Jürgen Klopp, o treinador que podia ser político. E se fosse? Não havia cá Brexit
Laurence Griffiths
Jürgen Klopp é treinador do Liverpool mas, na sua mais recente entrevista ao diário "The Guardian", passou mais tempo a criticar o Brexit do que a falar de futebol. A equipa de Anfield defronta esta terça-feira (19h45, SportTV1) a Roma na primeira etapa das meias-finais da Liga dos Campeões
Esta terça-feira o Liverpool recebe a Roma. Jogam-se as meias-finais da Liga dos Campeões e a equipa de Jürgen Klopp não se tem saído nada mal: até os galáticos meninos de Guardiola conseguiu eliminar (5-1 no conjunto dos resultados das duas mãos). O alemão que é calmo fora de campo e “uma cheerleader saltitante” em cima da linha branca que limita o campo - a caracterização é do diário "The Guardian", que o entrevistou -, fala de futebol como se esperava, defende os seus jogadores como se esperava, tece sonhos na Champions como se esperava, mas a maioria da entrevista é sobre algo que não se esperava: uma questão de política interna do Reino Unido que muito tem atormentado os restantes europeus, ou seja, o Brexit.
A vida em Inglaterra, nos arredores de Liverpool, mais precisamente na zona de Formby, verdejante e abastada, parece-lhe bem. Alergias à insularidade britânica? Nem por isso: “Ouvi dizer que os ingleses não são pessoas de olhar muito para fora, mais além, mas não vejo isso confirmar-se, de facto. Não posso dizer que a Alemanha seja um país mais aberto. Se falarmos com as pessoas erradas na Alemanha também nos dirão: ‘Sim, queremos um muro para não entrarem cá imigrantes e já agora, será pode ser tão alto como o de Berlim?’”.
A Europa, admite, “tem andado estranha” nestes últimos anos. A Áustria “empurra os imigrantes” para a “senhora Merkel” e “não é fácil ser líder nestas alturas porque não há uma solução que seja claramente a melhor”. Contudo, há uma que é claramente a pior: o Brexit. “Quando Cameron teve essa ideia eu pus-me a pensar: isto não é uma ideia que se tome assim num único momento. Somos influenciados pela forma como uns poucos argumentos nos são dados e depois de tomarmos uma decisão não há segunda tentativa. E a escolha é radical: ou ficas na Europa que não é perfeita ou sais e não fazes ideia como vai funcionar o país depois”, diz o treinador que mesmo assim diz que se houver dois jogadores semelhantes numa lista de possíveis contratações, um inglês e outro não, ele “vai pelo tipo inglês”.
Já vamos no quarto parágrafo de Klopp a dar lições de europeismo aos britânicos. “Os dois líderes principais das campanhas pela saída afastaram-se logo a seguir. Puro sinal de que eles mesmos ficaram surpreendidos com o resultado. Ok isto aconteceu. Mas, vá lá, vamos voltar a sentar-nos, vamos pensar de novo nisto e voltar a votar com a informação correta - não com aquela que andava por aí a circular durante a campanha do Brexit”, diz. E continua: “As pessoas hoje dizem: ‘ir fazer férias a Espanha é caro!’ mas só dizem isso porque a libra desceu muito. A União Europeia não é perfeita mas foi a melhor ideia que tivemos. A história sempre nos mostrou que é melhor permanecermos juntos. Quando nos separamos começamos à bulha. Por isso, para mim, o Brexit não faz qualquer sentido”.
Klopp reconhece que a exigência dos fãs do Liverpool é peculiar. “Os adeptos do Liverpool são uma grande família e não estão felizes por não ganharem um grande troféu há não sei quantos anos”, admite. Mais recentemente, o alvo tem sido Dejan Lovren, o defesa central que os fãs do Liverpool possivelmente empurrariam pelas portas de Anfield com as próprias mãos se pudessem. Mas também aqui Klopp se tem mantido fiel aos seus princípios e continua a apostar no croata - o que tem sido visto pela imprensa desportiva britânica como um indicador de que o alemão tem uma estratégia pensada para os sete anos pelos quais assinou e não vai quebrar facilmente perante a brutal pressão dos fanáticos fãs da bola que o Reino Unido produz. “Não me lembro da última vez que os fãs se mostram contentes com um guarda-redes e também com defesas, ou és o Sami Hyypia ou a tua vida fica complicada”.
Se não fosse treinador, Klopp teria sido médico - ou Presidente da Câmara de Mainz ou mesmo chanceler da Alemanha, que sabe. “Houve uma altura, em 2004, que eu poderia ter sido político por Mainz mas não tenho competências nenhumas, só o interesse na política”. E se pudesse parar o Brexit? “Hmmm, a Angela Merkel tem duas semanas de férias por ano, isso é menos que eu, decididamente essa não é a minha meta”, diz. “Além disso não é tão bem pago como ser treinador de futebol. Acho que fico aqui pelo Liverpool”, remata.