindo a Portugal o segundo pódio do dia, depois da prata de Sandro Baessa nos 1.500 metros de atletismo T20

Na Arena Champs-de-Mars, em Paris, com a Torre Eiffel sob vigia, onde na quinta-feira Miguel Vieira fechou com o sétimo lugar o torneio de -60 kg, após duas derrotas, a cerimónia que antecedeu os combates pelas medalhas brindou a plateia com um momento de dança contemporânea, ao som de ‘La bohème’, de Charles Aznavour e ‘Non, je ne regrette rien’, de Édith Piaf. Como se na boémia francesa não houvesse lugar a arrependimentos, também Djibrilo encarou o combate pela glória pela mesma bitola. Mas não foi tarefa fácil. “O combate estava dividido. Nós já nos conhecemos há uns anos e eu tive de me adaptar. Eu gosto de um judo com mais movimento, mas, quando vi que ele estava a defender, tive de me adaptar”.

A estátua de Jacques-Césaire Joffre, general francês durante a Primeira Guerra Mundial, que foi mantida dentro da arena, foi esculpida de forma curiosa. O cavalo que suporta aquele que viria a ser o primeiro marechal de a 3.ª República parece estar em movimento, enquanto o cavaleiro parece apontar numa só direção: em frente. Metáfora visual que o acaso operou, mas podia encaixar perfeitamente no desenrolar da história de Iafa nestes Jogos Paralímpicos.

ANTÓNIO PEDRO SANTOS

Djibrilo começou o torneio com uma vitória, por ippon, sobre o turco Gokce Yavuz, nos quartos de final, sendo depois derrotado, também por ippon, pelo alemão Lennart Sass, e relegado para as repescagens. No combate que dava acesso à luta pelas medalhas de bronze, o português que em Tóquio foi nono classificado e conquistou o bronze no Europeu de 2023, derrotou pelo mesmo ippon o francês Armindo Rodrigues, em apenas 21 segundos.

Naquele que seria o seu quarto combate do dia, as tentativas de ataque por parte do oponente foram escassas e a luta foi tática, sobretudo a defender. Djibrilo foi tentando suplantar as dificuldades com vários ataques, que apenas viriam a surtir efeito num erro do adversário. Com um waza-ari, o português passava para a frente do duelo. O último minuto acabaria por ser o mais aceso, pois cabia ao brasileiro recuperar da desvantagem. Golpe atrás de golpe, o atleta português foi contendo os avanços até o mostrador gritar pelo fim do combate. Ao suar do gongo, Djibrilo não cabia em si de contentamento. “Nem queria acreditar quando ouvi o meu treinador a dizer: já está! Portugal está de parabéns.”

O atleta, de 32 anos, natural da Guiné-Bissau chegou a Paris posicionado no sexto lugar do ranking mundial e conseguiu a sexta medalha para Portugal. “Se me perguntassem ontem quem seria o primeiro a conseguir a medalha, eu diria que seria o Miguel, mas o desporto é assim. Acabei por ser eu a conseguir, mas não foi só mérito meu. O Miguel ajudou-me imenso, os mestres do clube, a federação, o comité, a minha PT, muita gente.”

ANTÓNIO PEDRO SANTOS

Com o bronze de Djibrilo Iafa, Portugal passa a somar seis medalhas nos Jogos Paralímpicos de Paris, nos quais está representado por 27 atletas, que competem em 10 modalidades. A medalha de Iafa junta-se à prata conseguida por Sandro Baessa, nos 1.500 metros, aos ouros de Cristina Gonçalves no torneio individual do boccia B3 e de Miguel Monteiro no lançamento do peso, e aos bronzes do nadador Diogo Cancela, nos 200 metros estilos SM8 e do ciclista Luís Costa, na prova de contrarrelógio de estrada.

Portugal chegou esta sexta-feira, em Paris, à centésima medalha em Jogos Paralímpicos, com o bronze conseguido pelo judoca. As seis medalhas já conquistadas nestes Jogos, que terminam no domingo, juntam-se às 94 conseguidas nas 11 participações anteriores, sendo que apenas na primeira, em 1972, Portugal não somou subidas ao pódio.

Para terminar, com os olhos a sorrir, Djibrilo não esqueceu quem mais o ama: “Dedico esta medalha a Portugal. Dedico esta medalha à minha mãe, a senhora ontem mal dormiu a pensar nos combates de hoje.”

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