Liga dos Campeões

Liga dos milhões: o futuro só podia ser dos ricos

Liga dos milhões: o futuro só podia ser dos ricos
Anadolu Agency
As quatro equipas das meias-finais da Liga dos Campeões estão no top-10 das que mais receitas geraram, no último ano, e o combustível que põe três delas a funcionar vem de investidores estrangeiros e bilionários. É mais uma época em que o futebol é dos ricos e, na próxima segunda-feira, 19 de abril, a UEFA decidirá sobre o novo formato da Champions impulsionado por esses mesmos ricos

Não é acaso algum batizarem-na, há muito, de liga milionária. Um campeão dos tempos atuais é na maioria das vezes a mais endinheirada das hipóteses que haveria, à partida, de se agarrar a qual for o caneco em disputa, é assim nos campeonatos e taças nacionais, assim o seria na Liga dos Campeões que rima com milhões, coincidência pois claro, como o será a do Real Madrid, Manchester City, Paris Saint-Germain e Chelsea.

Entre os quatro clubes que restam na competição há outra simultaneidade, ou várias, mas a que os une em matérias de euros é a Money League, um estudo anual da Deloitte que ordena os clubes consoante as receitas que geram e assim os dispôs em 2020/21: os espanhóis no 2.º lugar (€714,9 milhões), os ingleses de Manchester em 6.º (€549,2 milhões), os franceses em 7.º (€540,6 milhões) e os londrinos na 8.ª posição (€469,7 milhões).

Os semifinalistas estão todos no top-10 - na fase anterior, o FC Porto era o único estrangeiro a este nível de riquismo, pois nem nos 30 primeiros está - destas contas e em campo, à vista de todos, ostentam o que de mais visível há nas vantagens de ter posses no futebol.

O dono do City é o apropriado City Football Group, detido na sua maioria por um fundo de investimento controlado, por sua vez, pelo Sheikh Mansour, membro da família real dos Emirados Árabes Unidos que tem esbanjado dinheiro no clube desde 2008 para o apetrechar de jogadores incríveis.

O Qatar Sports Investment, liderado por Nasser Al-Khelaifi, comprou o Paris Saint-Germain em 2011, desde então que eleva a fasquia do valor de um ser humano com jeito para jogar futebol e tem, de momento, os dois futebolistas mais caros de sempre (Neymar, €222 milhões, e Mbappé, €180 milhões) a atacarem a baliza de quem lhes surge à frente.

O Chelsea é o parente ancião deste tipo de atuação, em 2003 foi comprado por Roman Abramovich e logo começou o investimento milionário para contratar estrelas que, de outra forma, não teria, e assim tem escalado a hierarquia do futebol europeu, que é como quem diz a Liga dos Campeões, onde moram as receitas mais volumosas.

Sobra o Real Madrid, o mais rico clube como há poucos mais, porque não tem um bilionário, um oligarca ou uma empresa por trás com fortunas engrandecidas de forma um quê incerta, vindos de nações onde os direitos humanos não estão à mesa quando se discutem prioridades e com toda uma aparente intenção latente de trabalhar em prol do melhoramento da imagem pública dos donos do dinheiro.

Nos quatro que sobram nesta Liga dos Campeões, o clube que mais consuma o cortejo à prova - são 13 conquistadas e 30 presenças nas meias-finais em 51 participações - é quase o bom da fita, o lado purista do ser rico porque o Real Madrid ainda é detido pelos sócios, mesmo que fosse o mais puxador do elástico da inflação das verbas mexidas pelo futebol antes de se entrar na era de clubes virarem super-clubes pela mão de fortunas do Médio Oriente.

Todos estão incluídos entre os 246 pertencentes à Associação Europeia de Clubes (ECA, na sigla inglesa), que muito tem negociado com a UEFA para a criação de uma badalada Super Liga Europeia onde jogariam os históricos, os mais fortes, as supostas equipas que toda a gente quer ver, noção promovida por quem está por debaixo do guarda-chuva que são estas definições - os dirigentes dos clubes mais ricos.

É a entidade que está a bater-se por ter maior controlo do que na próxima segunda-feira, 19 de abril, deverá ser anunciado pela UEFA: um novo formato para a Liga dos Campeões, a adotar a partir de 2024, sem fase de grupos e com 36 equipas em vez das atuais 32, onde cada uma teria 10 jogos garantidos numa liga até 16 dessas equipas avançarem para a fase a eliminar.

Muito escreveram a “BBC”, o "The New York Times" ou a “The Athletic” sobre o que tal significará, se aprovado, para o futebol europeu.

Cada equipa participante passaria a ter 10 jogos garantidos, ao invés de seis, o total de partidas da prova aumentaria de 125 para 225 e o eventual vencedor precisaria de 17, não de 14, para se agarrar ao troféu. Mas a ECA, que não são apenas os ricos - por cada Juventus ou Manchester United que a integra, existe o campeão de Portugal ou da Estónia, por exemplo - embora a entidade seja encarada como tal, quererá mais.

A associação de clubes pretende, alegadamente, ter uma palavra a dizer nas receitas comerciais, nos direitos televisivos e como são geridos, pois desde 1992 (quando foi criado o formato atual da Liga dos Campeões) que estão a cargo da TEAM, uma empresa sediada na Suíça.

E pretenderia, também, que entre duas a quatro vagas na Liga dos Campeões fossem atribuídas a clubes com história na prova, que ficassem fora dos lugares de qualificação nos seus campeonatos internos - em suma, que os ricos lá estivessem por méritos de euros e não pelos louros desportivos conseguidos na temporada anterior.

Apertando o funil por onde terão de passar as equipas para estarem na competição que gera mais receitas televisivas, movimenta maiores lucros comerciais e paga quantias mais elevadas em prémios de jogo, a UEFA dificultará a vida a quem, à partida, tenha menores orçamentos para atacar a época desportiva.

Os ricos vão enriquecer, os 'pobres' vão tocar menos nos milhões e saber-se-á, a 19 de abril, se o futuro se encaminha mesmo para ser de quem mais tem.

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