No Juventus-Benfica, o futebol escolheu exibir o quão paradoxal consegue ser
Chris Ricco - Juventus FC
No arranque da fase de liga da Champions, o Benfica sofreu uma desfeita no melhor momento que teve no encontro contra a Juventus. O bis de Cecilia Salvai tornou inconsequente o golo de Lúcia Alves, marcado nos primeiros minutos do jogo (2-1)
Há uns tempos, quando ia a meio da rampa de lançamento, o Benfica chegou a parecer proibido de dar passos atrás, cumprindo o desígnio de ombrear com os clubes de topo no futebol feminino. Depois de uma histórica presença nos quartos de final da Liga dos Campeões de fruição condicionada pelo magnânimo Lyon, equipa que mais vezes venceu a competição, as encarnadas caíram num vácuo. Na temporada passada, ainda nas pré-eliminatórias, o Hammarby causou uma desfeita ao clube da Luz, afastado de uma prova que lhe oferece uma competitividade impossível de encontrar em Portugal.
Entretanto, Filipa Patão deixou de ser treinadora do Benfica e não se recupera da perda de uma pessoa que esteve nomeada para Melhor Treinadora do Ano e marcou presença na cerimónia da Bola de Ouro em 2024 de um dia para o outro. Ivan Baptista é quem está a tentar atenuar a transição que passou por solavancos na Supertaça, com a derrota frente ao Torreense, e uma rara perda de pontos no arranque do campeonato, diante do Racing Power. Por agora, o técnico parece estar num labirinto cuja derrota (2-1) na estreia na fase de lida da Champions só veio tornar mais desafiante.
Uma temporada de ausência inevitavelmente acicatou a vontade de regressar. Em 2025/26, ainda ninguém tinha andado aos pontapés à constelação esférica com que se joga a Liga dos Campeões antes do Juventus-Benfica, o mais madrugador dos jogos. Perante si, em Turim, as encarnadas tinham um afinador que lhes permitiria fazer uma análise crua quanto à viabilidade do tom adotado.
Jonathan Moscrop
Marcar o ritmo até parecia estar ao alcance. Beatriz Cameirão conseguiu acalmar uma difícil bola longa vinda da guarda-redes Lena Pauels. O proveito teve-o Lúcia Alves, que combinou com Nycole a adiantou o Benfica no marcador. É entre a esquerda e a direita e não entre a enfermaria e o ginásio, locais que as lesões a têm obrigado a frequentar, que os seus desempenhos se tornam apreciáveis. Porém, tinham passado apenas seis minutos de um jogo que, paradoxalmente, penderia para o lado de quem arrancou em falso.
A incansável Cristiana Girelli sugava os ataques da Juventus. Era a ela e a Amalie Vangsgaard que Diana Gomes e Carole Costa ficavam pregadas, motivo que tornava indefensável a segunda vaga das italianas. Barbara Bonansea tanto tentou encontrar alguém livre na área que viu essa necessidade suprida por Cecilia Salvai, autora do empate. Antes do intervalo, a posição irregular de Girelli anulou o 2-1 apontado por Bonansea. Não eram precisas mais demonstrações que, desde a respostas de Lena Pauels aos cruzamentos até ao controlo das referências por parte das centrais, o Benfica era pouco ágil a sacudir os problemas.
Christy Ucheibe entrou em campo para reforçar o setor recuado. O alívio sentido com a superioridade numérica no eixo serviu de sinal para o lançamento de Cristina Martín-Prieto. Lena Pauels poupou-se aos voos que foram a última barreira antes de novo golo da Juventus e a homóloga, Pauline Peyraud-Magnin, passou a ter que estar mais atenta.
Numa fase em que taticismo de Ivan Baptista, técnico de apenas 33 anos, em estreia na Liga dos Campeões, merecia elogios, o Benfica acabaria por sofrer no segundo paradoxo do encontro. Se é verdade que o Benfica chegou a merecer estar em desvantagem, no momento em que Cecilia Salvai bisou, aos 86 minutos, não era o caso. Sem tempo para responder, o único clube português em prova desperdiçou uma oportunidade relevante para somar pontos. Avizinha uma receção ao Arsenal, campeão em título.