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Jogos Paralímpicos

“Amigo, isso da perna o que foi? Olhe, foi uma trombose”. Telmo Pinão diz adeus da mesma forma que decidiu encarar a vida: na desportiva

“Amigo, isso da perna o que foi? Olhe, foi uma trombose”. Telmo Pinão diz adeus da mesma forma que decidiu encarar a vida: na desportiva
ANTÓNIO PEDRO SANTOS

Telmo Pinão foi a Paris para competir em quatro provas. Cumpriu a promessa e ainda conquistou o primeiro diploma para Portugal ao terminar no sétimo lugar a prova de 3.000 metros de perseguição individual C2, disputada no Velódromo de Saint-Quentin-en-Yvelines. Despede-se da competição paralímpica, mas, como o próprio diz, “afrouxamos nas retas, pedalamos nas curvas”. O que se segue, estará para lá dessa mesma curva da vida

Tudo o que começa tem um fim. Atletas vêm, atletas vão, mas a última vez chega a todos. Paris será o local onde as pedaladas paralímpicas de Telmo Pinão irão terminar. Hoje, aos 44 anos, o paraciclista abandona estes palcos de consciência limpa. “Já antes de vir para cá, as minhas decisões estavam mais que tomadas. Uma decisão que já foi tomada há algum tempo, inclusivamente, quase imediatamente após Tóquio. Neste momento, tenho a certeza que estes são os meus últimos Jogos. Eu queria sair por cima e foi o que eu fiz. Estes diplomas deram-me isso”, ressalta o atleta natural de Coimbra.


Mas até chegar a Paris, Telmo atravessou continentes. O atleta figurou nas duas últimas edições do megaevento: Rio 2016 e Tóquio 2021. Uma paixão que aflorou através do amor de Telmo pelo desporto motorizado. “Desde sempre que fui louco por motas, em especial todo o terreno. Eu próprio tinha a minha, uma moto-quatro”, recorda.

Há quem lhe chame ironia do destino, há quem lhe chame azar. Aos 22 anos, um acidente de mota resultou na amputação da perna esquerda do futuro paraciclista. “A minha vida deu uma volta. Uma pessoa com 22 anos, com toda a dinâmica que tinha, toda a adrenalina que tinha, de repente, a vida tirou-me o tapete de baixo dos pés. Nesse momento, as questões começam a surgir.” As questões, as inseguranças, os receios. Existe uma fronteira que separa os dois universos vividos por Telmo, cada um deles com 22 anos. Há época, a adaptação não era tarefa fácil. “Era um corpo que numa fase inicial eu rejeitei. Um corpo que, quando me olhava ao espelho, via um monstro. E, de repente, tens que te adaptar a uma nova realidade”, explica.


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